Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Dunga zangado com imprensa infeliz

É impressionante como algumas pessoas fazem questão de serem desagradáveis. Talvez por frustração, necessidade advinda de um egocentrismo tardio ou simplesmente pelo prazer de criar a discórdia e aparecer através de uma polêmica. E pior: parece que essa prática desagradável é ensinada como matéria nas faculdades de Jornalismo do Brasil.

A grande imprensa nacional está dando um show de cobertura da Copa do Mundo da África. Flashes ao vivo, equipes de plantão 24 horas, cobertura total e o melhor de tudo: todos os jogos sendo transmitidos ao vivo. Mas a primeira Copa em território africano resgata um antigo problema da nossa Seleção. Como pode uma Seleção Brasileira de futebol ir para a Copa e não se meter em nenhuma polêmica? É um absurdo. Lembro de 86, Zico sendo convocado e levado machucado para a Copa. Em 90, uma seleção totalmente desacreditada com o Lazaroni ao comando. E como esquecer a vitoriosa campanha de 94, onde somente a chegada de Romário no jogo contra o Uruguai acalmou a grande mídia nacional? Quatro anos depois, Romário chora e pinta Zico e Zagalo na porta do seu bar. A seleção perde de 3 para Zidane e companhia e surge a teoria da conspiração (e da convulsão). Felipão assume e fomos para a Ásia empolgados, mas com os pés no chão. Nada de favoritismo e, magistralmente, vencemos com o cabelo de Cascão do Ronaldo. Aliás, a maior estratégia de marketing em uma Copa de todos os tempos. Não se comentava de problemas na seleção, apenas do corte esquisito e horroroso do camisa 9. Em 2006, favoritíssimos. Quarteto mágico, badalação, futebol espetáculo, festa nos treinos, torcida no campo e gol de Henry… Weiser nunca mais sairá das nossas mentes.

Mas, e agora? Não tem polêmica? Tem, sim. Faltou o Ganso e o Neymar. Se perder, Dunga será culpado de não ter levado os ‘meninos da Vila’. A crítica da imprensa já está pronta para a derrota. Contudo, faltam ainda 45 dias para saber a colocação final da Seleção. Então vamos criticar os detalhes. Kaká discutiu com Felipe Melo. Crise? Não, Kaká abraçou o companheiro no dia seguinte. Droga.

A bola é sobrenatural. Pronto, polêmica. Não, o Kaká disse que eles já se acostumaram com a Jubilani. Próxima. Daniel discutiu com Júlio Batista. Agora temos uma crise. Felipe Melo vem estragar tudo. Dizendo que essa história de crise é uma grande palhaçada. Aí, o Dunga vira o Zangado e fecha o treino para a imprensa. Um absurdo. A seleção é do povo brasileiro, não do seu treinador. E tome críticas ao Dunga.

Que as vuvuzelas abafem o pessimismo

É impressionante como a crônica esportiva está ávida por um escândalo. Os jornalistas se apegam aos pequenos detalhes para criar uma grande polêmica com o scratch brasileiro. Com que propósito? Ganhar audiência? Aparecer com os furos de reportagem? Ou ainda, serem mais importantes que os jogadores convocados? Que pena…

Ouvi um comentário durante o jogo de abertura da Copa que, com certeza, reflete bem o que é a imprensa nacional. Dizia o repórter da TV Globo: Maradona levou seis atacantes e Dunga levou seis ‘cabeças de área’. Talvez a grande Argentina deva mesmo ser uma referência e servir de exemplo para o Brasil. Uma seleção que não vence nenhuma competição desde 1995, quando ganhou a Copa América. É o famoso ‘complexo de vira-latas brasileiro’, citado por um famoso corintiano de Garanhuns.

Deixem o Dunga fazer o trabalho dele. Sem polêmicas, sem crises, sem ‘disse-me-disses’, sem intrigas. Deixe o povo torcer por Kaká, sem falar que ele não está 100%. Elogiar o Luís Fabiano, esquecendo a má fase de seis jogos sem gols. E torcer para não ter de citar a falta do Neymar, como ausência fundamental para a desclassificação antecipada da nossa seleção.

O Brasil não precisa de polêmica, mas de torcida. Nada de pessimismo, sim de vibração positiva. E vamos procurar confiar no elenco atual. Afinal, foi a seleção desacreditada de 94 que conseguiu o tetra, e não a badalada de 82. Vamos, Brasil! Hexa neles. E que as vuvuzelas africanas abafem o pessimismo e as pseudo-polêmicas da imprensa nacional. E aproveitando, mando uma mensagem para o Dunga. Nietzsche já dizia: ‘quanto mais alto voamos, menores pareceremos, aos olhos daqueles que não sabem voar’.

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Analista de mercado, Salvador, BA