A guerra começou em terra há milhares de anos e depois passou para o mar; o ar virou campo de batalha no começo do século 20 e o espaço no seu final. A primeira década do século 21 vê o conflito se estender ao ciberespaço.
A nova dimensão da guerra entre Estados, grupos políticos, terroristas e crime organizado foi reconhecida pelo Departamento da Defesa dos EUA, que criou recentemente o Comando Cibernético (Cyber Command), sob o Comando Estratégico.
Situado na base militar de Fort Meade, Maryland, deverá estar plenamente operacional em outubro.
O país, que já tem um Comando Espacial para proteger satélites militares, agora passa a ter um ligado ao ‘hiperespaço’.
Outros países estão tomando iniciativas semelhantes, como Reino Unido, Israel e Coreia do Sul. Outros já teriam embarcado recentemente em ciberataques: China, Rússia e Coreia do Norte são os principais suspeitos.
‘Quando este país foi fundado, navios inimigos cruzavam os oceanos em dias. Na Segunda Guerra Mundial, aviões cruzavam em horas. Na Guerra Fria, mísseis poderiam fazê-lo em minutos. Agora, ataques cibernéticos podem nos atingir em menos do que a piscada de um olho’, disse o secretário-adjunto de Defesa, William J. Lynn 3º, em artigo no The Wall Street Journal.
O secretário de Defesa, Robert Gates, ordenou em junho de 2009 a criação do novo Comando.
Alvo crucial
Receios no Congresso de que a nova organização poderia afetar as liberdades civis, ‘militarizando’ a internet, atrasaram a confirmação do primeiro comandante no cargo. O general do Exército Keith B. Alexander assumiu o posto em 21 de maio.
‘Este comando não é sobre esforços para militarizar o ciberespaço. Ao contrário, trata-se de defender a integridade dos sistemas críticos de informação militares’, declarou Alexander ao Congresso.
A dimensão da tarefa é perceptível pelo intenso uso que o Pentágono faz de computadores. Os militares dos EUA são responsáveis por cerca de 15 mil redes de informática e usam mais de 7 milhões de computadores e equipamentos eletrônicos.
Um exército de cerca de 90 mil pessoas, civis e militares, está empregado para manter as comunicações das forças armadas americanas.
Um exercício mostrou o tipo de dano que o governo teme, simulando um ataque em grande escala contra redes civis de computadores.
Resultado: 20 milhões de pessoas sem celular, a costa leste do país sem eletricidade e a redução substancial da velocidade da internet. As companhias de aviação e o controle de tráfego aéreo foram pesadamente afetados.
No exercício, um vírus teria sido enviado por celular da Rússia. A escolha não é acidental. Acredita-se que partiram do país ataques contra servidores do governo e bancos da Estônia em 2007.
É difícil descobrir a fonte dos ataques. Não necessariamente o governo russo estava por trás deles, e não há provas disso; podem ter sido obra de ‘hackers’ privados.
O general Alexander, que também dirige a Agência de Segurança Nacional, confirmou que foram invasões de computadores militares em 2008 que motivaram a criação do comando.
Apesar de ser chamada de ‘guerra’ cibernética, na prática é uma mistura de crime e espionagem.
A China foi acusada de praticar este tipo de ação contra governos ocidentais, além de seus ‘alvos’ tradicionais, como Taiwan e Japão. Mas Pequim nega.
Um alvo crucial dos chineses, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, seria desabilitar a comunicação dos grupos-de-batalha de porta-aviões americanos. São essas frotas que ajudariam a defender Taiwan de uma invasão chinesa.