Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O alvo certo

A propósito da nota ‘A imprensa escolhe o alvo’, publicada neste Observatório [remissão abaixo], a atenção especial da imprensa em relação ao senhor Kia Joorabchian é baseada em fatos. O iraniano (sim, ele nasceu no Irã e não há mal nenhum nisso) já foi associado com ninguém menos do que o senhor Boris Berezovsky, que conta com um histórico assustador de fraudes e transações financeiras predatórias.

As acusações e provas contra o magnata russo, um dos mais poderosos do mundo, vão muito além do interesse político de Vladimir Putin em prejudicá-lo, que realmente existe. Quem quiser mais informações sobre o assunto pode consultar o livro The Godfather of the Kremlin, do jornalista Paul Klebnikov, assassinado com quatro tiros em julho de 2004, em Moscou [veja remissão abaixo]. O então editor da versão russa da respeitada revista Forbes detalha em sua obra como Berezovsky fez fortuna. Infelizmente ainda não há versão em português, mas dá para encomendá-la na Amazon.com. [Leia matéria da Forbes sobre o caso em (http://www.forbes.com/free_forbes/1996/1230/5815090a.html)]

Só a possibilidade de Berezovsky estar no negócio [com o Corinthians] já deveria assustar, mas o próprio presidente do clube, Alberto Dualib, afirmou que há também Badri Patarkatsishvili, georgiano que, além do nome impronunciável, tem um currículo tão ou mais pesado que o de Berezovsky. Ambos já foram julgados na Rússia por desviar milhões da Autovaz, empresa que distribuía os carros Lada. O MSI nega (desesperadamente) qualquer ligação da dupla.

Falta de provas

É possível que o senhor Joorabchian seja realmente apenas um investidor bem-intencionado. Mas, a mera possibilidade dele ser o representante de magnatas poderosos querendo entrar no Brasil merece, sim, atenção da imprensa.

A nota, atacando o trabalho sério que muitos diários têm procurado fazer, mesmo estando sujeito a críticas de uma torcida apaixonada empolgada com contratações de craques, é leviano. Para escrever a respeito, o colunista deveria, pelo menos, se informar melhor:

‘Este colunista é corintiano. Não conhece o investidor Kia Joorabchian, não teve paciência para ler o contrato que sua MSI assinou com o clube, não sabe o nome dos investidores que integram a parceria’.

É o mínimo.

Argumentar citando exemplos em que a imprensa se manteve calada quando deveria levantar questões é ridículo. E apenas repetir o que o MSI tem dito é lamentável. Mas vamos lá:

** Berezovsky responde a acusações graves e conseguiu asilo político na Inglaterra, terra que costuma, por tradição histórica, tratar bem quem tem dinheiro.

** O ‘georgiano’ tem a polícia russa em seu encalço e é acusado de fortes ligações com a máfia chechena que operou em Moscou logo após a queda da URSS, e que ainda está ativa. Seu irmão é tratado como um ‘chefão’ local.

** A chegada de Joorabchian no Brasil representa muito mais do que lavagem de dinheiro. Comandar um time de futebol do tamanho e importância do Corinthians, além de ser um meio possível para fazer aportes financeiros no país sem se preocupar com retorno legitimando o que foi investido, significa também poder e influência. É só ver como o senhor Joorabchian já é tratado pela Fiel torcida.

** Joorabchian teve sim problemas com visto que fizeram com que uma investigação fosse aberta na Polícia Federal a pedido do Ministério do Trabalho. A investigação foi encerrada por falta de provas, segundo o próprio delegado que comandou o caso, Marco Antônio Veronese.

** O Bush é americano e, se não me engano, tem belos olhos azuis. E é o Bush, tratado como o Bush por qualquer publicação séria. Não muda nada.

Mais sobre a parceria também pode ser encontrado na última edição da revista Caros Amigos, que trata o assunto com a atenção devida. Aliás, surpreende que uma nota desse nível seja publicada em um centro de referência tão importante como o Observatório da Imprensa.

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Jornalista do diário Lance!