‘‘Jornalistas não entendem de pesquisas eleitorais’ Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Pesquisas eleitorais. Há quem acredite nelas, há quem não acredite. Na dúvida, melhor publicar. Ao desafiar essa máxima e não publicar a pesquisa Vox Populi na edição de quarta-feira, O POVO gerou um clima de desconfiança entre alguns leitores. Sérgio Banhos estranhou. ‘Só foi a Dilma abrir uma vantagem grande para o jornal não dar nada. Por quê?’, indagou. Outro leitor, de nome Saulo (não quis dar o sobrenome), extravasou. ‘Qual interesse em não informar? O pessoal não gosta do PT!’, ironizou. Tem quem diga o contrário. Com uma cobertura diferenciada durante toda eleição, neste caso, o jornal cometeu um erro de avaliação que justifica a cobrança. Na terça-feira pela manhã a pesquisa já estava disponível. O jornal não deu uma linha sequer no dia seguinte, nem mesmo das acusações do PSDB contra o instituto de pesquisas. Só falou do fato quinta-feira, juntamente com os dados do Ibope confirmando o crescimento petista.
Cobrado, o editor executivo do núcleo de Conjuntura, Guálter George, disse que tinha expectativa de que a pesquisa seria divulgada na noite de segunda. Porém, segundo ele, só foi tornada pública na madrugada. ‘Muito tarde para aproveitamento na edição da terça, muito cedo para ter destaque na quarta. A editoria decidiu não publicar e recuperar os números posteriormente, junto com a pesquisa Ibope. Uma decisão errada. Informação tem validade curta, ainda mais a poucos dias da votação. Guálter reconhece. ‘Admito hoje que foi um erro não termos feito qualquer menção à pesquisa já na quarta-feira, mesmo que em material secundário ou de visibilidade menor’.
Novo foco
Depois de inúmeras matérias em 2010 mostrando o caos no trânsito de Fortaleza, a editoria Fortaleza, finalmente, focou a Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC), responsável em gerir o setor. Durante três dias (18, 19 e 20 de outubro) O POVO mostrou que a Capital cearense tem a maior frota de carros do Nordeste – 687.732 veículos – e é a terceira pior em número de agentes de trânsito – 318. E que parte deles não está nas ruas. Acusada pela população de ser uma ‘fábrica de multas’, a AMC alega não ter recursos para contratar agentes. A matéria, que aliou serviço a uma boa dose de crítica, gerou grande interesse entre leitores no O POVO Online e uma pergunta não foi respondida: Quanto é arrecadado com as multas?
Doação de medula
O jornalismo serviço não cabe somente em caso de denúncias de irregularidades. Serve também para estimular a solidariedade. O exemplo foi dado na matéria ‘A luta por um doador de medula óssea’, publicada terça-feira ,19, na editoria Fortaleza, contando a saga de uma mãe em busca de um doador para o pequeno Kaio. O jornal soube usar a sensibilidade, sem cair na pieguice, e movimentar os leitores. Só no primeiro dia foram 164 doadores se candidatando e 42 comentários no Portal, alguns de cearenses que moram em outros estados propondo formar uma rede nacional. Muitos outros Kaios existem por ai, cada um com seu drama. O jornalismo pode ajudar muito bem nestes casos, levando a informação correta, quebrando preconceitos e cobrando dignidade no atendimento ao cidadão.
Agilidade perdida
Mas se foi bem nas duas questões acima, o jornal fez muito pouco diante da aprovação pelos deputados estaduais, por unanimidade, na segunda-feira, de um Conselho Estadual de Comunicação. A editoria Política se limitou a apresentar o fato em uma matéria coordenada, factual, no dia 20, apenas registrando o que seria o projeto de formação de um colegiado para ‘fiscalizar’ e ‘denunciar’ possíveis abusos dos meios de comunicação. O POVO preferiu manchetar os bastidores da Assembleia Legislativa (AL). Acabou passando batido ainda o fato de os parlamentares nem discutirem o assunto. Um leitor, que preferiu não se identificar, estranhou. ‘Acho que faltou discutir mais o assunto, mostrar o que é este Conselho’, afirmou ele cobrando mais empenho do jornal no que é produzido pelos deputados.
Concordo com o leitor. Na avaliação interna fiz cobrança semelhante. A única análise veio em artigo, no dia seguinte, do diretor institucional do Grupo de Comunicação O POVO, Plínio Bortolotti. Era tarde. A discussão ganhou a Internet e na quinta-feira, os parlamentares abriram a boca repudiando a aprovação que eles mesmos haviam feito. Desta vez a editoria deu manchete. A coluna Política também registrou. Todos dormiram no ponto.
Ausência sentida
Pior que noticiar pouco é não noticiar nada. Desde o início do mês, a Imbra Tratamentos Odontológicos declarou falência e fechou as portas das 27 clínicas que funcionavam no Brasil. Uma delas em Fortaleza. Mais de 25 mil clientes no país foram afetados. Dei a sugestão de pauta em relatório interno no dia 8 de outubro. Nada foi produzido até sexta-feira, no fechamento desta coluna. Um leitor também notou a ausência. Sem se identificar, deixou recado na secretaria eletrônica reclamando da falta de informações sobre o caso. Na realidade saíram duas notas, ambas dia 7 de outubro. Uma na coluna Vertical S/A e outra no O POVO Online, no blog do Eliomar. E só. O jornal ainda deve uma matéria ampliada, mostrando o que aconteceu com as pessoas afetadas e como elas serão ressarcidas.
Esquecido pela mídia: Usina das ondas no Pecém estará funcionando até o fim do ano?’