Os leitores da Folha de S.Paulo foram ‘brindados’, na edição de sábado (16/4), com a visão do assassino que matou doze crianças numa escola do Rio de Janeiro, na qual ele faz mira e aponta o revólver calibre 38 diretamente para a câmera. A imagem, que ilustrava um texto curto noticiando o encerramento das investigações policiais sobre o massacre, causou impacto entre leitores, alguns dos quais manifestaram sua indignação em mensagens à Redação.
Dias antes, a imagem do assassino apontando a arma para sua própria cabeça, exibida no portal Terra, também, havia produzido protestos. Alguns leitores se declararam nauseados com o que consideram excesso na exposição do criminoso.
Há quem considere que a exposição de sua imagem, em posição de poder e autocontrole, pode estimular outros psicopatas a romper seu isolamento e resolver ‘acertar contas’ com o mundo.
Tudo liberado?
Independentemente, porém, de interpretações ou de afirmações mais ou menos científicas sobre o que se passa na cabeça de pessoas doentes, é possível estabelecer um debate sobre critérios jornalísticos.
A rigor, que função informativa tem a imagem do assassino ensaiando diante de uma câmera, com a barba grande, o olhar frio por trás da mira? Em que sentido essa fotografia, exposta na primeira página de um jornal que pretende ser levado a sério, contribui para ajudar a entender o episódio? Ou será que a Folha de S.Paulo abandonou de vez a distinção entre o que se costumava chamar de ‘imprensa marrom’ e ‘grande imprensa’?
A julgar pelo comentário da ombudsman do jornal paulista, Suzana Singer, publicado do domingo (17/4), é questão de medir o grau de ‘sensacionalismo’ da escolha editorial. Ela diz que ‘são desagradáveis’ as fotos do assassino colocando o leitor sob a mira do revólver. Mesmo assim, na sua opinião, ‘é melhor ter a opção de virar a página rapidamente do que nem ter essa opção’.
Epa! Então, está tudo liberado. Vamos publicar fotos pornográficas e escabrosas na primeira página, pois o leitor tem ainda a opção de virar a página rapidamente.
Ou assinar outro jornal.