O brasileiro é conhecido pelo ‘jeitinho’ que dá a todas as coisas. Principalmente nos chamados ‘anos de chumbo’, quando um simples resmungo contra o governo era punido com tortura e mesmo a morte, muitos músicos procuravam dar um jeitinho fazendo canções cuja letra ambígua escondia fortes críticas aos militares. Os tempos mudaram e a democracia voltou, porém, a manipulação, os subornos e a própria censura continuam, mesmo que disfarçadamente, numa capa de liberdade. No contexto desse ‘jeitinho’ brasileiro, o jornalismo literário vem fazer exatamente o que as músicas na ditadura militar fizeram: expressar opinião de uma forma artística, interessante e atrativa.
No olho do furacão, do jornalista e professor universitário Ruben Holdorf, chegou para atuar na linha de frente desse gênero jornalístico que cada vez mais conquista espaço. O livro discorre sobre dois assuntos intimamente relacionados: corrupção e valores. Duas histórias de intenso jornalismo investigativo, em que política e religião são as capas para pessoas importantes revelarem sua identidade mais cruel. Sem dúvida, o Brasil passa por uma das maiores crises de corrupção de sua história, políticos e empresários roubam os cofres públicos para satisfazer seus interesses. Na segunda história, dois repórteres do Correio Sulista apuram um golpe milionário num banco estatal tendo a participação de grandes políticos e empresários, de forma que o livro se torna um excelente objeto de discussão, já que trata de um assunto que o país vive precisamente agora.
A realidade da profissão
A religião, que hoje serve aos interesses de muitos líderes espirituais, é o foco da primeira história. Os dois repórteres, Rudy Axelvedra e Alfredo Razek, investigam um caso de assédio sexual do líder de um grupo religioso, e a trama revela como princípios filosóficos e éticos são quebrados facilmente quando se trata de poder e prestígio.
Paralelamente, o livro mostra a realidade da profissão de jornalista, o estresse das redações, a pressão da direção, a angústia do fechamento, a emoção de uma investigação, as ameaças de morte e as glórias de uma matéria bem-estruturada e seu resultado impactante. Tudo isso entremeado de conceitos jornalísticos e comportamento ético dos repórteres e o compromisso com o jornal e a verdade, sendo o mais imparcial e concreto possível.
O livro toca num ponto importante, que o faz ainda mais atual: a eterna controvérsia entre práticos e teóricos do jornalismo. Denunciando as ‘fábricas de diplomas’ e a falta de compromisso com os alunos em muitas universidades, o autor propõe um ensino de Jornalismo com foco em ‘exercício, treino e estágio preparatório para as funções práticas e exigências sociais de mercado’. Assim, expondo opiniões sobre a política brasileira no contexto da agitada vida do jornalista, No olho do furacão se serve ao máximo da liberdade de expressão.
O autor do livro, Ruben Holdorf, é jornalista, mestre em Educação e atuou nos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná, onde se destacou como o primeiro editor online. Atualmente é professor de Jornalismo no Unasp, cujo trabalho mais importante foi a criação da revista eletrônica Canal da Imprensa. Autor do livro Liberdade vigiada, Holdorf pretende continuar produzindo na área do jornalismo literário.
******
Estudante de Jornalismo do Unasp, São Paulo