Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Si non è vero, è bene trovato

A direita blogueira nos Estados Unidos conseguiu há pouco decapitar da direção da CNN o jornalista Eason Jordan – ao espalhar com o costumeiro estardalhaço que ele disse (ou teria dito), numa reunião reservada no Fórum de Davos, que os soldados americanos no Iraque atiram de propósito em jornalistas. Impensável?


Desde o início da guerra, 33 repórteres e 15 ajudantes e técnicos morreram no país, em circunstâncias diversas. Em alguns episódios, lembrados no artigo "Despreparo e leviandade justificam incidentes", de João Batista Natali, na Folha de sábado – e referidos também no Globo do mesmo dia – fica difícil acreditar que as ações americanas tenham sido "sem querer".


O ataque ao carro que levava ao aeroporto de Bagdá a jornalista italiana Giuliana Sgrena, do diário comunista Il Manifesto, seqüestrada em 4 de fevereiro e resgatada ao que tudo indica por no mínimo 1 milhão de dólares, "não foi um caso em absoluto isolado", escreve Natali.


Pode ser absurda, como a classificou uma autoridade italiana, a hipótese do companheiro de Giuliana, Pier Scolari, de que ela teria sido vítima de uma emboscada. "Giuliana pode ter recebido informações que levaram os soldados a não querer que ela saísse com vida do Iraque", disse ele numa entrevista televisionada.


Ela, por sua vez, sugeriu que tenha sido alvejada porque os americanos têm horror ao pagamento de resgate por seqüestrados no país.


De todo modo, mesmo o leitor brasileiro, apenas com base no que deram os jornais daqui, há de ter ficado com sérias dúvidas sobre o "acidente" que feriu Giuliana e matou Nicola Calipari (que se jogou sobre ela para protegê-la das balas).


O noticiário identificou Nicola como o agente secreto que negociou a libertação de Giuliana. Na realidade, ele era um pouco mais do que isso: chefe de operações internacionais dos serviços italianos de inteligência militar. A imprensa inglesa fez questão de realçar essa informação. Fez bem.


Sobre os detestados checkpoints em Bagdá, leia-se "No caminho do aeroporto, um tenso posto de controle", no Estado de sábado, e "What Iraq’s checkpoints are like", no jornal internacional americano Christian Science Monitor desta segunda-feira (www.csmonitor.com/2005/0307/p01s04-woiq.html).


A se confirmar o pior – se é que se confirmará – Eason Jordan, ex-CNN, terá tido a sua revanche.

Notetas


** Cento e oitenta anos depois que os chamados "33 orientais" comandaram uma bem-sucedida revolta pela independência do país, anexado ao Brasil em 1821 como Província Cisplatina, o Uruguai voltou a fazer parte do Brasil – ao menos a julgar pelo fato de o Estadão publicar as suas duas matérias sobre a posse do novo presidente uruguaio Tabaré Vásquez na página A 7, na seção Nacional.


** Na sexta, um juiz de Santo André (SP) aceitou denúncia do Ministério Público contra, entre outros, o empresário Sérgio Gomes da Silva, ligado ao prefeito Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2003. O apelido de Sérgio é Sombra. Nem por isso é ético referir-se a ele pelo pesado apelido, ainda mais sem aspas, em títulos de matérias, como o Estado andou fazendo no ano passado e o Globo fez no último sábado.


[Textos fechados às 18h25 de 07/03/05]