Foi notícia em diversos veículos a campanha ‘Um dia sem Globo’, inventada por usuários do Twitter para que na sexta feira (25/6) a população visse o jogo do Brasil contra Portugal por outros canais, para o ibope global diminuir.
A ideia veio depois da polêmica envolvendo Dunga e a Globo, no domingo (20/6). Partindo em defesa do técnico da seleção brasileira, os usuários se levantaram contra o monopólio da emissora. Ir contra um monopólio inconstitucional é um bom motivo para qualquer campanha, ainda que ao fim da partida a Globo tenha conseguido um bom número, 43,6 pontos de audiência, e a Band 12,7 – resultado recorde segundo o site especializado AdNews.
Mas o mérito do Twitter não deve ser superestimado. É importante lembrar a contradição de uma campanha contra o monopólio ser feita em um meio monopolizado, elitista, que é a internet – e o Twitter – no Brasil. O número de usuários frequentes de internet é por volta de 39% no Brasil, considerando como ‘uso frequente’ ter utilizado a rede nos últimos três meses.
Apenas 3% desses 39% que utilizaram a internet nos últimos três meses entra na rede menos de uma vez por mês, sendo que 58% a utilizam diariamente, ou seja, 22% da população brasileira (dados do Centro de Estudos das TICs do Comitê Gestor da Internet Brasileira) . Um número bem abaixo dos que têm acesso diário à TV. Ainda assim, a grande mídia tem noticiado acontecimentos do Twitter como se fossem a nova revolução da comunicação depois da internet.
Tendência para o monossílabo
A luta pela democratização da comunicação deve ser feita em todos os meios possíveis, mesmo que elitizados. O Twitter tem um alcance significativo na classe média, mas essa atuação não pode ser confundida ou substituída por uma atuação política fora desse âmbito. Afinal, a esfera de microblogs é o cúmulo da desinformação (milhares de desinformações seguidas, que têm curta duração e memória). Tão curto quanto um tweet. Como disse Flavio Gomes, colunista esportivo do iG no texto ‘A era do grunhido‘ (19/6), discutir uma hashtag de Twitter é como sugerir um congresso sobre comunidades bizarras do Orkut.
Gomes criticava a escolha editorial de Veja em dar sete páginas para o caso ‘Cala Boca Galvão’ e poucas linhas para criticar as escolhas políticas do escritor José Saramago (1922-2010). Ele tinha blog e Twitter, mas uma opinião realista sobre as comunidades digitais. Gomes conta que em uma recente entrevista por e-mail a O Globo, Saramago disse:
‘Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.’