Em Jornalismo Opinativo, José Marques de Melo, partindo da ideia de que os discursos jornalísticos nas suas diversas vertentes engendram lugares simbólicos por onde transita o inconsciente, equaciona com originalidade – considerando as tendências do conhecimento científico no jornalismo – alguns aspectos fundamentais desse processo comunicativo.
Para tanto, o autor teve a necessidade de confrontar os pressupostos desenvolvidos pelos americanos e europeus, constatando de modo geral que nos primeiros predomina uma disposição analítica comprometida com a intencionalidade do emissor, enquanto nos segundos ganha mais destaque o estudo das estruturas do conteúdo. Mas, de qualquer maneira, não há dúvidas de que ambas as escolas lidam com os fenômenos da comunicação jornalística deixando fora do circuito a problemática do sujeito e caindo, com frequência, em premissas de natureza sociológica comprometida, ora com o pragmatismo de uma sociedade consumista, ora com o cientificismo que se legitima em conceitos fechados de verdade.
Em razão disso, e pressentindo a necessidade de centrar sua análise na linguagem, o estudo brasileiro feito por Marques de Melo e Cremilda Medina, entre outros, se estrutura sobre o princípio dialético de que, para a formulação adequada de um estudo científico no universo comunicacional, as relações entre a linguagem, a comunicação jornalística e o poder, se faz necessário efetuar um deslocamento radical das teorias atreladas ao socialismo contextual e à primazia do significado.
O jogo das relações com o simbólico
Com esse objetivo, acredito que seja possível perceber, amparando-me em conceitos lacanianos, que o estudo em jornalismo somente chegará à dimensão do humano no momento em que os estudos se percebam como habitantes da linguagem. Nesse sentido, o pensar científico no seio do jornalismo deixa em evidência que, nos processos de comunicação, tanto o emissor quanto o receptor estão implicados no fundamento da dependência dos significantes da linguagem.
Nessa perspectiva, o discurso jornalístico, enquanto fenômeno da linguagem, surge, em princípio, como cadeia significante, como lugar simbólico onde a mentalidade expressiva se organiza de modo a formar unidades indiciais. Assim concebido, o discurso científico na esfera do jornalismo institui, por intermédio dos estudos linguísticos feitos por Lacan, quatro lugares indispensáveis: o lugar do agente, o lugar do outro, o lugar da produção e o lugar da verdade. Nesse caso, o percurso pressuposto pela cadeia do significante se expressa como um caminho que determina esses lugares e estes, por sua vez, consubstanciam o conteúdo jornalístico, fazendo com que a ideologia do jornalismo se defina no complexo jogo das relações com o simbólico.
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Estudante de Jornalismo, Recife, PE