É comum no meio radiofônico apelidar alguns ouvintes que procuram participar dos programas de ‘mala’, que em outras palavras significa perturbador, intrometido ou inconveniente. Esse tipo de ação é muito difundida no meio do rádio e já faz parte do folclore dos radialistas. Tal atitude denota desrespeito a quem quer participar dando sua opinião, emitindo pensamentos , sugerindo, mostrando os problemas da cidade.
Pobre mala, que gasta seu dinheiro com ligações telefônicas para contribuir com os programas, e é tratado como se não tivesse importância nenhuma, nem colaborasse para que o rádio seja interativo, democrático e, sobretudo, questionador. O ouvinte de rádio é a razão de ser da programação, pois acreditamos que sem ouvintes não existe rádio nem radialista: há uma dependência que se configura no processo de emissão dos programas, que têm de ser avaliados e discutidos por quem ouve.
Os ouvintes de rádio devem ser respeitados, não devem ter sua opinião cerceada nem devem ser tachados pejorativamente de qualquer adjetivo, pois o rádio é um instrumento de comunicação que se baseia na emissão e recepção – se não tiver quem escute a voz do locutor será uma pregação no deserto.
Dia do Mala
Seria de bom alvitre que os que fazem o rádio tenham a humildade de reconhecer a importância de seus ouvintes, que muitas vezes podem não ser letrados nem dizer tudo o que o locutor de rádio quer que seja dito, mas a democracia é entendida no sentido da comunicação como uma troca de idéias, e só a troca de idéias é que leva às grandes obras.
É salutar que o meio radiofônico reconheça o valor do ouvinte, pois o mundo moderno não comporta uma só opinião, uma só razão, uma só verdade. Se alguns acham que o ouvinte é mala, graças ao inúmeros malas é que o tão combalido rádio ainda sobrevive.
Que tal criar o ‘Dia do Mala’, quer dizer, do ouvinte? Seria um prêmio a quem ama o rádio e por ele deve ser amado.
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Professor e presidente da Associação dos Ouvintes de Rádio, Fortaleza