As eleições para a diretoria e conselho nacional de ética da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), ocorridas na semana passada, revelaram um dado, no mínimo, inquietante: cresceu o índice de abstenção entre os jornalistas aptos ao voto.
Na eleição passada, em 2007, estavam aptos a votar 14.489 jornalistas, dos quais só foram às urnas, efetivamente, 5.429. Este ano, apenas 11.305 estavam aptos ao voto (ou seja, em dia com as tesourarias dos 29 sindicatos federados). Significa dizer que mais de 3 mil jornalistas se puseram inadimplentes ou se desfiliaram dos sindicatos nos últimos três anos, num Brasil onde não se exige mais diploma superior para o exercício desta profissão – o que dizer do ingresso em sindicatos.
Aqui na Paraíba, essa constatação é reforçada já que, em 2007, o número total de votantes aptos era de 204, mas agora caiu para 143, dos quais 133 puseram efetivamente a cédula na urna, pelas informações da comissão eleitoral, tendo à frente o próprio presidente do sindicato local.
No município do Rio de Janeiro, segundo maior colégio eleitoral do país da nossa categoria, em 2007 havia 1.989 jornalistas aptos ao voto; este ano, apenas 625. Em Minas Gerais, onde 1.137 jornalistas estavam aptos a votar na eleição passada, votariam agora somente 437, dos quais cerca de uma centena foi realmente às urnas.
O estado de São Paulo teve um singelo acréscimo no número de pessoas aptas ao voto, provavelmente em decorrência de novos filiados ao sindicato. Em 2007, eram 3.039 com direito ao voto, dos quais apenas 678 foram efetivamente às urnas. Este ano, eram 3.182 com condições de votar, sendo que deste contingente apenas 699 foram de fato às urnas.
Aversão e apatia
Mas, voltando ao quadro paraibano, o que mais nos surpreendeu foi a queda brusca no número de jornalistas aptos a votar, ou seja, aqueles que se encontram em dias com a tesouraria do ‘nosso’ glorioso sindicato. Fazendo uma continha rápida: se na última eleição local, no dia 16 de setembro de 2008, apareceram para votar mais de 350 jornalistas, todos rigorosamente em dia com suas obrigações sindicais, significa dizer que, nos últimos dois anos, mais de 200 jornalistas paraibanos deixaram de contribuir ou se desligaram do ‘nosso’ sindicato.
Podemos imaginar algo ainda mais aterrador, como supúnhamos naquela época: cerca de 200 jornalistas teriam quitado seus débitos com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba, naquele período, apenas para votar contra a chapa Novos Rumos, que tive a honra de liderar naqueles meses inesquecíveis entre 2007 e 2008. Evidentemente, há uma zona cinzenta na conferência destes números.
São situações como esta que afastam, paulatinamente, os jornalistas de suas entidades de classe, fazendo com que, ano a ano, cresça a aversão dos jornalistas mais críticos e autônomos ao movimento sindical, especialmente aqueles que possuem graduação superior na área. É um fenômeno que só fez crescer no Brasil, de forma mais acentuada e clara a partir do final do século passado, com a chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores e a cooptação de lideranças sindicais para os quadros da gestão pública federal.
A eleição na Fenaj é mais um reflexo da apatia da classe trabalhadora com as estruturas viciadas de representação sindical. Uma abstenção eleitoral que ultrapassa os 7 mil jornalistas (quase o dobro do número de votantes) só deve ser entendida como um boicote evidente dos trabalhadores que não confiam mais nos sindicalistas que dizem representá-los na batalha do cotidiano contra os patrões.
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Jornalista graduado pela UFPB, com mestrado em Comunicação pela UFPE e ex-diretor de mobilização do SJPEPB