Existem muitas questões pairando no ar a respeito da qualidade da mídia. Afinal, quem define o que é qualidade de mídia? Educação tem a ver com televisão, rádio ou internet? É possível educar crianças e adolescentes com a ajuda dos meios de comunicação? Os pais devem controlar o que chega aos olhos, aos ouvidos e às mãos de seus filhos? Meios de comunicação ajudam ou atrapalham a educação de jovens? Não há como negar que as mídias tenham potencial para impactar significativamente seus públicos. Atualmente, várias crianças e adolescentes estão conectados com algum meio de comunicação durante boa parte de seu tempo, mas nem sempre expostos a conteúdos que se considerem recomendáveis.
A sociedade brasileira vem discutindo há mais de uma década o papel da televisão e da mídia, em geral, no âmbito da educação, e a qualidade da programação que é oferecida ao público, em particular aos jovens. Em jornais e revistas, congressos e seminários, esse tema tem sido uma grande preocupação, visto que crianças e jovens passam longas horas em frente à TV, uma de suas principais fontes de formação, construção e informação. Pensando nesse contexto, foi criado o seminário ‘Crianças e Adolescentes na Mídia: um desafio à educação’ para refletir questões atuais, ambas degradadoras contra os jovens e adolescentes pela mídia televisiva.
A televisão é um meio eficaz de divulgar a mensagem a um grande número de pessoas. O problema está em definir que tipo de mensagens e para quem. Na prática, é qualquer mensagem para qualquer pessoa que esteja em frente ao aparelho de TV. E isto se torna preocupante à medida que observamos que grande parte do público que assiste à televisão é formada por crianças e adolescentes que são, justamente, os indivíduos mais vulneráveis nesse processo. A mídia torna-se indispensável na educação para a cidadania. Como parte da sociedade civil e do Estado, tem um papel educativo e político na conquista da cidadania, sobretudo quando dá visibilidade aos problemas e buscar apontar saídas.
Perspectiva educativa, humanística e cidadã
É importante ressaltar que o enfoque dado pela mídia às notícias sobre a criança e o adolescente, na maioria, não passa do denuncismo, o que evidencia a falta de clareza do respeito aos direitos humanos; a ausência de conhecimento dos instrumentos de proteção dos direitos da criança e do adolescente por parte dos profissionais e das empresas de comunicação; e o uso restrito da notícia como fator de mercado. A análise dos veículos de comunicação nos permite dizer que a precisão conceitual, no que diz respeito à temática em questão, ainda é um problema nos textos jornalísticos.
Em pesquisa feita no ano de 2009 nos jornais da capital paulista já se percebia isso: a escolha imprecisa dos termos foi um dos principais problemas encontrados no material pesquisado. Boa parte da imprensa ainda utiliza a terminologia do antigo Código, extinto em 1989, para se referir à criança e ao adolescente, principalmente nos casos de violência em que o menino ou menina é o agente.
É prioritário que os jovens, seus pais e educadores, bem como os produtores de mídia para essa faixa etária, desenvolvam uma visão crítica em relação ao que estão assistindo, avaliando se têm acesso a uma televisão que os represente, preserve e defenda seus direitos assim como também lhes proporcione possibilidade de escolha.
A maior parte dos pais nem sabe a que os filhos assistem ou do que gostam, pois estão fora de casa. Devemos nos tornar alfabetizados em mídia, aprender e avaliar as ofertas de filmes em locadoras, aprender e entender um pouco sobre publicidade, orientar as crianças quanto àquela propaganda, o porquê daquelas imagens, enfim, devemos realmente discriminar os programas e insistir no que é melhor para nossos filhos.
É necessário estudar a força que a mídia exerce atualmente, veiculando modelos estereotipados de comportamentos e conceitos sociais. Isto se torna marcante quando o objeto e o alvo das mensagens são os adolescentes. O estágio de desenvolvimento que a experiência humana contemporânea atingiu poderia, de alguma forma, ser atribuído à quase onipresença da mídia. Percebe-se ser quase impossível escapar à sua presença. Passou-se a depender da mídia, tanto impressa como eletrônica, para fins de entretenimento e informação, de conforto e segurança.
Se for verdade que a cultura midiática opera, sobretudo moldando costumes, valores, gostos, desejos, modos de pensar e agir, além de constatar esse fato, é preciso agir sobre ele, tendo-se, no entanto, a clareza de que a mídia por si só não tem poder para intervir na subjetividade, mas sim, no uso que se faz dela. Diante disto, um caminho seria investir na formação de um público exigente e crítico, um público ‘alfabetizado em mídia’. É preciso, sim, reeducar a mídia, os profissionais precisam estar qualificados ao repassar as informações.
As crianças e os adolescentes, precisam se ver reconhecidos na mídia, não como mero fatos noticiosos, e sim, como futuro de um amanhã. Essa palestra só veio enriquecer o seminário de 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente, numa perspectiva educativa, humanística e cidadã.
******
Publicitário e jornalista