A agressão do vereador Lourivaldo Rodrigues de Moraes (DEM), de Pontes e Lacerda, contra a repórter Márcia Pache, da TV Centro Oeste (SBT local), é o retrato fiel da truculência e política da força para manter benesses em que se transformou a política do estado. A pancada gratuita é próprio de quem se esconde com o ar de autoridade em cargo eletivo para eliminar o debate de ideias, o contraditório, o direito à liberdade de expressão.
Como o não tão nobre parlamentar, a política de Mato Grosso está cheia desse eixo do mal que destrói a representação política e provoca arranhões e mais danos à imagem de homens e mulheres da vida pública. Não por acaso, vários políticos com mandato atualmente só não fazem a agressão física do vereador, mas têm o mesmo vício de não respeitar a democracia, a opinião pública, ou alguém que os fiscaliza e cobra transparência, como a imprensa. É o exemplo mais direto da prática daqueles políticos que querem porque querem de todo jeito tirar vantagem do dinheiro público recolhido por todos nós.
É um tipo contagioso, que pensa com a máxima de que atos covardes como esses nunca são punidos. Há, nesses casos, e de quem os acoberta, a violência para manutenção do poder, a esperteza errada da impunidade. Assim como se comportaram espanhóis e portugueses na chegada a este pedaço do chão do Brasil Central há cinco séculos. Como também fizeram depois bandeirantes paulistas, com a matança em massa de indígenas, povos originais e outros que detinham poder da posse da terra, riqueza natural e da cultura.
Cantar de galo e aterrorizar comunidades
Esse peso de individualismo e egoísmo também foi praticado mais recentemente por grupos políticos que resolveram se associar, disfarçar de representantes populares para assaltar os cofres públicos sob todas as formas de desvios, com uso de nomes de idosos, laranjas e outras parafernálias que não combinam com partidos, política ou o modo decente de se manter no poder.
O tapa do vereador de Pontes e Lacerda é a marca do coronelismo que pensa que manda em tudo e em todos. Mas os tempos mudaram, precisa compreender o tal vereador Kirrarinha. Hoje, um mar da população inconformada, mais informada, com mais acesso a conhecimento, tem opinião melhor e pune com o aparato tecnológico da internet. O vereador precisa saber que a mídia está presente em cada sombra ou passo de gente que não respeita outras pessoas e o grupo ao qual pertence.
A falta do Kirrarinha é gravíssima e requer uma reação popular de indignação para que isso não seja perpetuado na política.
O tapa na cara do jornalismo de Mato Grosso protagonizado mais uma vez por políticos de araque tem uma saída a médio prazo: a eleição de 3 de outubro, quando milhões de mato-grossenses têm o mesmo valor de caciques, coronéis e vereadores que costumam agredir profissionais de imprensa e cidadãos comuns, fisicamente ou não. Aqueles que, como Kirrarinha, costumam cantar de galo e aterrorizar comunidades, como revelam profissionais de imprensa de Pontes e Lacerda.
Um estrondo de vergonha
O erro, a violência condenável, é do vereador, mas também de lideranças e dirigentes do seu próprio partido, o DEM, que aceitam esse tipo de perfil tirado dos filmes de faroeste. É o que consta na sigla, pois o vereador pretende se candidatar a deputado estadual. Cabe agora perguntar: é esse tipo de representante que merece uma sociedade mais informada e de mais conhecimento? Com a palavra, a Câmara de Vereadores de Pontes e Lacerda, a Justiça Eleitoral, a direção do partido do vereador e seus aliados.
De concreto, resta a certeza de que a opinião pública, a imprensa e os movimentos sociais não se calarão com o barulho do tapa que estrondou de vergonha a política estadual. Tomara que os políticos do eixo do mal de Mato Grosso ainda se lembrem o que é isso…
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Jornalista em Cuiabá e ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso