Reunidos no Hotel Glória, no Rio, os diplomados em Jornalismo que atuam em assessoria de imprensa foram mais uma vez engabelados pelos sindicalistas pelegos que organizaram o encontro e conseguiram manter a questão das multas impostas pelos conselhos dos relações-públicas por invasão do mercado deles fora da pauta de debates. A lei do silêncio, denunciada pelo professor Boanerges Lopes em artigo aqui no Observatório da Imprensa [ver remissão abaixo], predominou. Ninguém teve coragem de exigir dos sindicatos, proposta que encaminhei de público para ser levada ao evento, o compromisso de pagar essas multas quando seus filiados fossem vítimas da fiscalização dos relações-públicas.
Preferiram insistir, como vaticinei, na falida campanha para criação do Conselho Federal dos Jornalistas (CFJ), projeto engavetado pelo Congresso Nacional sem sequer ser levado ao plenário para discussão. Sumariamente rejeitado depois que a maioria dos jornalistas de redação conscientes e éticos se manifestou contra esse texto corporativista que coloca o controle da imprensa nas mãos dos pelegos prepostos do governo.
A pelegada sempre poderá contar com políticos que vivem reapresentando projetos que nunca vão em frente apenas para contentar suas bases eleitoreiras. Estas propostas de lei ‘pega votos’ servem aos seus objetivos arrecadatórios. Todos estão, enfim, afim de amealhar os recursos dos incautos que pagam por um diploma, que desembolsam taxas, anuidades e mensalidades para sindicatos pelegos e faculdades picaretas sem verificar o que estão comprando. Como bons estelionatários, sabem que quem cai pela primeira vez na esparrela resiste em assumir suas perdas, preferem aumentá-las na esperança vã de um dia recuperar tudo.
Vejam meu pai, por exemplo. Mesmo depois que denunciei os golpes dos milicos com os planos de pecúlios no livro Ascensão e queda dos coronéis, ele continuou descontando em folha sua mensalidade para a Caixa de Pecúlio dos Militares (Capemi). Agora quando morreu, fui receber a ‘pensão’ religiosamente paga por 40 anos. Só a soma linear das mensalidades, sem juros ou correção, daria mais de 30 mil reais. Corrigido, seriam mais de 100 mil reais. Recebi pouco além de 8 mil reais. Do que papai pagou durante décadas ao Montepio da Família Militar (MFM) não sobrou nada, foi tudo roubado. Trilhões de reais de mais de 400 mil contribuintes se evaporaram. Sete bancos foram comprados com esse dinheiro, inclusive o poderoso Banco da Província do Rio Grande do Sul, que detinha um patrimônio considerável, para desaparecerem na poeira. Somente eu fui processado por denunciar o golpe. E absolvido. Os responsáveis nem indiciados foram. Alguns deles, como o ex-coronel Jarbas Passarinho, ainda estão dando lições de moral em artigos acolhidos por nossa imprensa venal.
Lembro bem de uma reunião das vítimas do MFM, quando uma senhora idosa investiu contra mim, considerando que minhas denúncias dificultavam a negociação com os milicos inescrupulosos que controlavam a instituição. Coitada, ainda esperava que eles pagassem alguma coisa. Assim como meu pai esperava que um dia a Justiça fizesse voltar ao patrimônio dessas empresas de pecúlio tudo aquilo que foi desviado por seus administradores corruptos. Assim como aquela senhora, muitos assessores de imprensa destilam seu ódio contra quem, no legítimo papel de jornalista, insiste em informá-los dos riscos que correm se não se habilitarem como RPs. O próprio presidente do Conselho Nacional dos Relações Públicas (Conferp) é diplomado em Jornalismo, mas tratou de complementar sua formação para conseguir o registro correto e defender a reserva para quem o fez e tem amparo legal para ocupar esse mercado.
A Carta do Rio (ver abaixo) ostenta, porém, uma ameaça velada aos jornalistas que acumulam cargos na imprensa e em assessoria de imprensa. Aparentemente, a pelegada resolveu combater a promiscuidade crescente na tentativa de impedir a concorrência desleal e as agressões à ética. A palavrinha sempre esquecida pipocou pelo documento tirado, ameaçando finalmente ativar as comissões de ética dos sindicatos para coibir, ao menos, esse tipo de abuso. Afinal, o artigo 13º do Código de Ética dos Jornalistas diz que todos devem ‘evitar’ se submeter ao poder econômico. Evitar, porém, parece ser um texto suficientemente vago para abranger releases, textos que só são produzidos para quem tem poder econômico suficiente para pagar por eles.
Leiam, portanto, com atenção, o documento que os AIs reunidos no Rio elaboraram. Na omissão está o perigo que aponto insistentemente nos dois últimos anos.
Carta do Rio de Janeiro
Os jornalistas brasileiros trabalhadores em assessoria de comunicação, reunidos em seu XV Encontro Nacional, realizado no Rio de Janeiro no período de 22 a 24 de setembro de 2005, vem de público manifestar seu engajamento na luta pela criação do Conselho Federal de Jornalistas, que tem à frente a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).
Entendemos que a criação do CFJ representará um significativo passo na defesa da nossa profissão, cuja regulamentação vem sendo constantemente atacada, seja pelos donos da mídia, seja pelos grupos políticos que temem perder o controle da informação.
Da mesma forma, defendemos a formação específica e exigimos mais qualidade nos cursos de graduação em Jornalismo. A exigência do diploma e a regulamentação da profissão se fazem necessárias para garantir à sociedade uma informação ética, isenta e responsável. É contra esse desejo da categoria que se insurgem muitos dos que combatem a criação do Conselho Federal de Jornalistas. Por essas razões, os jornalistas em assessoria de comunicação encontram-se engajados na Campanha Nacional pela Valorização da Profissão de Jornalista.
Falar em valorização da profissão de jornalistas significa, também, valorizar o segmento de jornalismo em assessoria de comunicação – que hoje já representa a maioria dos postos de trabalho no País. É público e notório que nossa atuação profissional em assessorias de imprensa – função que é privativa de jornalistas – garante a definição de políticas de comunicação e a conseqüente produção de informações de qualidade, além do desenvolvimento de um trabalho mais eficiente, seja com os veículos de comunicação, seja com o público interno ou mesmo com a sociedade.
Na busca pela constante capacitação profissional, defendemos que, entre outras melhorias, os cursos de Jornalismo tenham a cadeira de Assessoria de Comunicação como disciplina obrigatória, que agregue ferramentas e elementos relacionados com as novas tecnologias e que tenha interação com a prática do mercado.
A prática constante do exercício da profissão com ética é fator fundamental para o fortalecimento do segmento de Assessoria de Comunicação. Por isso mesmo, vamos dar início a uma ampla campanha pelo cumprimento de todos os preceitos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.
Não poderíamos ficar sem nos manifestar sobre a situação política brasileira. Os jornalistas em assessoria de comunicação exigem a apuração rigorosa de todas as denúncias de corrupção e a punição de todos os envolvidos. Assim como se manifestam pela instalação de um ambiente ético no mundo dos negócios e da política, historicamente comprometido pelos interesses privados em detrimento do interesse público.
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Jornalista