Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Racismo até quando?

Observando o noticiário esportivo durante a semana venho deparando com notícias sobre racismo no futebol. Não existe nenhuma novidade no ocorrido, pois é cada vez maior o número de manifestações racistas dentro dos estádios europeus. O que espanta é a inércia dos órgãos reguladores do esporte – Fifa e Uefa – e das autoridades europeias, que parecem coadunar com a postura adotada pelos torcedores dos clubes europeus.

O jogador Roberto Carlos saiu do Brasil dizendo que não se sentia seguro e que sua família estava sendo ameaçada. O mesmo Roberto Carlos é o recordista de manifestações racistas na Europa desde a época em que jogava na Espanha. O último fato aconteceu esta semana, quando um torcedor russo lhe ofereceu uma banana descascada. Será que a troca feita pelo lateral teve realmente motivações emocionais ou, mais uma vez, o dinheiro falou mais alto, a ponto de fazê-lo superar essa forma de violência que, diga-se de passagem, é tão grave quanto a ameaça de torcedores à sua família?

A última vítima desse ato execrável foi o jogador Neymar que, após a vitória da seleção brasileira sobre a seleção da Escócia, teve uma casca de banana atirada em sua direção. Neste mundo de hoje, que se julga globalizado e sem fronteiras, esse tipo de atitude desagradável é extremamente desnecessária. Afinal de contas, vivemos o sob o signo do pluralismo e não cabem mais manifestações de repúdio a homossexuais, a negros, índios, gordos etc.

O povo europeu, que costuma primar pela educação e pelos bons costumes, já que o continente sempre foi considerado o berço da civilização ocidental, deveria ficar atento e rechaçar essas práticas arcaicas do século 19 e da metade do século 20. O mundo já não comporta mais atitudes como a que ocorreu com o corredor afro-americano Jesse Owens, nos Jogos Olímpicos de 1936, que além de ser hostilizado por Hitler foi também menosprezado dentro de seu país de origem.

Um mundo onde caibam todos os mundos

Semana passada, um menino australiano foi obrigado a se defender, pois sofria com as agressões verbais e físicas impostas pelos colegas de escola; em São Paulo, um jovem foi agredido por um skinhead com uma lâmpada pelo simples fato de ser homossexual; e, para não fugir muito do âmbito esportivo, o jogador Marcelo, atleta do Real Madri, foi alvo de racismo dentro do campeonato espanhol. Isso tudo ocorreu sem que houvesse a mínima intervenção das autoridades locais. Será que o mundo ainda não compreendeu que esse tipo de comportamento só ajuda na formação de ditadores como Muamar Kadafi, Hosni Mubarak ou daqueles que vestem a capa da democracia e da moral e fingem lutar pela ‘liberdade’, como, por exemplo, George Walker Bush? Isso sem citar os tiranos clássicos, como Hitler, Mussolini, Salazar e os generais do período da ditadura militar no Brasil.

O que é necessário para que se comece a construir um mundo onde caibam realmente todos os mundos? Enquanto agirmos dessa forma, enquanto não respeitarmos as diferenças, seremos reféns de nós mesmos, viveremos trancafiados dentro de nossas casas com medo de nossos pares. Os europeus, e mais tarde os norte-americanos, saquearam, pilharam, colonizaram, dizimaram povos e culturas graças ao seu imperialismo pungente e agora se sentem no direito de discriminar e hostilizar imigrantes latinos, africanos. Até quando iremos assistir a cenas deploráveis como essas?

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Técnico de informática, Rio de Janeiro, RJ