"07/03/2005
Nesta SEGUNDA, Folha e ‘Valor’ dão manchete para o mesmo assunto, a distribuição de dividendos para acionistas de empresas de capital aberto, mas com enfoques completamente diferentes. Na Folha, ‘Dividendo pago a acionistas cresce 51%’; no ‘Valor’, ‘Distribuição de dividendos cresce menos do que os lucros’. Na Folha, o estudo é da Bovespa e o ponto de vista é do mercado de capital; no ‘Valor’, o estudo é da Economástica, com um universos provavelmente menor de empresas pesquisadas, mas o ponto de vista é o dos acionistas.
Não há, no DOMINGO e hoje, um assunto predominante, e cada jornal pôde destacar os temas em que investiu. O resultado é tíbio:
DOMINGO
Folha – ‘Ação do governo não inibe remessa ilegal do exterior’.
‘Estado’ – ‘Total de crédito no Brasil aumenta 50% em 2 anos’.
‘Globo’ – ‘Pedágios do Rio faturam por ano R$ 870 milhões’.
SEGUNDA
Folha – ‘Dividendo pago a acionistas cresce 51%’.
‘Estado’ – ‘Novos gargalos são ameaça à megassafra’.
‘Globo’ – ‘Gravidez tira da escola 25% das adolescentes’.
As revistas:
‘Veja’ – ‘A ciência do sangue’, sobre pesquisas na medicina.
‘Época’ – ‘A crise dos 20’, sobre carreira e primeiro emprego.
‘IstoÉ’ – ‘Vitória!’, a respeito da mobilização da sociedade na aprovação da Lei de Biossegurança e na rejeição ao aumento dos deputados.
SÁBADO
Ao noticiar, no sábado, a nomeação do porta-voz da Presidência André Singer para a acumular o cargo de secretário de Imprensa e Divulgação, o ‘Globo’ lembrou a carta que a Folha publicara, na véspera, em que Singer dizia que o atual secretário, Fábio Kerche, reunia todas as qualidades para ficar no cargo. É um detalhe pertinente, e não entendi por que a Folha o omitiu.
DOMINGO
A Folha começou antes, embora titubeante (como apontei na coluna de 13 de fevereiro). Mas neste domingo os três grandes jornais voltaram a tratar da questão indígena. Folha e ‘Globo’ fizeram um material extenso; o ‘Estado’, juntou a questão indígena com um levantamento a respeito do que chama de desencanto dos movimentos sociais com Lula. Antes tarde do que nunca.
Segundo o ‘Globo’, a Assembléia Legislativa de MS deve criar uma CPI para investigar se houve negligência e como está sendo feita a distribuição de cestas; e a OAB estuda algum tipo de ação contra os governos pelas mortes das crianças indígenas.
Há um aspecto interessante na reportagem do ‘Globo’, e que a Folha já havia mencionado mas sem explorar: a profunda rejeição que parece haver nas ‘elites’ e classe média de Dourados em relação aos índios da reserva. A rejeição e a animosidade, se reais, devem contribuir para aumentar ainda mais os fossos que separam as várias culturas envolvidas. Neste momento em que se discute políticas de integração e de compensação, um olhar na vida destas pessoas que vivem em cidades junto a reservas e um acompanhamento mais de perto das ações dos governantes locais podem ajudar a entender um pouco mais o drama dos índios.
A Folha esteve atenta e tratou com um pouco mais de profundidade alguns assuntos da semana. Mas tem um que foi mal dado quando ocorreu e continuou ignorado pelo jornal. Refiro-me ao encontro do ministro José Dirceu com Condoleezza Rice em Washington. O jornal tem uma grande matéria sobre a recuperação do prestígio do ministro (A14), mas com foco na reforma ministerial (‘Dirceu resgata prestígio e articula reforma’). Os leitores da Folha não têm ainda um relato detalhado do encontro nem uma análise do seu significado.
A propósito, um dos melhores materiais do ‘Estado’ neste domingo é a entrevista em que o historiador Luiz Felipe de Alencastro, no caderno ‘Aliás’, chama a atenção para a importância para a América do Sul da presença de Rice no Departamento de Estado.
O ‘Estado’ continuou ‘dentro’ da Febem (‘Pedrinhas. Quase crianças na Febem’). Bom material.
Assim como rendeu a ida da Folha à Baixada Fluminense (‘Vida de cachorra’, capa da ‘Ilustrada’).
Uma correção: Mesquita é município da Baixada. A reportagem localiza como zona norte do Rio, como se fosse um bairro da capital.
Resposta da Redação
Recebi, via Secretaria de Redação, resposta do editor de Ciência, Claudio Angelo, a propósito da nota ‘Biossegurança’ da Crítica Interna de sexta-feira:
‘É inegável que, com três páginas inteiras dedicadas ao assunto, o concorrente pareça de fato mais preparado na cobertura do futuro pós-Lei de Biossegurança. No entanto, o Estado se limita a fazer uma coletânea de tudo o que saiu nos jornais sobre o assunto nos últimos tempos, sem dar nenhuma informação nova que a Folha não tenha. O Ombudsman se esquece de mencionar que o furo do dia sobre o assunto é a reportagem de Cláudia Collucci sobre o número real de embriões congelados no Brasil, que as clínicas dizem estar superestimado’.
04/03/2005
É ruim a manchete da Folha, ‘Argentina corta dívida e sai da moratória’. É notícia antiga, todos os jornais (a própria Folha), Tvs, rádios e Internet já tinham dado. Até considero que o fim bem sucedido da moratória Argentina poderia ser o assunto da manchete, mas com alguma informação nova.
As outras manchetes também são de economia.
‘Estado’ – ‘Governo libera importação de aço’.
‘Globo’ – ‘Brasil derrota EUA na OMC e vai lucrar mais com algodão’.
‘Valor’ – ‘OMC abre caminho para corte de subsídio agrícola’.
‘Gazeta Mercantil’ – ‘Vale já é a terceira maior mineradora de todo o mundo’.
O ‘JB’ destaca a crise do sistema de saúde na cidade do Rio: ‘Prefeitura perde controle de verbas’.
‘Brasil’
Acho exagerado dizer que a Quarta Internacional ‘orienta’ o ministro Miguel Rossetto, como está no título da pág. A6. O que a reportagem informa é que ele foi pressionado pela Internacional e, segundo membros de sua corrente, as ordens da organização não foram acatadas. Não foi só ele quem reclamou dos cortes, vários ministros reclamaram.
Achei a reportagem bem feita e relevante para entender os meandros do PT, mas acho que um título mais correto deveria ser na linha de que o ministro vem sendo pressionado. Aliás, pressionado por todos os lados, como se vê agora: pelo movimento dos sem-terra, pelo governo (em busca de resultados), pelos proprietários de terra e pela Quarta Internacional. É um personagem.
Não ficou bem explicado, principalmente no texto publicado na Edição SP, se Anthony Garotinho poderá ou não se candidatar ao governo do Rio no caso da renúncia de sua mulher (‘Rosinha estuda renunciar para marido concorrer’, pág. A9 da Ed. Nacional e A8 da Ed. SP).
Segundo o ‘Estado’, treze crianças já morreram por desnutrição em Mato Grosso do Sul se somarmos as ocorridas em outra reserva indígena.
A Folha preferiu destacar os comentários sem novidades e óbvios do ministro José Dirceu a respeito da reforma ministerial que o governo pretende fazer do que o relato das conversas que teve ontem em Washington com membros do governo Bush. Não entendi a opção. Os títulos da reportagem já mostram a falta de novidade e a obviedade: ‘Articulação política está indefinida, diz Dirceu’ (pág. A9 da Ed. SP) e ‘PT não impõe obstáculo à reforma, diz Dirceu’ (pág. A11 da Ed. Nacional).
Biossegurança
O ‘Estado’ tem hoje, pelo segundo dia consecutivo, um material mais completo e didático do que o da Folha a respeito do que acontecerá a partir de agora com as pesquisas com embriões (‘Ciência’).
A sensação ontem e hoje é a de que o concorrente estava mais bem preparado (planejamento) para a cobertura, além de destinar mais espaço, o que se justifica pela importância das pesquisas e o interesse das pessoas.
Em relação aos transgênicos (‘Dinheiro’), a cobertura do ‘Estado’ vai além da repercussão.
Nassif
O jornal acerta ao trazer de volta a coluna do Luiz Nassif para um alto de página (A4). Embora não tenha recuperado o espaço nobre de uma página ímpar, tem mais visibilidade agora do que como estava, no pé da página A2.
Febem
Folha (‘Cotidiano’ pág. C3 da Ed. Nac. e C6 da Ed. SP) e ‘Estado’ entraram ontem na Febem e puderam relatar um pouco da vida dos garotos presos. A cobertura saiu dos números e aspas para uma reportagem com personagens, as mães e os adolescentes. O ‘Estado’ deu mais espaço para o relato, e o material que editou ficou mais interessante.
‘Esporte’
É claro que a apresentação, com entrevista, do novo técnico do Corinthians, ainda mais um nome como o de Daniel Passarella, é mais importante sob o ponto de vista jornalístico do que um balanço parcial de cem dias da parceria do clube com a MSI.
‘MSI, 100, perde de Excel e HMTF’ é um ótimo material de apoio. Mas a notícia mais importante é a apresentação do novo técnico, um nome conhecido no futebol internacional, para dirigir o maior clube de São Paulo.
Por estas razões não consigo entender a opção de edição do jornal na capa de ‘Esporte’.
Acho que, para quem gosta de futebol, a morte do Rinus Michels merecia da Folha mais espaço e mais histórias.
‘Mônica Bergamo’
As duas primeiras notas da coluna (‘Comitê Central’ e ‘Kramer x Kramer’) repetem as informações que estão na cobertura política do jornal, na pág. A4. A nota ‘Vai longe’ também traz informações já conhecidas.
03/03/2005
A aprovação da Lei de Biossegurança tarde da noite na Câmara dos Deputados mudou as manchetes da Folha e do ‘Estado’. A Folha começou a circular com o primeiro percalço do novo presidente da Câmara: ‘Severino desiste de aumentar salários’. Segundo o ‘Estado’, ‘Rombo da Varig já chega a R$ 9,5 bilhões’. O ‘Globo’ já começou a rodar com a aprovação da Lei de Biossegurança. As manchetes das últimas edições dos principais jornais foram:
Folha – ‘País libera uso de célula de embrião’.
‘Estado’ – ‘Câmara aprova a pesquisa com células de embrião’.
‘Globo’ – ‘Aprovado o uso de embriões em pesquisas contra doenças’.
Manchete do ‘Valor’: ‘Lula adotará medidas para cortar déficit da Previdência’.
‘Brasil’
O jornal deveria ter reproduzido hoje a íntegra do que o ministro Gilberto Gil dissera anteontem a respeito dos cortes no orçamento do Ministério da Cultura. Só assim seria possível o leitor avaliar se ele tem razão ou não na crítica que dirige à imprensa (‘Gil diz que imprensa é manipuladora, mas volta a criticar corte orçamentário’, pág. A6 da Folha).
Segundo o ‘Estado’, a polícia vai indiciar Geraldo Magela de Almeida Filho, braço direito da irmã Dorothy, e mais um trabalhador rural porque teriam ameaçado de morte um funcionário de uma madeireira. Não vi na Folha.
Ficou perdido no noticiário, tanto na Edição Nacional (meio da reportagem ‘Reforma pode ser a qualquer dia, diz Lula’, pág. A11) como na São Paulo (pé da pág. A14), a apresentação dos encontros que o ministro José Dirceu terá hoje em Washington com a Secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, e o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Stephen Hadley.
A propósito, reproduzo um trecho da coluna de Dora Kramer no ‘Estado’: ‘Chama a atenção de diplomatas a crescente presença do ministro da Casa Civil, José Dirceu, na agenda de política externa’.
Celebridades
Observei ontem na Crítica Interna que o ‘Estado’ havia se rendido à onda do jornalismo de celebridades por ter publicado, na primeira página e na sua página A20, a mesma foto do compositor Chico Buarque dando um beijo numa mulher na praia do Leblon. Segundo a nota ‘Imprensa’ na coluna ‘Ancelmo Gois’ (‘Globo’) de hoje, também a Folha teria publicado a foto em parte da edição de ontem. Não vi. As edições que recebi, a Nacional e a SP, não continham a foto. Se o jornal começou a rodar e se arrependeu, ótimo. Antes tarde do que nunca.
Biossegurança
Achei a edição da aprovação da Lei de Biossegurança bem mais completa no ‘Estado’ do que na Folha.
A Folha publicou a notícia (‘Câmara autoriza pesquisas com embrião’, pág. A18 de Ciência), um destaque para a aprovação dos transgênicos, uma arte e um artigo da cientista Mayana Zatz, que esteve à frente da pressão pela aprovação da nova lei.
O ‘Estado’, além da notícia, tem uma entrevista com a deputada Ana Cavalcanti, filha do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, e que fez pressão para que o pai ajudasse na aprovação da lei (na Folha, a entrevista, menor, está na Ilustrada, na coluna ‘Mônica Bergamo’), tem mais informações sobre a saída de Severino antes da votação (problema de saúde), e teve tempo e espaço para uma repercussão bem feita: ‘Cientistas criticam mistura de temas’, ‘Marina Silva sofre sua maior derrota no governo’ e ‘CNBB esperava debate mais cuidadoso’.
Varig
Novas informações sobre a gravidade da situação da Varig estão na Folha (‘Desconto para a Varig chega a 70%’, coluna ‘Mercado Aberto’, pág. B2), no ‘Estado’ (‘Rombo da Varig é de quase R$ 10 bi’, primeira página e capa de ‘Economia’) e no ‘Valor’ (‘Pior cenário indica que a dívida bruta da Varig pode ir a R$ 9 bi’). A melhor cobertura, pelas informações detalhadas e pelo destaque dado, é a do ‘Estado’, que teve acesso a um documento que classifica de confidencial, ‘Reestruturação da Varig’. A Folha não tinha tanta informação e deu um tratamento de nota de coluna.
Aliás, a nota da Folha se ateve à proposta do Unibanco e ignorou a informação, publicada pelo próprio jornal seis páginas adiante, de que o relator do projeto que analisa, no Congresso, uma saída para as dívidas da companhia aérea, Tasso Jereissati, rejeitou a proposta. No mínimo, deveria ter havido uma remissão.
Argentina
O jornal traz hoje um editorial (‘Êxito argentino’) e dois artigos relativos à renegociação da dívida da Argentina (‘Vitória da Argentina’, de Paulo Nogueira Batista Jr, ‘Engenharia da dívida’, de Luís Nasce). Mas ainda deve um bom material sobre a repercussão do acordo e mais análises. Como os organismos internacionais e as grandes economias que condenaram o encaminhamento das negociações estão reagindo agora? O caminho da Argentina é modelo para alguma outra economia? Seu exemplo poderá ser seguido? Kirchner sai mais forte? O estremecimento com o Brasil foi superado? O presidente argentino pareceu mudado no Uruguai, mais próximo do Brasil e da Venezuela. É possível uma negociação conjunta dos três países com o FMI ou é bravata dos presidentes?
02/03/2005
O crescimento recorde da economia brasileira em 2004 só não é manchete nos jornais de economia e nos jornais de banca. A Folha dividiu o alto da capa em dois destaques.
Folha – ‘Economia brasileira registra maior crescimento desde 94’ e ‘Sob pressão, governo adia elevação do IR’.
‘Estado’ – ‘PIB sobe 5,2% puxado por consumo’.
‘Globo’ – ‘PIB de Lula se iguala ao de FH’.
‘JB’ – ‘Consumo aquece economia’.
‘Correio Braziliense’ – ‘Crescimento da economia é o maior em uma década’.
‘Zero Hora’ – ‘PIB e exportações mostram força da economia no país’.
Os de economia:
‘Valor’ – ‘Alckmin negocia no BNDES operação socorro para Cesp’. O título para a notícia do PIB foge da euforia geral: ‘Ritmo de expansão do PIB cai a 1,7%’.
‘Gazeta Mercantil’ – ‘Venda recorde de US$ 8 bi em minério de ferro’.
‘Brasil’
Deve ter razão o Clóvis Rossi, que reclama que o país perdeu o senso de indignação (‘Ucrânia, Líbano, Brasil’, pág. A2). Só esta percepção explica o jornal ter dado tanto espaço para uma manifestação de 37 pessoas (‘Ato na Paulista mira em Severino’, pág A5, com foto). Quando a imprensa consegue contar um a um o número de participantes de uma manifestação é porque há algo errado.
Celebridades
O ‘Estado’ se rende à onda do jornalismo de celebridades e publica hoje, na primeira página e na sua página A20, a mesma foto do compositor Chico Buarque beijando uma mulher na praia do Leblon. A justificativa jornalística é a de que a foto está na capa de uma revista de celebridades.
Retomada
A Folha tem a cobertura mais crítica dos números do PIB entre os três grandes jornais. O jornal não briga com os resultados, mas desde o seu editorial (‘O crescimento do PIB’) levanta dúvidas em relação à continuidade do ritmo de crescimento. As ponderações contrastam com a euforia do governo. Há um esforço grande do jornal em entender os números e o contexto da economia. Acho que o jornal está certo.
As manchetes das capas dos cadernos de economia dos três jornais indicam as diferenças de enfoque:
Folha – ‘PIB sobe 5,2% em 2004, mas já perde fôlego’.
‘Estado’ – ‘Consumo faz PIB subir 5,2% em 2004’.
‘Globo’ – ‘O maior salto em uma década’.
‘Esporte’
O crédito de ‘Enviado especial’ deve ser usado quando o jornalista é deslocado para uma cobertura fora da cidade onde trabalha. Pelo que soube, o repórter que vem investigando o caso MSI em Londres vive naquela cidade. Neste caso, acho que o crédito deveria ser outro, do tipo ‘Especial para Folha’ ou ‘Correspondente’ ou algo assim. Enviado especial passa a idéia de que ele foi enviado de SP para Londres para a cobertura do caso MSI. O que não parece ser o caso."