Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

A marca de David Broder

O ombudsman do Washington Post, Patrick B. Pexton, dedicou sua coluna [7/4/11] a David S. Broder, colunista e vencedor do Prêmio Pulitzer, que morreu no dia 9/3. “Lembro-me dele do tempo de escola, assistindo ao [programa de TV] Meet the Press nos domingos pela manhã, sentado com meu pai, antes de irmos à missa. Era o sóbrio e grisalho moderador Lawrence Spivak, com questões duras. Eram também os dias instáveis dos anos 60, quando a política parecia especialmente importante e o mundo estava mudando”, recorda.

Broder, que costumava participar do programa de debates, era um dos jornalistas com autoridade e que “fazia sentido em um tempo com pouco sentido”. Sempre calmo, explicativo e criterioso. “Depois que ele falava, o mundo não parecia mais tão misterioso ou caótico”, diz Pexton. O jornalista discursava sobre eleitores e políticos de maneira acessível e compreensível. As figuras públicas e ativistas políticos de Broder não eram celebridades ou ícones, mas sim pessoas de carne e osso engajadas no trabalho participativo da democracia.

Seu funeral, na semana passada, não foi em uma capela, mas no Clube Nacional de Imprensa, santuário da Primeira Emenda, e foi como se uma era tivesse terminado com sua morte. “Perguntar questões duras, investigar e analisar os assuntos do dia. Informar, educar e entregar aos leitores as visões dos eleitores e políticos de maneira direta, neutra, honesta, com respeito”, lembrou o filho do jornalista, George.

Para o executivo-chefe do Washington Post, Donald Graham, Broder era o melhor no que fazia e o melhor colega no mundo. “Era ético e o mais justo dos repórteres. Ele cometeu erros e ninguém foi mais meticuloso do que ele em se corrigir”, lembra. “Ele é, creio eu, insubstituível”, ressalta Dan Balz, repórter político do Post.

Qualidades reproduzidas

Na opinião de Pexton, a “era Broder” não deve ser encerrada. Certamente, suas qualidades não podem ser recriadas. Mas seu jornalismo, valores e ética devem ser replicados, encorajados e cultivados na redação do jornal, junto com os atuais valores de velocidade, agilidade e engajamento – que vieram com a era da internet. Nos EUA, para sobreviver a ela, jornalistas têm de adotar a linguagem, as técnicas e as tecnologias da cultura de celebridades. “É preciso formar ‘marcas’ para se diferenciar em um mercado de mídia altamente competitivo. Temos de tuitar para conseguirmos milhares de discípulos ávidos. Temos de ficar em frente a câmeras o máximo que pudermos, para que nossa marca seja mais facilmente reconhecida. Temos de escrever constantemente em blogs, para que ninguém pense que desaparecemos”, diz o ombudsman.

Antes disso, Broder era uma das marcas mais reconhecidas do jornalismo americano. Ele foi, claro, ajudado pela TV, e teve ambição. Mas o responsável por isso foi seu jornalismo de probidade. O que o tornou uma marca foi o poder e a solidez de sua cobertura. Seus passos devem ser nossos guias, defende Pexton.