Todos os indícios apontados por coleta de provas e oitiva de testemunhas dão conta de que o cidadão Bruno Fernandes (apresentado na mídia sempre como goleiro apenas), na companhia de amigos, praticou o crime que lhe é imputado.
Mas são apenas indícios! E indícios não são provas! O que é muito estranho é que as autoridades policiais, logo nos primeiros dias após a prisão, deram um jeito de apresentá-lo entrando num camburão, algemado, vestindo o colorido uniforme de presidiário, além de outras cenas grotescas de que foram poupadas, por exemplo, conhecidas personalidades quando pegas em situação semelhante.
Ainda que Bruno Fernandes venha a ser condenado, terá o direito de cumprir a pena no cárcere, não diante das câmeras de televisão e de repórteres e delegados ávidos por condenação, sem sede de justiça.
Autoridades policiais e judiciárias se equivocam. Não apenas no Brasil. O brasileiro Jean Charles de Menezes foi fuzilado em Londres há alguns anos porque se parecia com um terrorista.
Reviravolta
Nos portais do Diário de Notícias e da RTP, consta recente erro judiciário, reparado cinco anos depois. Em 13 de dezembro de 2005, a polonesa Kamila Garsztka, namorada do português Amilton Bento, ambos vivendo na Inglaterra, desapareceu sem deixar rastro.
Em Janeiro de 2006, o corpo da jovem apareceu num lago de Bedford. Seu namorado foi detido logo depois do funeral. Imagens de câmeras de vigilância, falsificadas por um perito americano que depois se suicidou, mostravam a moça carregando uma mala quando saiu de casa e serviram de base à acusação. Afinal, quando Amilton foi à polícia informar o desaparecimento de Kamila, a mala, que ela trouxera no dia anterior, estava na casa dele.
Em 25 de julho de 2007, Amilton Bento foi condenado à prisão perpétua, mas continuou a luta para provar que era inocente, invertendo todo o processo. Afinal, seus acusadores deveriam provar que ele era culpado. Ninguém é obrigado a provar que é inocente.
Enquanto os pais do prisioneiro faziam um empréstimo bancário para pagar o advogado, que substituiu o defensor público, o filho estava no cárcere, na companhia de perigosos bandidos. O perito contratado pela defesa demonstrou que, nas imagens, Kamila estava sem a mala.
Em 24 de julho de 2009, Amilton enfim saiu da prisão. O processo kafkiano resultou no livro Inocente/Not Guilty, de Patrícia Lucas, jornalista da RTP, hoje sua companheira.
Amilton Bento hoje vive em Portugal. ‘Isto não é uma coisa do passado, é bem presente. É um grande sofrimento e uma ferida que está aberta. Não sei se algum dia vai fechar, por mais anos que viva’, declarou aos repórteres. Entre os vários conflitos que o perseguem, Amilton esbarra com uma pergunta incontornável: o que terá acontecido à namorada?
A polícia inglesa continua achando que ela foi assassinada, mas não sabe quem foi o assassino. Todas as evidências são de que ela cometeu suicídio. O perito contratado pela defesa demonstrou que ela estava sem a mala quando deixou a casa do namorado.
Se o caso de Bruno Fernandes também der uma reviravolta, como ficarão seus acusadores?