Os principais jornais do país apresentaram, neste fim de semana, um balanço desapontador das Comissões Parlamentares de Inquérito que tramitam no Congresso. Quem esperava ver comprovadas as acusações de transferência de dinheiro do erário para parlamentares em troca de votos favoráveis aos interesses do governo, por exemplo, terá de administrar a constatação de que não é possível estabelecer uma relação direta entre os saques efetuados em contas suspeitas do empresário Marcos Valério e as posições adotadas nas votações. Em alguns casos, desde a posse até a presente data, a oposição chegou a contribuir com mais votos, proporcionalmente, para o sucesso de propostas de interesse do Executivo do que os partidos acusados de se vender ao governo.
Da mesma forma, quem sonhou em ver o Congresso levar até o fim a lavagem intestina que foi iniciada pelas acusações do deputado cassado Roberto Jefferson está mais próximo de se deparar com um processo longo e de poucos resultados em termos de punição e mudança de hábitos. O troca-troca de legendas foi rápido e seus resultados ainda permanecem indefinidos quanto a uma nova configuração de forças no Parlamento e seus efeitos nas eleições do ano que vem. É bem possível que, picados pela mosca azul, alguns dos personagens que souberam aproveitar os holofotes dos depoimentos nas CPIs venham a embaralhar o jogo eleitoral, dificultando o trabalho dos analistas e lançando na obsolescência algumas pesquisas prematuramente publicadas sobre intenções de voto.
Por enquanto, ficamos com a certeza de que o PT, como outros partidos, usou em sua campanha presidencial e em alguns estados recursos não-contabilizados. Também nos foi apresentada a notícia requentada segundo a qual muitos políticos – bem como empresários, artistas e jogadores de futebol – seguem protegendo seus patrimônios no exterior sem cumprir a contrapartida tarifária de lei. No mais, corremos o risco de ter havido muito barulho por pouco.
Aprendemos pouco
Ganham os corruptos, perde a sociedade. Mas perde também a imprensa, que se transformou de meio em protagonista dos fatos, manipulando informações, adiantando condenações e promovendo um festival de editoriais ‘definitivos’ sobre matérias controversas.
O interesse do público ficou retido ao caráter de espetáculo – deprimente –, em vez de servir como suporte para o aprendizado coletivo sobre a construção do projeto democrático de que necessitamos. Os jornais não venderam mais, não há indícios de que tenham recuperado alguma credibilidade, engajaram-se no mais descarado partidarismo desde a campanha eleitoral de Fernando Collor de Mello e não podem se sentir seguros de haver alcançado seus objetivos.
A desconstrução da figura do ex-metalúrgico eleito presidente não se completou. Claro que ficam armazenados poderosos obuses que, bem manuseados pelos marqueteiros, podem fazer grandes estragos na campanha eleitoral do ano que vem, se ele mantiver a disposição de disputar a reeleição. Mas não há garantias de que as premissas que conduziram as escolhas editoriais tenham se enraizado suficientemente nas convicções dos eleitores a ponto de assegurar uma vitória da oposição.
Os fundamentos da economia resistiram às turbulências políticas, o interesse do leitor pelo assunto tende a cair conforme se aproxima o fim do ano, distraído pelo referendo sobre venda de armas e por falcatruas setoriais, como a que atinge o campeonato brasileiro de futebol. No fim, nem poderemos saber, ao certo, se o que houve foi uma pizza geral ou se, de fato, nunca aconteceu o pagamento de ‘mensalão’ em troca de votos. Bandidos de variados escalões seguirão se exibindo na propaganda eleitoral e teremos aprendido pouco, muito pouco, deste que foi apresentado pela imprensa como ‘o maior escândalo de todos os tempos’.
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Jornalista