Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Preços altos e má qualidade

O mercado corporativo não está satisfeito com o atendimento às suas necessidades de tráfego de dados pelas operadoras de telecomunicações no Brasil. Em seminário promovido pela Firjan, no Rio de Janeiro, na segunda-feira (28/3), executivos de diversos setores se queixaram dos preços altos e da má qualidade do serviço de banda larga no País. ‘Em 45% do tempo em que minha rede ficou indisponível no ano passado o motivo foi a queda do link’, relatou o CIO da Michelin, Marcelo Ramires. Ele reclama que a contingência, prevista em contrato, muitas vezes é feita com rede da mesma operadora que provê o link principal. ‘Você acha que tem uma rede redundante, mas quando precisa, descobre que o roteador é o mesmo ou a última milha é a mesma’, descreveu. ‘Já houve caso em que troquei de operadora no papel, mas, na prática, continuei sendo atendido pela mesma rede’, completou.


O CIO da L’Oreal, Sergio Hart, que é também presidente do grupo de CIOs do Rio de Janeiro, fez coro às críticas, lembrando que há problemas de qualificação da mão de obra no setor de telecomunicações e de má configuração de processos de gestão. Além disso, ele se queixou da pouca disponibilidade de sinal das redes móveis, o que prejudica seus vendedores nas ruas. ‘Isso significa negócios que deixam de ser fechados’, disse Hart.


Pesquisa


Durante o evento, a Firjan divulgou uma pesquisa sobre o custo da banda larga corporativa no Brasil. De acordo com o levantamento feito pela entidade, o preço médio do acesso de 1 Mbps em redes DSL é de R$ 70,85 no País. O estado mais caro é o Amapá: R$ 429,90, com a ressalva de que lá nem havia oferta de 1 Mbps em DSL quando a pesquisa foi realizada, sendo este o preço para 600 Kbps via satélite. O estado mais barato é Alagoas: R$ 57,40. No acesso de 1 Mbps via redes 3G, o preço médio é de R$ 109,82.


Para conexão corporativa a 10 Mbps em redes DSL, o preço médio no Brasil é de R$ 105,23. Os estados mais caros são Roraima, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Acre: R$ 192,40. O mais barato é Rio Grande do Norte: R$ 84,90. Amapá e Amazonas não foram incluídos por não terem essa oferta.


Planos de banda larga corporativa de 100 Mbps, por sua vez, existem em apenas 13 dos 27 estados do País, a um preço médio de R$ 529. Neste caso há poucas variações entre as ofertas mais caras e mais baratas.


O estudo da Firjan comparou os preços médios praticados no Brasil, em dólares, com aqueles de outros países. Embora haja casos em que os preços internacionais são bem mais altos, como na Rússia e na China, os valores cobrados no País ainda são relativamente caros. Na Argentina, na Colômbia, na Índia, na Venezuela e no México, por exemplo, o preço médio por 1 Mbps está mais barato que aqui.


Operadoras


Os presidentes da Oi e da Telefônica, Luiz Eduardo Falco e Antônio Carlos Valente, respectivamente, compareceram ao seminário e se defenderam das críticas. ‘O cliente tem sempre razão. Mas é importante lembrar que as redes de dados baratearam muito nos últimos dez anos. É só comparar o que se comprava de banda com US$ 200 dez anos atrás’, disse Falco. O presidente da Oi aproveitou para atualizar os dados da pesquisa da Firjan, lembrando que o backbone da empresa chegou recentemente a Manaus e a Macapá, barateando os preços. Sobre comparações internacionais a respeito de cobertura da rede de banda larga, o executivo disse: ‘A Coreia do Sul tem o tamanho de Pernambuco. E o Japão, que investe há dez anos em fibra óptica, cobre apenas 30% dos domicílios com essa tecnologia’.


Valente recapitulou os números de FTTH (fiber to the home) da concessionária de São Paulo. Sua rede de fibra passa hoje por pouco menos de 500 mil domicílios e têm 15 mil deles conectados. Sobre banda larga em geral, ele disse que a penetração em São Paulo é de 70% entre os domicílios que possuem computador.


Tributação


Como não poderia deixar de ser, a alta carga tributária do setor de telecomunicações foi apontada como a principal culpada pelos altos preços dos serviços no País, tanto pelas operadoras quanto pelas empresas consumidoras. Entretanto, o presidente da Anatel, embaixador Ronaldo Sardenberg, argumentou que agora não seria o melhor momento para pleitear a redução dos tributos para telecom, justamente quando o governo procura conter gastos. ‘Apresentar uma proposta hoje seria condená-la ao fracasso. Não seria politicamente viável’, disse.