Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Globo

CASO PANAMERICANO
Silvio Santos diz que fará tudo para manter SBT

O apresentador Silvio Santos admitiu — mesmo ressaltando não estar ‘100% certo’ — que o banco PanAmericano era deficitário e que os executivos falsificaram os balanços para garantir seus bônus. Em entrevista à revista ‘Veja’ que chegou às bancas ontem, ele disse ainda que vai adiar a sua aposentadoria, programada para 2011, por causa do rombo no banco, que o levou a pegar um empréstimo de R$ 2,5 bilhões com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC). E assegurou que fará de tudo para não vender seu canal de televisão, o SBT.

Silvio Santos contou à revista que levou um susto ao descobrir sobre o rombo no PanAmericano, comunicado pelo presidente da holding em 11 de setembro, enquanto gravava seu programa. Segundo o apresentador, a operação do banco era deficitária e os executivos falsificaram a contabilidade para garantir seus prêmios. Silvio assegurou ainda que nunca esteve na sede do PanAmericano. ‘Banco não é o meu negócio. Meu negócio é televisão’, afirmou.

O empresário disse ainda que o Citibank ofereceu R$ 1,3 bilhão pelo PanAmericano em 2005. ‘Quase vendi, mas desisti porque o Citi deixou claro que demitiria um número muito grande de nossos funcionários.

Quem me conhece sabe que faço tudo para não demitir’.

Segundo Silvio, o Citi — que na ocasião fez uma auditoria no PanAmericano — afirmou que ele se arrependeria, porque a operação do banco era muito custosa. Sobre a avaliação do Citi, o apresentador disse não entender muito do assunto, mas que pode ter detectado problemas.

‘O que está me parecendo agora, mas não estou 100% certo, é que a operação era mesmo deficitária e os executivos, para garantir seus prêmios, falsificaram a contabilidade’.

Empresa de cosméticos já teria oferta de compra O empresário criticou as empresas que fizeram auditorias no PanAmericano sem apontar problemas. ‘A Deloitte, a KPMG e os analistas do Banco Fator nada encontraram. Como acionista, eu recebo o relatório mensal sobre o banco, e não havia o menor sinal de irregularidade’, disse ele à ‘Veja’.

Para conseguir o empréstimo, Silvio deu como garantia as 44 empresas de seu grupo, inclusive o SBT. Ele contou que se recusou a pagar juros sobre o valor.

O empresário disse já ter recebido propostas por algumas de suas empresas, como a Jequiti, de cosméticos. Um interessado teria oferecido R$ 500 milhões, mas, segundo Silvio, ela vale R$ 800 milhões. Ele afirmou ainda que a Telesena vale R$ 200 milhões, o SBT, R$ 1 bilhão, e o PanAmericano, R$ 1,2 bilhão.

O apresentador disse que poderia se desfazer de todas as empresas do Grupo Silvio Santos pois, ao 79 anos, não tem interesse ‘em bancos ou indústrias de cosméticos’. A exceção é o SBT. ‘A televisão não vendo. Vou fazer de tudo para não vender.

Mas as demais empresas, por que não?’, explicou. Silvio disse que gostaria de deixar a emissora para suas filhas. Caso tivesse realmente de se desfazer do SBT, seria daqui a oito ou dez anos.

Mas em entrevista ao jornal ‘Folha de S.Paulo’ na quintafeira, Silvio dissera que, se pagassem bem, ele venderia o SBT.

Sua declaração fora uma resposta às especulações de que o empresário Eike Batista estaria interessado na emissora.

 

EUA
Gilberto Scofield Jr.

Briga de cachorro grande na mídia de NY

Poucas brigas empresariais e midiáticas vêm sendo acompanhadas com tanta atenção pelo mundo executivo (e não executivo) americano (e não americano) do que a travada entre o magnata australiano das comunicações Rupert Murdoch, 79 anos, dono do império de mídia News Corp., e Arthur Sulzberger Jr., 59 anos, presidente da New York Times Company. Do ponto de vista econômico, tratase de uma batalha desproporcional.

Afinal, a News Corp. é um conglomerado global — composto pelo estúdio 20th Century Fox, a TV Fox, o canal National Geographic, uma fatia da empresa de TV por assinatura Sky, os jornais britânicos ‘The Sun’ e ‘The Times’ e o americano ‘New York Post’, entre outros — cujo faturamento, até setembro deste ano, chegou a US$ 33 bilhões. Já o grupo New York Times Company — dono dos jornais ‘The New York Times’, ‘The Boston Globe’, ‘International Herald Tribune’ e do site About.com, entre outros — faturou no ano passado US$ 2,4 bilhões.

Os executivos da Fox costumam brincar que o estúdio ganhou apenas com o filme ‘Avatar’, em 2009, tudo o que o grupo New York Times faturou no mesmo ano. No entanto, desde que Murdoch comprou em julho de 2007, por US$ 5 bilhões, o grupo Dow Jones da família Bancroft (dona da empresa por 105 anos) — e seu carro-chefe, o jornal de economia e negócios ‘The Wall Street Journal’ —, o magnata vem se dedicando ao que ele mesmo definiu como ‘guerra pelo posto de rei da mídia em Nova York’. Para tanto, segundo reportagem da revista ‘Vanity Fair’, teria injetado US$ 80 milhões de receitas obtidas com seus negócios em TV e cinema no ‘Journal’, com o objetivo declarado de ‘esmagar o Times’.

Para magnata, Sulzberger é fraco, diz escritor Em seu melhor estilo provocador, Murdoch não perde um segundo para humilhar Sulzberger — que assumiu o comando do jornal em 1992, a quinta geração da família Ochs Sulzberger, há dois séculos no leme do diário.

Em março, num artigo no suplemento de fim de semana do ‘Journal’ sobre homens com traços femininos, Murdoch estampou na capa uma foto do sorriso de Sulzberger. Um mês depois, quando o ‘Journal’ lançou a sua nova editoria, a Grande Nova York, para competir diretamente com o noticiário local do ‘Times’, Murdoch mandou Sulzberger ‘arrumar o que fazer’.

— Ele (Murdoch) acha que Sulzberger é fraco, uma garotinha.

O ‘Jovem Arthur’ era frequentemente o assunto durante as muitas horas em que conversei com Murdoch quando estava escrevendo sua biografia.

Sulzberger era, para Murdoch, um saco de pancadas. Ele até o imitava de forma a sugerir uma certa falta de masculinidade — conta Michael Wolff.

Desde que herdou de seu pai o seu primeiro jornal em Adelaide, na Austrália, ainda em 1952, Murdoch é conhecido por mirar no líder de mercado e não poupar esforços para roubar o posto. Foi assim também na mídia impressa inglesa, com a audiência da TV de notícias a cabo americana (a Fox News tem em média mais telespectadores que a CNN) e, agora, em Nova York, uma cidade que dita comportamento e atitudes ao mundo e se norteia claramente pelo que lê nas páginas do ‘New York Times’.

Circulação do ‘Journal’ é maior do que a do ‘Times’ Enquanto Murdoch ataca ampliando o noticiário econômico do ‘Journal’ com seções de esporte, mais entretenimento e notícias locais — ele promete em breve um suplemento de livros para concorrer com o ‘New York Review of Books’ —, Sulzberger se defende com o que o ‘Times’ faz de melhor: reportagens investigativas premiadas e artigos de comportamento que farejam novas tendências, especialmente no inovador mundo digital.

— Murdoch usa uma estratégia arriscada porque o ‘Journal’ é conhecido internacionalmente pela excelência de sua cobertura econômica — diz Lawrence J. Parnell, professor da Universidade George Washington e especialista em comunicação pública e privada. — Enquanto isso, o ‘Times’ é um jornal de metrópole, com boa cobertura econômica, mas de perfil diverso do ‘Journal’. A guerra de negócios, que envereda pelo lado pessoal, é por uma supremacia na mídia que extrapola a influência em Nova York e entra pelo mundo digital, já que o consumo de notícias segue um caminho não tradicional.

Por hora, Murdoch vem ganhando em circulação. Nos dias de semana, enquanto a circulação do ‘Times’ é um pouco inferior a um milhão de exemplares (houve queda média de 6% no primeiro semestre), a do ‘Journal’ é um pouco acima de dois milhões (uma pequena alta de 0,5%). Nos fins de semana, o ‘Times’ atinge uma tiragem de 1,35 milhão. Em faturamento, os anúncios não pipocaram no ‘Wall Street Journal’ como Murdoch esperava. Mas quem precisa de recursos de publicidade com um império da comunicação e TVs tão lucrativas? Sulzberger, pelo contrário, vem lutando contra a perda de receitas do ‘Times’ que migram para a internet. A ponto de, em janeiro de 2009, o milionário mexicano Carlos Slim ter emprestado US$ 250 milhões ao grupo.

Sulzberger vem declarando que não se sente ameaçado. ‘A retórica anti-Times de Murdoch não repercute com nossos anunciantes, não repercute com nossos leitores e, muito francamente, não repercute com o público americano’, disse ele à ‘Vanity Fair’.

 

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