No movimento sindical, há uma corrente que, por seu comportamento pragmático nas negociações – para não se dizer oportunista –, passou a ser denominada de sindicalismo de resultados. Um nome pomposo para o neopeleguismo. No Rio de Janeiro, já há muitos e muitos anos o jornal O Globo tem agido de uma forma muito semelhante ao se relacionar com o poder. Tal comportamento, como não poderia deixar de ser, se reflete no enfoque dado à cobertura jornalística de alguns temas.
Um bom exemplo deste procedimento, temos agora com o anúncio da construção do denominado ‘Museu do Amanhã’, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. Há não muitos anos, O Globo abriu uma acirrada campanha contra a tentativa do então prefeito César Maia de construir um Museu Guggenheim exatamente no mesmo lugar em que a prefeitura agora anuncia a implantação do Museu do Amanhã.
Naquela época, o jornal da família Marinho abriu suas páginas para fortes ataques à ideia, inclusive com questionamentos ao projeto de Jean Nouvel, um renomado arquiteto francês, com obras em diversos países e vencedor do Pritzker, considerado o prêmio Nobel da Arquitetura. Além do questionamento pelo fato de não ter havido um concurso para a escolha do projeto. Agora, ao contrário da situação anterior, o jornal da família Marinho tem aberto um vasto espaço para elogios ao projeto do Museu do Amanhã e ao seu autor, o importante e brilhante arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Chegou mesmo ao ponto de publicar um poema de Calatrava, no caderno ‘Prosa & Verso’, em homenagem a Oscar Niemeyer.
O que faz a Fundação Roberto Marinho?
Independentemente da qualidade do projeto do arquiteto espanhol, o que chama a atenção é o uso de dois pesos e duas medidas. Afinal, as semelhanças de características de escolha dos dois projetos são muito grandes, até mesmo com relação à motivação do local.
Por último, mas não menos importante, é que o jornal O Globo liderou uma outra imensa campanha contra outro projeto do ex-prefeito César Maia: a ‘Cidade da Música’. Chegou até mesmo à deselegância, quando pediu que fosse retirado o nome de Roberto Marinho dado àquela sala de espetáculos. Um dos principais elementos usados pelo jornal dos irmãos Marinho contra a Cidade da Música foi o custo da obra.
Pelo visto, ou O Globo não é muito de fazer contas, ou só as faz quando não participa. Afinal, enquanto a Cidade da Música, com uma área construída de 87.403 m2, custou R$ 670 milhões, ou seja, R$ 7.765,64 o m2, o Museu do Amanhã, com 12.500 m2, tem custo estimado em R$ 130 milhões e irá despender R$ 10.400,00 por m2 de recursos públicos.
Resta saber se agora, com a Fundação participando do projeto deste Museu (ninguém sabe bem de que forma), a família Marinho vai pleitear, junto à prefeitura do Rio, que este novo equipamento seja denominado de Museu do Amanhã Jornalista Roberto Marinho.
Uma boa ideia de pauta é apurar o que, afinal, faz a Fundação Roberto Marinho. Mas isto são outras conversas.
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Jornalista