Os ‘revolucionários’ de botequim estão de volta. Bradando contra os arautos do caos, enxotando as aves de mau agouro e combatendo os espertos ou acomodados do ‘me engana que eu gosto’, apresentamos nossas ‘bandeiras de luta’ e logo iniciamos aquele papo descontraído, regado a um bom vinho, numa das noites frias deste finalzinho de inverno no interior de Minas. Na verdade, falávamos, como sempre, sobre nossas angústias a respeito da profissão: mercado, formação etc. Conversa vai, conversa vem… E aí, o inevitável: têm visitado o Observatório e o Comunique-se?
Diante da negativa, disse a ele: ‘Voltaram a tocar no tema’. Pausa. Goles demorados. Necessários para saborear, suficientes para divagações. Veio à mente o conselho de um grande amigo, também em conversa recente num grande evento da área, no Rio. Profissional atuante e acadêmico reconhecido me chamou num canto e disse: quando tocarem no assunto mantenha silêncio retumbante. Fiquei meio assim, será que o cara surtou? Mas ele se manteve firme e foi taxativo: ‘Isso sim é um protesto. Considere mais uma entre tantas tentativas de trazer à tona uma arcaica e reles disputa artificial. Afinal de contas – argumentou ele – o mundo real está muito à frente de todo este nhenhenhém que se arrasta desde o fim dos anos 60’.
Silêncio, jamais!
Lembrei logo em seguida do que costuma dizer um dos meus gurus: essa disputa é do tipo Palmeiras x Corinthians ou Vasco x Flamengo. O melhor é reservar um camarote e curtir. As gargalhadas vieram naturalmente quando lembrei aquele trecho do seu texto publicado na coletânea Jornalismo e Relações Públicas: ação e reação: não contem comigo para apartar esta briga. É uma questão de genética. Pausa interrompida e olhares ao redor espantados. Provavelmente é o efeito dos ‘copos derrubados’ em excesso – devem estar pensando.
Voltei à realidade com a prosa mineira do amigo ali ao lado em torno do ‘causo’: dizia ele que a peleja – ou o que resta dela – deveria na verdade transformar-se num trabalho parecido com a tradição de gente simples que reúne amigos nos domingos para ‘bater a laje’ na casa de um deles. Ninguém ali vai discutir se a função é dele ou do outro. Resumindo: um belo e competente mutirão.
Cá com meus botões, meditei, ponderei e decidi: silêncio, jamais! Preciso escrever algo, por mais simples que seja. Não vou ratificar o dito popular de que quem cala consente. Imediatamente ergui o brinde às ‘nossas bandeiras’ e contra os incautos: abaixo o fundamentalismo corporativista! Como diz a voz da experiência, o atual perfil do mercado, bem como as suas tendências, resultam do caminhar construído pelos mecanismos culturais dos processos, não pelo balizamento regulador de decretos e portarias. Além disso, uma das pérolas do dicionário do óbvio e ululante garante: dentro do Direito a uniformidade não é a característica marcante. A própria lei é imperfeita e sofre influências de indivíduos e das conjunturas. E a dinâmica da vida e da sociedade acaba por solapar conceitos outrora inquestionáveis.
Tocar em frente
Palmas tímidas. Talvez por pena daquelas pobres almas entregues a Baco. Ou por não entenderem lhufas do que tratávamos, mas como a cordialidade brasileira tem uma velha tradição…
Devido ao adiantado da hora, nos entreolhamos e se pudéssemos expressar verbalmente o que estávamos pensando não tenho dúvida da construção da frase: vade retro para essas recaídas momentâneas e localizadas. Botamos o pé na estrada e fui arriscar o término do texto em casa, pensando que se diante de uma situação séria, mas enfadonha por conta de determinadas abordagens, ia pegar bem, alguns toques de humor.
Resolvi arriscar. Afinal, estamos no mês da morte do Stanislaw. Posso ser perdoado. Pelo menos por ele, lá dos céus. Assumo os riscos. Não pertenço mais aos sindicatos. Mas mantenho o alerta ligado, pois está na hora definitivamente de queimar glias só com reflexões que valham a pena. Ainda bem que já deixei os 43 para o passado. Da junção do pitagórico (quatro) com o divino (três), não poderia dar outra coisa: um pesadelo no sono de muitos coleguinhas, donos de assessorias. O que fazer? Tocar em frente que a vida tem seus percalços. E, como diz o antigo provérbio: hoje um, amanhã dois, outro dia três ou quatro enchem o saco. Com gatos pingados. Que alívio!
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Jornalista, escritor e professor da UFJF, mestre pela Umesp, doutor em Comunicação pela UFRJ e conselheiro do FNPJ