A crise política da Bolívia foi publicada por alguns jornais brasileiros com o selo de "surpreendente". Nada mais impreciso. O país está tecnicamente em estado de ebulição desde a queda do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e a posse do atual, Carlos Mesa. O surpreendente, no caso, é a indiferença dos jornalões brasileiros com o que acontece com nossos vizinhos. A atual crise boliviana tem, entre outras, forte motivação separatista – a autonomia de Santa Cruz de La Sierra –, conforme foi noticiado durante mais de uma semana pelos grandes jornais latino-americanos na terceira semana deste ano, quando a atual instabilidade começou.
A mesma indiferença – ou seria ignorância ? – não é superada sequer quando interesses brasileiros estão em jogo, como no caso da Petrobras, a maior empresa da Bolívia. Não haverá desculpas, portanto, quando os anunciantes dos jornais tupiniquins forem surpreendidos por um provável, embora remoto, corte no suprimento de gás. Metade do gás que sai diariamente da Bolívia para o Brasil é consumida pelas indústrias de São Paulo. Dentro de dois anos, o gás boliviano atenderá à metade do consumo brasileiro.