Na última semana fomos surpreendidos com a notícia de que o Jornal do Brasil deixaria de ter sua edição impressa e passaria a ser difundido 100% em ambiente digital. Depois de uma rápida pesquisa por sites e blogs jornalísticos, é possível ver que para alguns o fim da edição impressa do JB é um suicídio tardio ou ainda uma tragédia anunciada há tempos. Mas sem dúvida é triste, como profissional da comunicação, ver que um veículo de tanta importância histórica para o Brasil chega ao fracasso sem ao menos esboçar qualquer tipo de reação.
O Jornal do Brasil deixa de existir, deixa de ocupar as bancas. A pergunta que fica é: por que? Em tempos de graduação nas aulas de história do Jornalismo, era comum exposições que nos apresentavam o surgimento de um novo veículo e ao mesmo tempo a desconfiança de muitos sobre a perda de audiência de um antecessor. Os jornais não teriam mais leitores por causa das rádios; o mesmo com o cinema, que deixaria de existir por causa da televisão. A internet surge no fim do século 20 como aposta para o enterro dos impressos. Chegamos a 2010 e todas as formas de comunicação continuam. É certo que precisaram se adaptar. Conquistar públicos diferentes de novas gerações apresenta-se como um desafio constante. Segmentar-se também é uma perspectiva. Mas todas persistem no mercado com seu espaço, com sua força frente a uma audiência ‘fiel’.
Isso nos leva à reflexão de que deixar de ir para as bancas é resultado não de falta de audiência ou de leitores. É resultado de uma péssima administração. Um bom jornalista empreendedor jamais deixaria seu veículo chegar ao fracasso sem esboçar reação. Há quem acredite que os editores do JB ainda contribuíram para este fim patético.
‘O JB deixou de ser o mesmo há muito tempo. Morreu desde que o Nelson Tanure assumiu. Agora é o enterro’, declarou em seu blog o jornalista e também ex-colunista do JB Ricardo Kotscho. ‘A alegação `sustentável e inovadora´ é uma tremenda cascata. É uma desculpa de quem acabou com a Gazeta e agora vai acabar com o JB. Se fosse pelas árvores, não publicariam mais livros no mundo.’
Fim é inaceitável
Os esforços para o fim podem ser vistos nas declarações dadas na última semana pelo jornalista Fritz Utzeri. ‘Queriam usar muito conteúdo de agências e textos chupados da internet. O jornal estava perdendo sua alma. Aí, eu desisti. Depois até continuei como colunista, mas saí.’ ‘As decisões empresariais, os passivos trabalhistas, a construção faraônica do prédio do JB, a compra de um modelo de rotativa aposentada pelo New York Times, tudo isso acabou com o jornal.’ Utzeri enfatizou que a baixa tiragem, entre 17 e 22 mil exemplares, transformou o JB numa ‘gazeta de bairro’.
A queda anunciada do JB também promove o avanço de O Globo em termos comerciais. Algo que Alberto Dines, ex editor-chefe do Jornal do Brasil, não vê com bom olhos. ‘Para O Globo, é muito ruim. O jornalismo compreende a competição. O jornal sem competição fica numa posição parcial. O jornalismo tem que ter concorrência. O momento de glória do O Globo foi quando ele competiu com o JB. Foi a última era de ouro do jornalismo carioca.’ ‘A grande verdade é que o Tanure não tem a ver com jornalismo. Ele não é o empresário de jornal. Para ele, ter uma fábrica de baralho e uma empresa jornalística é a mesma coisa’, disse Dines a um site de comunicação.
O que fica é necessariamente a incompetência de quem o administra. Muitos já sumiram, entre eles Gazeta do Rio de Janeiro, Gazeta de Notícias, O País, A Notícia, O Mundo, A Manhã, A Tarde , A Noite, Diário da Noite, Diário Carioca, Última Hora, Diário de Notícias, Diário da Noite, O Jornal, Correio da Manhã. Em tempos de novo século admitir um fim é algo inaceitável.
******
Jornalista, Pindamonhangaba, SP