Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fonte externa, desconfiança dos leitores

Matéria publicada no Washington Post na semana passada que dizia que o governo Barack Obama havia doado US$ 2 milhões de estímulo financeiro para um dos maiores projetos poluentes dos EUA, sem considerar as proteções ao meio ambiente, gerou críticas mais pela autoria do que pelo conteúdo, comenta, em sua coluna, o ombudsman Andrew Alexander.

O artigo foi escrito pelos jornalistas Kristen Lombardi e John Solomon, que trabalham para a organização sem fins lucrativos Centro de Integridade Pública, bem conhecida entre profissionais da mídia. Em seu site, a organização define-se como ‘não partidária e dedicada a produzir material original de jornalismo investigativo responsável sobre assuntos de interesse público’. No entanto, o Centro não é conhecido dos leitores e muitos escreveram para Alexander para saber mais sobre ele ou questionando sua neutralidade.

O leitor Douglas Green, procurador que representa a indústria elétrica em temas ambientais, ficou surpreso com o fato de o Post publicar uma matéria produzida por uma organização que oferece ‘em geral, pontos de vistas tendenciosos e anti-empresariais sobre o meio ambiente’. Green acredita que o texto criou a percepção de que o Post apoia os pontos de vista do Centro.

Culpa da crise

Com frequência cada vez maior, o Post publica material de organizações independentes, como o Centro de Integridade Pública, a ProPublica e a Kaiser Health News. Elas são financiadas por contribuições de fundações e indivíduos e têm uma equipe de jornalistas respeitados. O Post avalia o trabalho antes de publicá-lo e isto permite que o jornal, com sua redação reduzida, amplie a cobertura.

Após análise, Alexander concluiu que a matéria recebeu edição e investigação extensas, durante seis meses. Solomon, ex-repórter do Post, disse que o trabalho começou com o pedido do Centro, por meio do Ato de Liberdade de Informação, para obter acesso a documentos do governo federal. Ele também realizou mais de 100 entrevistas. O editor-executivo Marcus W. Brauchli expressou interesse quando lhe foi oferecida a matéria. Depois de ter feito a reportagem e antes de entregá-la ao Post, Solomon explicou que os dados foram revisados linha a linha por ele com a ajuda de outro profissional do Centro.

Em seguida, o material foi para Jeff Leen, editor de reportagens investigativas do Post, que já fez parte de diversos projetos ganhadores do prêmio Pulitzer. Depois de sua edição inicial, a peça foi mais uma vez editada por Steve Reiss, veterano especializado em matérias empresariais, e Frances Stead Sellers, que coordena a cobertura de ciência, saúde e meio ambiente do Post. E não parou por aí: dois jornalistas especialistas em energia e meio ambiente fizeram mais uma análise.

No entanto, mesmo uma sólida reportagem pode deixar leitores confusos se eles não sabem quem a produziu. Isto deve ser uma lição a ser considerada pelo Post, quando for publicado material de outras organizações jornalísticas independentes. Uma solução, diz o ombudsman, é colocar a descrição do Centro abaixo do texto impresso e, na edição online, explicar como a matéria foi produzida, com um link para o site do Centro, projetos anteriores, dentre outros.