Um estudo do Fundo Monetário Internacional admitindo, pela primeira vez, a adoção de controles de capital estrangeiro em economias emergentes causa grande agitação entre analistas econômicos dos jornais.
Trata-se de uma guinada surpreendente nos 70 anos de existência da instituição, que já foi acusada de punir os países mais pobres e privilegiar as economias mais desenvolvidas, no final do século passado.
Na verdade, o que o FMI produziu foi um documento que retrata um dado da realidade: com ou sem recomendação oficial, muitos países emergentes, como o Brasil, têm sido obrigados a adotar medidas de controle do ingresso de moedas estrangeiras, que inundam os mercados em ondas gigantescas.
Conivência
Uma das críticas ao FMI que se pode ler nos jornais desta quarta-feira (6/4) é o fato de que não há, no texto divulgado pelo Fundo, referências ao controle dos capitais nos países de origem, como os Estados Unidos.
Segundo esses comentários, o FMI estaria sendo conivente com a falta de rigor dos países desenvolvidos com suas políticas monetárias.
Se os grandes movimentos de capitais desorganizam as economias de países emergentes e pressionam as moedas locais, cuidar apenas dos controles de entrada é medida inócua, dizem especialistas.
Seria como levantar sacos de areia contra um tsunami.
Em meio a acusações de que o Fundo Monetário Internacional estaria respaldando a ação dos países ricos, que empurram parte de seus problemas para a periferia, há quem afirme que o estudo é incompleto, precipitado e influenciado por interesses políticos.
Depois da crise financeira que eclodiu em 2008, o mundo assistiu a uma série de ações governamentais sobre o mercado, sem que a imprensa tradicional, adepta dos dogmas chamados liberais, ensaiasse sequer uma queixa contra interferências da ‘mão peluda’ do Estado nos negócios privados.
Agora que o FMI assume, ainda que de maneira parcial e precipitada, que eventualmente pode ser admitido algum controle nas marés financeiras, a grita é geral.
Na verdade, já existem muitas condicionantes para o movimento de capitais, e as oportunidades sempre irão funcionar como ímãs poderosos por causa da liquidez excessiva dos mercados.
Mas para quem viveu os dias de soberania do FMI, não deixa de ser um momento interessante de se assistir.