Osvaldo Peralva foi um jornalista e repórter internacional brasileiro que esteve na União Soviética no final dos anos 1950. Falava russo corretamente, acreditava no bolchevismo. Mas retornou decepcionado com os horrores da ditadura stalinista e publicou seu livro-denúncia O Retrato (Editora Globo, 1962), onde narra em pormenores os horrores dos porões da KGB, e as conseqüências trágicas das idéias de Lênin e seus sucessores. Esse jornalista descreveu em minúcias cada mentira, cada fracasso do regime soviético. E pagou por isso.
Voltou para o Brasil convertido ao ‘socialismo democrático’, como disse o mesmo em seu famoso livro. Peralva também integrou o Kominform, o comitê de informação comunista. Foi membro ativo do PCB por 30 anos, mas abandonou o partido após pronunciamento de Nikita Kruschev, em 1956, quando o comitê foi extinto. Foi execrado pela maioria da esquerda brasileira. Muitos ex-companheiros o acusaram de agente da CIA. Sua atitude corajosa quase destruiu sua vida.
Foi diretor do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, nos anos 1960. Desencantou-se com João Goulart, em 1964. Como muitos de seus colegas. Em 1968 foi preso, após o AI-5. Sua corajosa e antecipada crítica jamais foi perdoada ou esquecida pela maior parte da intelectualidade brasileira.
Denúncia contundente
Hoje pouco se fala de Osvaldo Peralva. O homem que disse a verdade sobre o comunismo, muito antes da perestroika e de Mikhail Gorbachev, agora ameaça desaparecer da história. Ouvi falar dele em público, pela última vez, no final dos anos 1980, numa palestra do cientista político Leandro Konder. Que referiu-se a ele como autor de um livro, ‘muito, muito ruim’. Referia-se ao Retrato. Nada mais disse o professor Konder sobre Osvaldo Peralva…
O livro até hoje anda abandonado, mofando nas bibliotecas das universidades. É um retrato precioso da falácia do socialismo soviético. Uma completa desconstrução dos mitos que os soviéticos procuraram propagar mundo afora, nas décadas de 1950 e 60. O Retrato é leitura obrigatória para todos, membros da mídia ou não, que desejam entender a infeliz trajetória do comunismo em sua forma mais macabra: o stalinismo.
Osvaldo Peralva faleceu no Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1992. Ninguém mais fala dele. Seu nome e sua lembrança são anátemas para boa parte da intelectualidade brasileira. Cabe a nós decidir se a denúncia contundente e verdadeira de Peralva vai viver ou desaparecer para sempre da memória do jornalismo e das idéias democráticas no Brasil.
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Consultor de Urbanismo, professor e tradutor