Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A imprensa complacente

Nestes tempos eleitorais, parece que a ética, os compromissos com a informação e seriedade são esquecidos, tanto na grande imprensa quanto na dita ‘imprensa independente e democrática’, aí incluindo certos portais da internet. Afinal, política, interesses comerciais e a garantia de milhares de cargos no atual governo falam mais alto. Qualquer princípio é esquecido.


Hoje, assistimos por aqui a um verdadeiro ‘capitalismo reverso’: falta luz, estradas esburacadas, a televisão em alta resolução não passou de uma farsa comercial com meia dúzia de canais; o gás ficou mais caro com o pretexto que o gás natural seria (o que não foi verdade) mais eficiente. Telefones, mesmo sendo o serviço mais caro do mundo, não funcionam. E a imposição das novas tomadas elétricas de três pinos? O governo esqueceu de avisar às empresas elétricas que deveriam instalar um fio terra – desperdícios para o consumidor, lucro para alguns. Para não falar no caos aeroportuário, violência generalizada, corrupção galopante nos poderes da República. E da Educação… Nem falar. Afinal, em ‘time que está vencendo’, político não mexe.


A revista Veja, eleita pelo populismo petista como símbolo máximo da direita, agora é poupada de críticas, já que elegeu Aldo Rebelo como ‘um comunista de bom senso’ no governo Lula. Veja foi secundada por O Globo por seus novos-velhos cronistas.


Aqui, o interesse comercial predatório falou mais alto. Desmatadores, criminosos ambientais, escravistas, exploradores da fé religiosa e até coisas piores estão muito bem representados nas bases de apoio político de Lula, de Serra e até de Marina (com ela está a família Sarney e o atraso religioso). Mas não vamos exigir tanto. A nossa imprensa poderia apenas informar um pouco mais a nossa sociedade, perguntando e esclarecendo junto à candidata preposta de Lula sobre certas tarefas prometidas e não realizadas. Afinal, para administrar um país, além de competência, a seriedade no cumprimento de promessas.


Caos nos transportes aéreos


O artigo 37 de nossa Constituição Federal diz que a administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. Teorizando sobre a prática da censura, Dilma Rousseff afirmou: ‘Vivemos uma dupla pressão. Entre transparência e segurança, vamos ter de achar o ponto correto.’ Ela afinal, defende ou não a censura? Será que desconhece a Constituição brasileira?


Quando ministra de Minas e Energia de Lula, um acontecimento memorável foi o incêndio nos escritórios da Eletrobrás, no Rio de Janeiro, com a destruição de documentos que só Deus sabe. Mas, com maestria, saiu-se bem, pois os principais atores deste teatro acabaram nomeados como conselheiros da Itaipu binacional. Como um fato como este ficou impune?


Poucos devem se lembrar que em 2004 Lula escolheu Dilma Rousseff para coordenar o então Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento, que envolveria a ação de 13 ministérios para estancar a sangria da Amazônia, que hoje chegou a níveis incontroláveis. Mas nada foi feito e a ministra preferiu ficar anunciando planos mirabolantes referentes ao petróleo e infra-estrutura e ir fazendo a sua carreira. Se a ministra cumprisse o seu dever, o megadesmatamento no Brasil não seria evitado? E as enchentes e catástrofes não teriam sido agravadas por este descaso?


Com o início do apagão aéreo, a mesma conversa. Com a sua suposta competência, Dilma coordenaria todos os órgãos envolvidos até acabar com a crise aeroportuária. Mas, mesmo declarando ‘ser fácil acabar com este sofrimento imposto aos passageiros’, nada fez, e hoje temos um verdadeiro caos no sistema de transportes aéreos.


O princípio de Peter


Para não nos alongarmos muito, devemos lembrar que esta ministra ordenou que os ministérios transferissem os documentos da época da ditadura militar para o Arquivo Nacional, obtendo como resposta do Exército, da Marinha e da Aeronáutica a informação de que toda esta documentação havia sido destruída. Como uma boa burocrata, exigiu das Forças Armadas a apresentação dos autos oficiais que comprovem esta destruição. Mas anos após esta ordem, continuou esperando passivamente. Quem sabe para não causar problemas ao atual ministro da Defesa, que fala grosso, mas canta fino para sua tropa?


Finalmente, sugiro a releitura de um livrinho que fez sucesso na década de 70, intitulado Todo mundo é incompetente, no qual os autores J. Peter e R. Hull discutem as leis da incompetência, que são pautadas pelo princípio de Peter, que demonstra que em geral os cargos administrativos são ocupados por pessoas incompetentes, promovidas como merecimento por competências demonstradas em cargos inferiores. Para adaptarmos estas leis de Peter no Brasil, temos de tomar alguns cuidados, pois por aqui as promoções e cargos são mais em função da capacidade de chantagem em função de cotas partidárias.

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Físico e escritor; seu blog