Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A sociedade na mira do abuso performático

Ganhar audiência a qualquer custo. Este o principal objetivo dos famigerados programas televisivos sensacionalistas que têm ganhado espaço na Bahia. A norma é esquecer qualquer princípio ético e moral do jornalismo. Esqueçam a neutralidade, distanciamento ou respeito. O que vale mesmo é a espetacularização ao extremo. Não importa o horário para exploração da desgraça alheia. O importante é chocar a população, ou seja, manipular intencionalmente as emoções do público gerando medo, ira, revolta ou até mesmo morbidez.

Para tanto, tais programas se utilizam da narrativa dramática com o intuito de prender a atenção do telespectador, para que ele não mude de canal. Isso porque, entre 11h30 às 14h30, o páreo é duro na Bahia. Duas emissoras disputam quem mostra mais corpos estendidos no chão, plantões em hospitais e delegacias, brigas entre vizinhos. Não basta exibir a face da violência, é preciso maximizá-la, por uma ‘lente de aumento’ sobre o fato.

Diante deste contexto, fica o questionamento sobre qual o papel social de um canal de televisão, que funciona porque tem autorização para tal através de concessões públicas. Apesar de existirem leis e códigos que regem o que pode ou não ir ao ar, muitas emissoras constroem uma programação de acordo com interesses meramente comerciais. Sem fiscalização do conteúdo veiculado, restam ao cidadão três modos de lidar com o sensacionalismo televiso.

Reflexão é um passo importante

O primeiro é assistir ao espetáculo porque se identifica com a situação, seja pelo apelo dramático empregado, pela falsa ideia de assistencialismo ou simplesmente pelo entretenimento. Conquanto, esquecendo que já não está na mira da exploração, mas faz parte agora de um grupo passivo, reprodutor de estereótipos construídos por estes meios de comunicação. Outra alternativa é mudar de canal ou desligar o aparelho, supondo que com isto já fez a sua parte. Por fim, resta ainda uma atitude tomada por poucos, que é acionar órgãos como o Ministério Público Federal para denunciar a violação de vários direitos, como por exemplo, o direito de imagem, que não é respeitado.

Seja qual for o caminho escolhido pelo telespectador, a reflexão é, sem dúvida, um importante passo para entender a dimensão e a reverberação que estes programas têm alcançado na sociedade, principalmente na vida daqueles que têm as peculiaridades da vida privada, exploradas e elevadas ao ridículo.

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Estudante de Jornalismo, Salvador, BA