O nome de Sakineh Ashtiani ficou conhecido depois de uma campanha na internet para que o governo do Irã a perdoasse de sua condenação. A iraniana de 43 anos enfrenta a pena de morte por apedrejamento por adultério e participação no assassinato do marido. O abaixo-assinado na rede, iniciado pelos dois filhos de Sakineh, repercutiu na mídia e, no Brasil, deu início a uma campanha para que o presidente Lula, que mantém boas relações com o presidente do Irã, lutasse por sua libertação – o que resultou, até agora, em um desajeitado diálogo diplomático.
Esta semana, a TV estatal iraniana exibiu uma entrevista com Sakineh em que ela ‘confessa’ seus crimes. Ela criticou seu advogado, Mohammad Mostafaei, dizendo que nunca o conheceu pessoalmente e que ele mentiu em seu nome para chamar atenção internacional sobre o caso. Disse também que sabia do plano para matar seu marido, mas que na ocasião não levou a ameaça a sério. De acordo com Sakineh, o primo de seu marido – com quem ela havia se envolvido – foi o autor do assassinato.
O âncora do programa aproveitou ainda para dizer que a imprensa ocidental deu destaque ao caso de Sakineh com o objetivo de garantir a libertação de três jovens americanos presos no Irã por entrar ilegalmente no país. Sarah Shourd, Shane Bauer e Josh Fattal teriam ultrapassado a fronteira quando faziam uma trilha na região do Curdistão iraquiano.
Técnica governamental
Segundo Mostafaei, as afirmações de sua cliente na televisão tiveram como objetivo ‘salvar sua vida’. Ele ressaltou que a sentença de morte que ela havia recebido pelo assassinato do marido foi comutada. ‘O canal que temos no Irã é completamente controlado pelo Ministério da Inteligência’, afirmou o advogado. ‘O objetivo deste canal é o assassinato de reputação. Ele tembém serve, através da produção de documentários cheios de mentiras e confissões, para justificar as ações ilegais do governo’.
Mostafaei deixou o Irã em julho depois de passar por interrogatório e conseguiu asilo em Oslo, na Noruega. Sua mulher e cunhado chegaram a ser presos, mas já foram libertados. O advogado refuta a alegação de Sakineh de que nunca a conheceu. ‘Sou seu representante legal e meu objetivo como seu advogado é ajudá-la a sobreviver’. O advogado Hootan Kian, que também faz parte da equipe que defende Sakineh, alegou que ela ‘com certeza’ foi forçada a fazer as afirmações na TV.
Nesta quinta-feira [12/8], um dia após a exibição da entrevista, a Anistia Internacional criticou o programa. ‘‘Confissões’ televisionadas têm sido utilizadas repetidamente por autoridades para incriminar pessoas sob custódia. Muitas destas pessoas posteriormente retiram estas ‘confissões’, afirmando que foram obrigadas a fazê-las, algumas vezes sob tortura’, declarou a organização.