Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Controladores da Abril investem no ensino formal


Nesses tempos velozes de recomposição dos modelos de negócios da mídia, e de deliberações premidas pelas urgências determinadas pela nascente economia digital, os controladores das empresas jornalísticas tradicionais começam a admitir a necessidade de mudanças estratégicas nos seus objetivos negociais. A nova realidade emergente transfere o foco da banca e do monitor para a produção ampliada do conhecimento. E a mídia tradicional não é capaz de dar conta disso sozinha.




No Brasil, um primeiro e notável movimento nessa direção deu-se a partir da decisão dos acionistas majoritários da Abril S.A., controladora da Editora Abril – historicamente vinculada ao ramo de revistas –, em investir pesado na área da educação formal. Para isso, instituíram um novo empreendimento, independente do seu negócio de mídia, como mostram a matéria do Valor Econômico reproduzida a seguir e os textos constantes dos links abaixo. Os empresários parecem estar pensando em algo mais concreto, mais duradouro. Basta notar, por exemplo, que se oito anos são tempo suficiente para se consolidar uma revista, este é também um período em que se pode formar um cidadão plenamente alfabetizado. E, por óbvio, um futuro consumidor dos conteúdos produzidos pelas já então reconfiguradas empresas da nova mídia. A decisão dos Civita constitui um movimento indicador de que há algo de novo no horizonte. (Luiz Egypto)


Em uma transação de apenas dois meses, a Abril Educação adquiriu 100% do Anglo, conhecido pelos seus sistemas de ensino e curso pré-vestibular. A negociação é o pontapé inicial da Abril Educação para uma fase de fusões e aquisições de empresas ligadas à área de ensino.


A compra do Anglo foi feita pela família Civita e não pela Abril S.A. Em janeiro, a Abril Educação foi separada do grupo, que continua tendo o sul-africano Naspers como sócio, com 30%. Hoje as editoras de livros didáticos Ática e Scipione e os sistemas de ensino Ser e Anglo pertencem a Roberto Civita e seus três filhos.


Ao adquirir o Anglo, a Abril Educação deixou para trás concorrentes de peso como a inglesa Pearson, dona do Financial Times, e a espanhola Santillana, que também disputaram a empresa brasileira, considerada uma das mais renomadas entre os sistemas de ensino. ‘A participação dos grupos internacionais deixou o jogo mais emocionante. Vou ligar para a Marjorie [Scardino, CEO da Pearson]’, disse, sorridente, Roberto Civita, presidente do conselho de administração do grupo Abril. O contato com a sua colega Marjorie não é à toa. Em 2008, a Pearson tentou comprar, sem sucesso, as editoras Ática e Scipione e agora perdeu a disputa para a Abril.


O valor da transação não foi divulgado. Segundo o ex-sócio do Anglo Guilherme Faiguenboim, o Crédit Suisse avaliou a empresa em R$ 600 milhões, mas o mercado é unânime em afirmar que esse valor é muito alto. Segundo estimativas feitas pelo consultor especializado em educação, Ryon Braga, a transação saiu, no máximo, por R$ 450 milhões, considerando que o Anglo faturou R$ 150 milhões em 2009 e a margem lajida (ou ebtida) é de 50%. ‘O mercado não paga mais do que seis vezes o ebtida para uma instituição de ensino’, diz o consultor. ‘Mas pode ter chegado até R$ 450 milhões porque o Anglo é a bola da vez. É uma das últimas empresas de sistemas de ensino que não estavam nas mãos de grupos consolidadores’, observou Ryon. Com o Anglo, Civita comprou também cursinho para vestibular e para concurso público.


Abertura de capital


A Abril Educação entra para o grupo das cinco maiores empresas de sistemas de ensino do país, com mais de 330 mil alunos. Até então, a Abril tinha 85 mil alunos usando as apostilas do sistema Ser. Seus principais concorrentes são Positivo, Objetivo, além do COC e Pitágoras. Estas duas pertencem, respectivamente, a SEB e Kroton, que já estão na bolsa.


‘Com o Anglo vamos entrar na área pública, onde o Ser não atuava. Existe um grande mercado a ser explorado’, disse Manoel Amorim, novo presidente da Abril Educação. Ele, que estava na instituição americana Laureate até maio, teve como primeira missão comprar o Anglo. ‘Nossa meta é aumentar, em cinco anos, a atual receita de R$ 500 milhões para R$ 2,5 bilhões, o equivalente ao faturamento da Abril’, disse Civita, que recebeu a reportagem do Valor na tarde de ontem [12/7], ao lado de Amorim, na sede do grupo Abril. Para atingir esses patamares, a Abril Educação inicia um forte processo de expansão, que inclui mais aquisições e eventuais fusões. Estão no foco ensino profissionalizante, idiomas e ensino à distância. ‘A ideia é diversificar nossa atuação’, disse Amorim, que já está em conversações para fechar um novo negócio, a ser concluído ainda neste ano.


A operação do Anglo dentro da Abril será comandada pelo próprio Guilherme e seu filho Assaf Faiguenboim, que foram contratados como executivos da Abril. O outro sócio, Emílio Gabríades, vendeu sua participação de 50% e saiu totalmente do negócio. A outra metade estava dividida entre Guilherme e sua irmã.


Outro projeto que pode ajudar a Abril Educação a aumentar sua receita em cinco vezes é um IPO (oferta inicial de ações). ‘Achamos que podemos nos financiar, abrindo o capital’, diz Civita. E ir à bolsa tendo o estrangeiro Naspers como sócio não seria possível. Amorim observou que o IPO poderá ser feito bem antes de a empresa chegar a um faturamento de R$ 1 bilhão.


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Com Naspers, grupo vai focar em mídia e internet


Com a compra do Anglo, o Grupo Abril, o maior do país no setor de revistas, tem nova configuração e nova estratégia. Sem a área de educação, que fica nas mãos da família Civita, o grupo foca em mídia e internet, com planos de expandir as áreas de distribuição e gráfica.


‘O Naspers, nosso sócio, não quer investir em educação. Ele quer mídia e internet. Com a separação, podemos fazer as duas coisas’, disse ao Valor o presidente do conselho de administração do Grupo Abril, Roberto Civita.


O grupo de mídia sul-africano Naspers, que ficou com 30% da Abril em 2006, comprou no terceiro trimestre do ano passado 91% do site de comparação de preços Buscapé, por US$ 342 milhões. Nos últimos quatro anos, o sócio da Abril já investiu mais de US$ 800 milhões em aquisições no Brasil.


Brilho nos olhos


Para Roberto Civita, o futuro das publicações impressas – revistas ou jornais – passa pela internet. Mas países em desenvolvimento como Brasil, China e Índia, ainda há muito espaço a ser explorado pela mídia impressa. ‘O Brasil vende duas revistas per capita/ano. Em país de primeiro mundo essa relação é superior a 20’, diz Civita, que não abre mão de imprimir em seu cartão de visitas o cargo de ‘Editor de Veja‘. Essa é a revista semanal mais vendida no país e significa 40% do negócio de revistas da Abril. Tamanha dependência, diz o empresário, só será reduzida com o lançamento de novas revistas.


Neste ano foram lançados dois títulos: Minha Casa e a feminina Máxima. As duas são dirigidas para a classe média emergente. A primeira, que fala de decoração, teve todos os 250 mil exemplares da primeira edição vendidos. Em agosto deve começar a circular a masculina Alfa, mais sofisticada do que a Playboy. E até o fim do ano, mais uma feminina deve chegar às bancas.


Os olhos de Civita brilham quando o assunto é ‘revista’. Lembra-se que tem dados fresquinhos na sua sala. Quando volta, traz um papel: a audiência total da Abril é de 42 milhões de pessoas – 21 milhões leem revista e não acessam sites do grupo; 14 milhões não leem revista, mas acessam os seus sites e 7 milhões fazem as duas coisas. ‘Você vê? Estamos em um mundo novo!’. (CM e BK)


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