Há alguns meses, a presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais), Maria Judith Brito, declarou que, no Brasil, os ‘meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada’. Em síntese, ela declarou o que nenhum dos veículos da grande mídia têm coragem de afirmar: juntos, eles formam o Partido da Oposição.
Não tenho absolutamente nada contra um jornalista ter suas convicções políticas, mas critico o fato de a imprensa esconder isso dos seus leitores e do grande público em geral. É comum ouvirmos que Veja, Folha, Estadão, organizações Globo etc, são órgãos imparciais, neutros e objetivos. A objetividade é um conceito, inclusive, cada vez mais em desuso, pois não significa um valor alcançável, como demonstram várias teorias da comunicação, mas apenas um horizonte guia na caminhada.
Considero isso um grave problema porque, por trás do véu da pretensa imparcialidade que pregam, há valores e interesses que são repassados subrepticiamente, como se o que estivessem noticiando fossem apenas fatos puros e simples, impossíveis de serem manipulados, pois assim foram e assim sempre serão. E fazem isso com tanta perfeição que, aos críticos e desconfiados, cabe a alcunha de neuróticos ou coisa que o valha.
Coragem de assumir uma posição
Nos EUA, na Itália ou na França, apenas para citar alguns exemplos, os jornais, revistas e emissoras de TV têm lado. Os norte-americanos sabem que a Fox News é Republicana. O New York Times, nas últimas eleições presidenciais, revelou seu voto a Obama, em editorial. Nos outros dois países, os leitores, em geral, sabem a que lado do espectro político os meios de comunicação se alinham, abertamente.
Na contramão, nós somos a única imprensa do mundo que parece ter descoberto a fórmula mágica da imparcialidade, neutralidade e objetividade. Por isso, é também comum ouvirmos pessoas dizendo que ‘se foi assim que o jornal noticiou, então foi assim que aconteceu’. Ora, no limite, uma notícia têm uma relação de causalidade infinita. Fazer um recorte de alguns aspectos que a torne compreensível ao público já é, em certo sentido, deformá-la.
No Brasil, apenas um veículo de imprensa de grande circulação, que seja do meu conhecimento, não esconde suas inclinações políticas. Por isso, gostaria de destacar a honestidade de Mino Carta e de sua CartaCapital nesta semana que, mesmo correndo o risco de desagradar leitores os mais susceptíveis, tem a coragem de assumir um posicionamento diante da disputa política que se avizinha.
Uma postura que devia começar a ser adotada por outros meios de comunicação ou, pelo menos, ser posta na pauta de discussão.
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Estudante, Natal, RN