Há quase 23 anos, a seção metropolitana do Washington Post divulgou que Joseph P. Unice, subchefe da agência de polícia americana U.S. Marshals Service, havia sido acusado por exposição indecente em uma lanchonete. Mas o Post nunca divulgou o que aconteceu depois, observou o ombudsman Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [8/8/10].
De acordo com Unice, um juiz rapidamente concluiu que a acusação não tinha embasamento e o caso não foi adiante. Como contou na semana passada, ele havia esquecido de colocar um calção atlético para correr e seus shorts de ginástica foram considerados muito ‘reveladores’ para alguns clientes da lanchonete. ‘Não foi intencional’, disse. Ele contratou um advogado e teve as acusações canceladas, por isso não há registro público. Sua carreira na agência de polícia continuou até sua aposentadoria, em 2003.
Hoje, Unice tem 65 anos e vive em Ohio. Mas no ano passado, quando começou a procurar por emprego para complementar a renda da aposentadoria, notou que seu potenciais empregadores realizavam pesquisas no Google com seu nome e encontravam dois artigos que o Post havia escrito em 1987 – não no site do jornal, mas em sites de pesquisas que arquivam matérias do diário. ‘Eles não vão me contratar. Nunca imaginei que 23 anos depois isto voltaria a me perseguir’, desabafou. Unice quer que as matérias sejam apagadas. O Google, por sua vez, alegou que cabe aos sites que publicam os artigos removê-los. Por isso, ele entrou em contato com o Post. ‘Preciso da ajuda de vocês’, pediu.
Credibilidade
Sites jornalísticos como o Post recebem cada vez mais pedidos deste tipo. Em raras ocasiões, eles são atendidos, pois alterar um registro do jornal pode prejudicar sua credibilidade. A maior parte das solicitações tem como objetivo evitar constrangimentos. Em outras vezes, é o chamado ‘remorso da fonte’, quando alguém quer revisar o que disse para deixar suas opiniões mais precisas. Mas um crescente número de pedidos para deletar alguma informação assemelha-se ao de Unice. ‘O que surpreende é que poucas organizações têm políticas para lidar com situações como esta’, diz Mallary Jean Tenore, que avaliou a questão para o Poynter Institute.
No Post, os pedidos são examinados caso a caso na redação, com alguns sendo levados aos advogados do jornal. Eles não são monitorados; portanto, não se sabe ao certo o volume ou tipo de pedidos que costumam ser feitos. Além disso, os leitores não sabem como funcionam as regras para se apagar informações e como submeter pedidos. Há um pequeno rascunho de regras de correções, que está sendo revisado pelos editores do Post. Nele, o jornal revela que não apaga ou remove artigos, em geral, após a descoberta de um erro. O que acontece é a publicação da versão correta o mais rápido possível. ‘Geralmente dizemos que algo que aconteceu foi um fato, divulgamos e não podemos nem devemos agir como se não tivesse acontecido. Mas como estas coisas duram para sempre na internet, podemos corrigir o registro online. E é isso que fazemos’, explica o editor Milton Coleman, que ajudou a desenvolver as regras.
No entanto, Alexander alerta que, em alguns casos, o conteúdo é preciso, porém incompleto. As normas do Post para estas situações devem deixar claro não apenas os tipos de pedidos que serão aceitos, mas também detalhes sobre as soluções – por exemplo, quando é melhor publicar uma matéria com link para a original, ou ainda quais os tipos de provas para apresentar ao Post de que uma acusação foi anulada.