Foi ao ar na noite de domingo (1/5) a entrevista da correspondente Lara Logan, agredidano Egito em fevereiro, ao programa 60 Minutes, na rede de TV americana CBS. Lara sofreu um ataque sexual na Praça Tahrir, no Cairo, quando fazia uma reportagem sobre a celebração da população local por conta da queda do governo do presidente Hosni Mubarak. Ela foi afastada de sua equipe por uma multidão de homens, teve as roupas rasgadas e foi espancada. Quase três meses depois, a sul-africana, que trabalha para a CBS, quebrou o silêncio sobre a brutal experiência.
A entrevista com a jornalista incluiu imagens da noite do ataque na praça e um relato detalhado do incidente. Ela conta que suas roupas foram destroçadas e, já nua, olhou para cima e viu que pessoas tiravam fotos com telefones celulares. “Suas mãos me estupravam repetidamente”, diz.
Momento histórico
Lara lembrou que estava ansiosa para chegar à praça. O clima, segundo ela, era de festa. Era um momento histórico. Além de um produtor e do cinegrafista, ela estava com um stringer, dois motoristas egípcios, que agiam basicamente como guarda-costas, e mais um segurança. A jornalista fez gravações no meio da multidão por mais de uma hora, até que a bateria da câmera ficou fraca e foi preciso parar de filmar para trocá-la. Neste momento, o stringer que a acompanhava disse que precisavam sair dali. “Depois eu soube que eles estavam dizendo para tirar a minha calça. E, de repente, antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, senti mãos agarrando meus seios, minha virilha, me pegando por trás”, lembra. A câmera ainda filma um grito da correspondente enquanto ela era arrastada. “Quanto mais eu gritava para pararem, mais agitados eles ficavam”.
Lara diz que, em certo momento, alguém gritou que ela seria israelense e judia – o que deixou os agressores ainda mais agitados. No começo da agressão, o segurança da jornalista conseguiu segurá-la pelo braço. Lara conta que olhava para ele e via sua única esperança de sair dali viva. Até que a multidão finalmente os separou. O segurança acabou afastado da jornalista, em sua mão apenas a manga rasgada da jaqueta dela.
Forças
Segundo Lara, foi o pensamento em seus filhos que a fez ter forças para lutar por sua vida. “Quando pensei que ia morrer ali, meu próximo pensamento foi não acreditar que eu iria simplesmente deixar q ue me matassem, que aquilo era tudo o que eu podia fazer. Que eu tinha cedido e desistido dos meus filhos tão facilmente. Como você pode fazer isso? Eu tinha que lutar por eles. E foi aí que eu falei: ‘Ok, agora eu tenho que ficar viva. Eu tenho que me render ao ataque sexual. O que mais eles podem fazer? Eles estão dentro de mim’. Então, a única coisa pela qual eu podia lutar era a minha vida”.
A jornalista acredita que 25 minutos se passaram até ela ser resgatada por um grupo de mulheres egípcias, que a ajudaram a se proteger até que soldados egípcios chegassem e combatessem os agressores. Lara disse que hoje se sente “muito mais forte” e que ficou orgulhosa de ter quebrado o silêncio sobre algo por que muitas mulheres jornalistas passam, mas nunca falam abertamente.
Veja a entrevista de Lara Logan ao 60 Minutes (em inglês):