Perdida na 37ª das 244 linhas da competente reportagem de Kennedy Alencar sobre a reforma ministerial, na Folha de domingo, está a informação de que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, que esteve dias antes com a secretária de Estado Condoleezza Rice, "levou a Washington uma mensagem de Fidel Castro".
O repórter não se compromete com a informação. Limita-se a registrar que foi isso que ouviu no Palácio do Planalto – e segue a matéria sobre a reforma.
A referência en passant ao encontro do ministro promovido a doublê de chanceler com a brava secretária amicíssima de Bush é mais uma evidência da escassa garimpagem da inside story das andanças americanas de Dirceu.
Os correspondentes brasileiros em Washington praticamente se conformaram em repassar o que o ministro lhes disse em entrevista, com um ou outro adendo de fontes do Departamento de Estado. Nada de parar as máquinas – como seria o caso da dita mensagem de Fidel aos gringos, se ela não estivesse embutida, como é possível, no próprio meio: a inclusão de Cuba na agenda da conversa de Ms. Rice com o mais fidelista dos ministros de Lula.
História supimpa
O comentarista Merval Pereira, do Globo, que tem amplo acesso a Dirceu e decerto não por coincidência mandou na semana passada várias colunas "datadas" de Nova York, deu no domingo uma circunstanciada versão das "duas indicações importantes para a política externa brasileira", que o ministro teria recebido da ministra.
As indicações dizem respeito à Alca e às pretensões brasileiras a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Sobre Cuba, zero.
Ficou no ar, em todo caso, a idéia de que o Brasil estaria se candidatando a mediador entre Havana e Washington – se é que Washington tem interesse nisso.
Não é fácil, o tempo é curto, sobram muitas outras pautas urgentes, mas eis aí uma história de 500 talheres a ser apurada. Não é todo dia que se ouve que Castro manda mensagens a Bush por portadores especiais – brasileiros, ainda por cima.
[Texto fechado às 18h25 de 07/03/05]