A Copa do Mundo, em sua versão midiatizada, é negócio, espetáculo, marketing global que atinge as vastas legiões de cidadãos-torcedores-espectadores. A Copa mexe com afetos, sentimentos e valores, desperta os pecados e as virtudes capitais. A simbologia dos sete pecados capitais, desde a Idade Média, exerce influência sobre os espíritos. E a nossa Idade Mídia, graças a Deus, é herege, subversiva e reúne diversamente as tribos de crentes, profanos, fanáticos e ateus. Mas não escapa do julgamento público, que distingue religiosamente os ‘virtuosos’ e os ‘viciados’.
As imagens hilárias da luxúria estão nos sites pornôs, com fotos & fakes dos jogadores e marias chuteiras; e a parte bizarra do pecado está no seu contrário, na imposição do técnico à temperança forçada dos jogadores do Brasil, privados de sexo e sorvete nas concentrações.
No jargão dos torcedores, a gula é sinal de jogador fominha: não divide a bola com ninguém. Mas não há comedimento na fome de imagens da TV. A mídia encarna a metáfora da iconofagia (devoração de imagens): cria os mitos, mas engole, ignora e destrói os velhos ídolos do esporte.
A imagem da avareza fica registrada na vontade de exclusividade da Rede Globo, na cobertura da Copa. É sinal de ganância querer monopolizar o poder de ver e de mostrar, eliminar concorrentes e reinar sozinha na difusão da partida. Então, fica valendo o slogan na internet: #Dia sem Globo!
Humildade e simplicidade são o brilho
A preguiça era pecado e se tornou doença na época do capitalismo, baseado na ética do trabalho, no mérito pelo esforço pessoal. A apatia, a indolência e a moleza não têm lugar no mundo dos esportes. Mas o difícil – para o brasileiro – é voltar ao trabalho depois da transmissão do jogo.
Para as novas gerações do século 21, estar ‘irado’ tem valor positivo; é algo ‘xinfroso’ e moderno. Porém, as imagens da ira, na Copa 2010, vão ficar com o treinador Dunga, famoso como zangado. E a subversão do mau humor explode, em escala global, na ‘irada’ e formidável campanha #Cala a boca, Galvão.
A inveja é cruel e corrói as entranhas do invejoso: quem não aceita a derrota está condenado a passar mal; felizes são os times com o dom do desprendimento e o oposto disso é o olhar generoso: é a campanha solidária às vítimas das enchentes no Nordeste, inserida no noticiário da Copa.
A extrema vaidade, a soberba, é um sentimento menor, que expõe a fraqueza dos atletas deslumbrados, como seres lendários, que se afogam em suas próprias imagens midiatizadas e perdem a chance de fazer o gol. Gloriosamente, a humildade e a simplicidade dos novos talentos fizeram, fazem e farão o brilho, o vigor e a alegria do esporte, antes, durante e depois da Copa do Mundo 2010.
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Jornalista, João Pessoa, PB