Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Memórias de uma operária

[do release da editora]

Desde criança, Lijia Zhang criou o hábito de manter um diário. ‘Escrever sempre foi uma maneira de compreender a vida’, define a autora de A garota da fábrica de mísseis – memórias de uma operária da Nova China, que chega às livrarias com o selo Reler Editora. O lançamento será em setembro com a presença da escritora que também é jornalista e visita o Brasil pela primeira vez.

Publicado em vários países e festejado pela crítica, o livro não foi publicado na China. Na obra, Lijia narra sua busca pela liberdade política e familiar, no momento exato em que a China abre suas portas para o capitalismo. ‘Meus amigos e eu éramos muito jovens para perceber que o tédio poderia ser algo prazeroso, se comparado ao terrorismo político que nossos pais sofreram’, diz a autora que tinha apenas dois anos quando a Grande Revolução Cultural Proletária estourou na China, em 1966.

Ao mesmo tempo em que Lijia narra sua vida na ditadura comunista, o leitor acompanha as mudanças comportamentais na China dos anos 1980. Existem poucos livros sobre essa década, que não foi apenas de transformações para a economia da China, mas também para as pessoas do grande tigre asiático. ‘O mercado é inundado com memórias da Revolução Cultural, mas poucos são definidos na década de 1980. Uma época em que a China começou a se recuperar do seu passado traumático e deu início às mudanças. Com o tempo a China se tornou o que é hoje. Eu senti que tinha uma história interessante para contar e que iluminaria essa transição’, explica a autora.

‘Franqueza desconcertante’

Aos 16 anos, Lijia foi ‘arrancada’ da escola pela mãe para trabalhar em uma gigantesca fábrica de armamentos, de onde saíam mísseis desenhados para atingir os imperialistas nos Estados Unidos. A empresa estatal onde ela permaneceu por uma década, é um dos cenários do livro. Determinada a não ser mais uma trabalhadora inexpressiva, Lijia, uma chinesa que nasceu com cabelos encaracolados, foi buscar sua independência vestindo roupas ocidentais, estudando inglês e se graduando em uma escola técnica. Além disso, publicou artigos no jornal interno da fábrica onde trabalhou e assim, quando os protestos aconteceram na Praça Tiananmen, em 1989, ela liderou um grupo de manifestantes diretamente da fábrica, em Nanquim. Em 1990 casou com um escocês e com ele teve duas meninas.

Atualmente Lijia reside em Pequim, colabora para o Washington Times, The Independent, a Newsweek, The Observer, BBC, CNN e outros jornais, revistas e canais de TV e rádio. É co-autora (junto com o ex marido) de uma história oral da China contemporânea para a Oxford University Press.

‘Lijia Zhang é de uma franqueza desconcertante e tem uma dose precisa de humor’, destaca a jornalista Claudia Trevisan no texto da orelha de A garota da fábrica de mísseis. As memórias de uma nova operária da Nova China certamente vão agradar os leitores brasileiros.