Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Estudantes de Jornalismo, uni-vos!

Os profissionais de relações públicas reclamam seu legítimo direito de exercerem a atividade de assessoria de imprensa, que há mais de três décadas vem sendo assumida e praticada por jornalistas. Assessoria de imprensa não é mesmo uma atividade jornalística.

Para os jornalistas assessores de imprensa isto pode ser um pesadelo, um choque Pitágoras-Santo Tomás de Aquino, como descreveu o colega professor Boanerges Lopes [ver remissão abaixo], e o negócio é ir tocando em frente, no melhor estilo da música de Sérgio Reis. Sempre contam com um forte aliado, que é ‘o direito adquirido’.

Mas, e os milhares de estudantes de Jornalismo existentes em todo o país, como ficam? Diante de um mercado de trabalho limitado, a assessoria de imprensa vinha sendo a alternativa nesses últimos anos para quem deixava as faculdades de Jornalismo. As novas alternativas para a colocação dos futuros jornalistas deverão ser encontradas pelas faculdades, em primeiro lugar, pelos próprios estudantes atuais de Jornalismo e pelos sindicatos de representação da classe, além dos colegas jornalistas e qualquer outra pessoa que possa contribuir para a solução.

Enquanto se luta com grande ímpeto para assegurar uma boa fatia das assessorias de imprensa nas mãos dos jornalistas, indevidamente, como já vimos, estamos deixando escapar um mercado ainda mais potencial, que são as atividades jornalísticas criadas com a internet. Elaboração de texto informativo, edição, fotografia e ilustração, bem como pauta de abordagem e de assuntos e outros trabalhos do campo editorial estão surgindo e muitos deles vêm sendo preenchidos por outros profissionais que atendam ao interesse e à exigência desse mercado.

De blogs a jornais

Já temos o exemplo dos diagramadores, que viram sua atividade invadida por ‘formatadores de páginas’, que assumiram o trabalho de diagramação direta no computador dos jornais e revistas segmentados, como jornais de bairro e publicações de classe profissional. Os formatadores são em geral jovens que emergiram do segundo grau para cursos técnicos de informática e agora até são chamados de ‘diagramadores’, numa situação tão irregular quanto a do jornalista na assessoria de imprensa.

Não será difícil, dentro de pouco tempo, encontrarmos uma situação similar da diagramação exercida por não-jornalistas, agora com as demais atividades do jornalismo, no campo da internet. A cada dia aumenta o número de sites e trabalhos de comunicação com o público. Ao mesmo tempo em que cresce o número de sites, surgem também jovens de nível médio, principalmente, com talento suficiente para desempenhar o papel do jornalista, embora deixando a desejar do ponto de vista profissional, evidentemente.

É preciso tomar uma posição e uma ação em relação a este fato incontestável de desvio de função, desta vez contra os jornalistas. Muito mais do que uma reserva de mercado, há necessidade de preencher os espaços que surgem, o grande fator da usurpação das atividades jornalísticas, na internet, no momento.

A expansão da internet vem trazendo o surgimento não somente de sites, mas de veículos de comunicação dos mais diversos. Muitos blogueiros já deixaram de ser janela pessoal, para se tornarem jornais online, como o Blig do Noblat, entre tantos outros. A facilidade de se colocar uma página virtual e a supersegmentação de leitores são dois fatores que abrem caminho para que qualquer um organize um público. O Jornal da Facha, dos alunos da Hélio Alonso, no Rio, é um exemplo de blog, no iG, destinado à comunicação interna que agora já alcança outros públicos.

Potencial a aproveitar

É preciso, no entanto, não se entusiasmar demais com esta idéia e sair a campo como franco atirador. O mercado é para profissionais. Assim, jornalistas e estudantes de Jornalismo podem compor boas equipes e começar a ocupar o espaço que lhes pertence. Lembrem-se dos filmes de guerra: a aviação se defende melhor e obtém melhores resultados quando os aviões se mantêm unidos. O mercado é uma atividade de guerra. Nada demonstra o contrário. Mas, jornalista vive de ação. É melhor amassar barro numa enchente que ficar ‘cozinhando’ na redação. Assim, a realidade em que vivemos é um convite para a aventura responsável de se criarem grupos para atuar na internet, de preferência, e até no jornalismo impresso segmentado e meios eletrônicos que possam estar à disposição.

Acredito muito nesta iniciativa de grupos organizados para ocupar os espaços de mídia jornalística que hoje estão à disposição. A Gradiente é, sem dúvida, a maior indústria eletrônica nacional, hoje. Mas, sua história (e a de seu líder, Eugenio Staub) começou naquelas iniciativas pioneiras da Faculdade de Engenharia Industrial, a FEI, de São Bernardo do Campo, ABC paulista, no fim da década de 60 e início dos anos 70. A formação de grupos que criaram automóveis, eletrodomésticos e sistemas de som inéditos, que aconteceu ali em São Bernardo, iria se repetir, anos mais tarde, no Vale do Silício (Califórnia, EUA), no campo da informática. A única diferença era a geografia e Steve Jobs e Bill Gates foram favorecidos por estarem nos Estados Unidos.

O Brasil, por alguma característica especial de seu povo, tem se saído muito bem em futebol, Fórmula 1 e, agora, internet. Temos até o maior número de hackers do mundo! Temos que aproveitar este potencial.

Qual é a sua idéia?

O melhor caminho, a meu ver, para se organizarem grupos de estudantes de Jornalismo ou de jornalistas (ou mistos) seria a constituição de cooperativas. Não é coisa nova no meio: nos anos 60, um grupo de profissionais que participou do lançamento da revista Realidade (Editora Abril) acabou fundando uma cooperativa, que desenvolveu vários trabalhos importantes, como a revista O Bondinho, inicialmente para o Grupo Pão de Açúcar e depois publicação independente, e o JornaLivro, jornal desenvolvido a partir de textos de livros, mas que tinha muito a ver com a realidade brasileira daquele momento. Anos depois, apesar de a cooperativa ter ficado para trás, o grupo, que se manteve, acabou desenvolvendo um importante trabalho na TV Globo, que foi o Bom Dia, São Paulo, um estilo bem diferente de telejornal.

Infelizmente, a proliferação de cooperativas de trabalho, nos dias de hoje, deturpou sua finalidade. Há muita gente dirigindo cooperativas de exploração de pessoas, ameaçando o mercado de trabalho, com ofertas vantajosas para empresários, mas danosas para a categoria profissional.

A cooperativa de trabalho para estudantes de Jornalismo e jornalistas, aqui sugerida, tem a finalidade específica de unir um grupo em torno da idéia de realizar a implantação e o desenvolvimento de projetos jornalísticos, seja um site, um jornal ou uma revista. E que este veículo possa ocupar espaço no mercado, trazer experiências profissionais diversas ao grupo e que venha até se tornar uma nova fonte de trabalho para estes jornalistas e outros que virão no futuro.

Qual é sua idéia para iniciar um grupo e uma cooperativa de trabalho?