Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Debate paralelo e parcial na Folha

A Folha de S.Paulo postou no seu site, na terça-feira (19/4), um conjunto de justificativas para a publicação de fotografias chocantes ou de gosto duvidoso.


A iniciativa claramente é uma resposta às críticas que o jornal recebeu por haver exibido, no sábado (16/4), uma imagem do assassino que massacrou crianças no Rio de Janeiro, em pose de pistoleiro, com a arma apontada para a câmera.


Com um texto curto e um vídeo, o jornal coloca seu editor de fotografia e dois repórteres fotográficos para comentar a entrega do prêmio Pulitzer a fotógrafos do Washington Post, que retrataram o ultimo terremoto no Haiti, com imagens de cadáveres e feridos.


Algumas das opiniões expostas merecem pelo menos um pouco mais de contextualização.


‘É normal que haja um grande investimento em tragédias’, diz um deles. ‘Causa ressonância no público’.


Pode causar também repugnância, mas isso deve ser apenas efeito colateral.


Outra pérola: ‘O que tange essas decisões é a informação. Ocultar as mortes de haitianos é como querer ocultar a própria tragédia.’


Ou: ‘Chocar o leitor, para que ele faça uma reflexão sobre a tragédia’.


Primeira página


Faltou lembrar que alguns jornais americanos publicaram, sim, imagens fortes do terremoto no Haiti, mas havia um contexto no qual todas as imagens eram de destruição. Não há, nas fotos premiadas, a aparente intenção de chocar.


Também é conveniente lembrar que a imprensa não expôs cadáveres ou pedaços de corpos das vítimas do atentado de 11 de setembro de 2001 em Nova York.


Talvez, então, devêssemos colocar em debate as distinções que os jornalistas fazem entre vítimas e vítimas.


Uma tragédia no Haiti não tem o mesmo valor humanitário de uma tragédia em Nova York ou Londres?


Além disso, que tem tudo isso a ver com a irresponsável escolha da foto do assassino do Realengo para enfeitar a primeira página do jornal? [Colaborou Tatiane Klein]