Ao contrário do que afirmavam alguns comentaristas da imprensa e até insinuaram editorialistas, a polícia do Pará concluiu que os assassinatos dos ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, ocorridos no dia 24 de maio, foram motivados por sua militância contra a derrubada de árvores no assentamento onde viviam.
Segundo o Estado de S.Paulo, o crime foi encomendado por um fazendeiro que pretendia comprar lotes no assentamento para expandir sua criação de gado.
O caso, que teve grande repercussão durante os debates em torno do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados, vinha sendo minimizado por parte da imprensa, que o contabilizava como mais uma entre as muitas ocorrências em áreas conflagradas da Amazônia. Tido como mais um assassinato entre muitos, numa região onde a vida vale pouco, era mais um episódio para os arquivos dos jornais.
Mas a descoberta de um mandante, com interesse específico em eliminar aqueles que defendiam a floresta, remete a história de volta ao ponto central: a proposta de flexibilização das regras de defesa ambiental contribui para aumentar a sensação de impunidade dos desmatadores e estimula a violência.
Mancha de sangue
Não há como tratar de forma banal um caso como esse, porque os personagens, o lugar e as circunstâncias são o microcosmo onde ocorre tipicamente a grande resistência ao avanço da pecuária sobre a Floresta Amazônica. Ali se trava um dos principais combates pelo futuro do Brasil.
José Cláudio e Maria do Rosário lutavam para manter seus vizinhos de assentamento dedicados à coleta de castanhas e outros produtos, que garante a sobrevivência da comunidade e ajuda a preservar a floresta.
Entre suas atividades estava a resistência a invasões de madeireiras ilegais e ao assédio dos pecuaristas. Um deles, que negociava a compra de lotes para substituir a floresta por pastagens, é acusado de ser o mandante do duplo assassinato.
Não há como desvincular entre si os crimes que se sucederam na região logo após os tiros que mataram os dois ambientalistas. Há entre eles a ligação clara da perspectiva de que os criadores de gado e exploradores de madeira ficariam livres para desmatar assim que o Congresso aprovasse a proposta de mudanças no Código Florestal.
Não há como tirar a mancha desse sangue das mãos dos deputados que aprovaram o projeto na Câmara.