O 27º Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecom), de 4 a 10 de setembro na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em Maceió, debateu o tema ‘Qualidade de formação frente ao coronelismo midiático’. O Enecom 2005 teve 1.500 estudantes inscritos, mas muitas atividades acabaram esvaziadas devido à opção pelo turismo da maioria dos participantes. Os que souberam aproveitar a programação conseguiram bons resultados.
Os painéis foram inaugurados com Heloísa Helena (P-SOL), Milton Pomar (jornalista, analista político e militante do PT), João Pedro Stédile (MST) e Paulo Eduardo Gomes (vereador do PT de Niterói-RJ). O assunto debatido: a conjuntura sociopolítica. Os palestrantes fizeram análise crítica do governo, de seus rumos e da perspectiva de ruptura. Comentaram a posição dos movimentos sociais e analisaram a mídia como forma de perpetuação das elites no poder.
Paulo Eduardo Gomes afirmou que o Brasil, em relação à comunicação, copiou dos Estados Unidos tudo o que não interessa e deixou de copiar o relevante: o mesmo grupo pode participar do controle de vários meios de comunicação, exemplificou. Isso é proibido em vários países, o que possibilita a democracia na comunicação e a diversidade na propriedade das empresas e impede o oligopólio midiático. Milton Pomar disse haver uma conspiração contra o PT. E que depois dele virá um partido pior. João Pedro Stédile lamentou que a mídia brasileira tenha tomado partido ideológico. Heloísa Helena afirmou que a esquerda, depois do escândalo, precisará de, no mínimo, mais 15 anos de trabalho para se recuperar diante da opinião pública, e não acredita que estará viva para ver a ‘revolução socialista’.
Imposição cultural
Do segundo painel participaram Gustavo Gindre (jornalista e mestre em Comunicação pela UFRJ), Taís Ladeira (da Associação Mundial de Rádios Comunitárias) e Jonas Valente (Intervozes e Carta Maior). Os palestrantes debateram com os estudantes sobre ‘Políticas públicas e uma perspectiva para uma comunicação alternativa’. Abordaram o direito à comunicação e a disputa contra-hegemônica, políticas públicas e meios alternativos de comunicação.
Jonas Valente afirmou ser a mídia uma má escola, que reproduz preconceito e desigualdade. Chamou atenção para a concentração dos meios de comunicação nas mãos de apenas nove famílias brasileiras, o que restringe o interesse público. Gustavo Gindre assustou a platéia ao afirmar que a TV como conhecemos está em vias de desaparecer nos próximos 20 anos, com o surgimento de uma TV interativa resultante do casamento entre a TV digital e a internet. E lamentou que o ministro das Comunicações, Hélio Costa, tenha optado pelo modelo japonês, em vez de apostar no brasileiro. Desta forma, a TV digital terá a mesma cara da TV analógica. Taís Ladeira falou sobre rádios comunitárias e a disputa pela hegemonia. Sensibilizou os estudantes com uma pergunta: ‘Vocês fazem comunicação para disputar qual projeto de Brasil?’
No terceiro painel o tema foi cultura popular, com os palestrantes Walter Lima (professor de filosofia da UFAL), Sávio Almeida (doutor em História), Mestre Benon (líder do grupo Treme Terra de cultura regional), que falaram sobre etnocentrismo, identidade cultural e transformação social. Antes do início dos debates, os estudantes assistiram a uma apresentação do grupo Treme Terra. José Roberto lamentou que os grupos de cultura popular passem fome devido ao processo de imposição cultural. Sávio Almeida afirmou que a diferença é o que faz a vida interessante. Walter Lima questionou a obediência da produção midiática às determinações da oligarquia que detém os meios de comunicação.
Sul em desvantagem
O tema do quarto e último painel foi a formação do jornalista. O painelistas, entre os quais Angelita Pereira (coordenadora do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás) e Milena Martinez (da Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior) debateram a qualidade na formação do comunicador, a reforma pedagógica dos cursos de Comunicação Social, a Reforma Universitária e a avaliação institucional. Milena Martinez foi enfática na oposição à Reforma Universitária, que prevê um ciclo básico de dois anos comum a todos os cursos..
No último dia do evento teve lugar o Conselho Nacional de Entidades de Base de Comunicação Social (Conecom) e ficou decidido que o próximo Congresso Brasileiro dos Estudantes de Comunicação será em Recife, que ganhou por um voto a sede do evento, em disputa com São Paulo. Também foram apresentadas duas chapas para a eleição da próxima diretoria da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos), uma de situação e outra de oposição.
A discussão sobre o próximo Enecom, que era para ter sido decidida no Conecom, ficou para um Conecom extraordinário que acontecerá no Rio de Janeiro, nos dias 12 e 13 de novembro. Esta foi a solução depois que um estudante da delegação do Rio Grande do Sul pediu tempo para formular o projeto, a fim de disputar a sede do Enecom 2006 com a Bahia, que já tinha a proposta pronta. O argumento dele foi que, como o próximo Cobrecos será em Recife, o Enecom na Bahia representaria três encontros seguidos no Nordeste, deixando os estudantes do Sul em desvantagem no deslocamento.
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Estudante de Jornalismo das Faculdades Integradas Hélio Alonso, Rio de Janeiro