O editor Eynulla Fatullayev já não tinha esperanças de deixar a prisão tão cedo, após ter sido condenado a oito anos e meio por escrever artigos que desagradaram ao governo do Azerbaijão. Mesmo com campanhas para sua libertação feitas pela mídia e grupos de defesa dos direitos humanos de todo o mundo, ele não esperava por justiça.
Ao ordenarem a pegar seus pertences, na semana passada, Fatullayev chegou a pensar que ia para uma prisão pior do que estava. Mas, na realidade, foi solto. Não tinha ninguém para recepcioná-lo na saída e o administrador do presídio não o deixou ligar para a família, mas fez questão de levá-lo em casa. “Só quero voltar a gerenciar um jornal”, contou ele. O editor entrou no presídio aos 29 e estava deixando o local aos 34 – com menos cabelos e barrigudo, por falta de exercícios. “Foi uma experiência terrível”.
Fatullayev mudou de diversas prisões e ficou muitas vezes em solitárias. Muitas organizações pediram por sua libertação – o comissário de direitos humanos do Conselho da Europa o visitou três vezes e, finalmente, ele conseguiu o direito de ler jornais. O presidente americano Barack Obama e a secretária de Estado, Hillary Clinton, também exigiram que ele fosse solto.
Censura
Depois que o seu editor no Monitor foi morto em 2005, ele criou dois jornais, um em russo e outro em azerbaijão. Seus problemas começaram quando ele descreveu uma gangue policial de criminosos, liderada por um vice-ministro que acabou sendo preso. Fatullayev escreveu que o ministro também era responsável e ele acabou processando o editor por difamação, o que lhe gerou multas e sentença de prisão em 2007. “O governo lembrou, de repente, que eu visitei o território de Nagorno-Karabakn em 2005”, disse ele, referindo-se ao local que é disputado entre o Azerbaijão e a Armênia. Por conta dos seus relatos da disputa, ele foi preso por 2 anos e meio, por insultar a honra e a dignidade dos refugiados azerbaijãos.
Outro artigo sugeria que, se os EUA e o Irão entrassem em guerra, o Irã atacaria o Azerbaijão. Ele foi, então, condenado por terrorismo. Uma outra matéria sobre a prevalência de tribalismo na política lhe rendeu condenação por incitar o ódio racial. “Seis meses depois, foi iniciada uma investigação nos meus jornais. Fui acusado de evasão fiscal. Peguei mais três meses de prisão”, relembra. Suas publicações foram fechadas e ele ficou, então, com um total de oito anos e meio de prisão.
Em abril de 2010, a Corte Europeia de Direitos Humanos determinou que ele não teve um julgamento justo e ordenou sua libertação. Antes de o pedido ser considerado, ele foi acusado de ter posse de heroína na prisão e recebeu uma sentença de mais dois anos e meio. Informações de Kathy Lally [Washington Post, 31/5/11].