Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Uma situação insustentável

A ONG Tver, que desde sua fundação, há 8 anos, tem acompanhado e se manifestado contra programas sensacionalistas pelo nítido poder lesivo dos mesmos à saúde mental de crianças e adolescentes, se opõe veementemente a revogação da classificação indicativa para telejornais policiais, pela violência dos mesmos.


Esse lamentável recuo frente às pressões da indústria da mídia representa o continuísmo da impunidade do setor que, usando concessões públicas (que é o que são as emissoras de televisão) para auferir lucro, não tem a menor responsabilidade social. Vale tudo para aumentar a audiência que determina o valor dos anúncios comercializados porque, até hoje, o descumprimento das condições para o uso dessas concessões públicas foi premiado com a renovação das mesmas.


Enquadrar quem se acostumou a estar acima da lei é difícil mas necessário. Crianças e adolescentes que, em plena tarde, assistem a tentativas de suicídio em tempo real, imagens de corpos assassinados, exibições da polícia em perseguições ao vivo, e uma eficiente educação para a violência, têm sua realidade psíquica atingida regularmente pela força desses modelos. Mesmo para os idosos – que não estão mais em formação mas, freqüentemente, têm na TV sua ‘janela para o mundo’ –, esse sensacionalismo limita a qualidade de vida. Quando vêem as notícias a partir desses ‘telejornais policialescos’ que tinham sido enquadrados pelo Ministério da Justiça, não conseguem enxergar esses fatos com a distância da estatística. Tendem a entender que basta sair até a esquina para correr o risco de serem seqüestrados, feridos, assassinados.


Assim, em troca de audiência, inocula-se o terror, o medo e a sensação de impotência que paradoxalmente amplifica a força da criminalidade e ‘glamouriza’ sua ação. Exatamente como foi a entrevista forjada no Domingo Legal de Gugu Liberato com supostos bandidos, em plena tarde de domingo. A ‘punição’ foi uma multa irrisória.


Isso não pode continuar assim.

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(*) Psicanalista de crianças e adolescentes, presidente da ONG TVer