Pouco mais de vinte dias após estourar a crise na TV Sergipe, afiliada da Rede Globo, que culminou com paralisação dos trabalhadores e a não transmissão do telejornal local matutino na segunda-feira, 4/4, o diretor-presidente Paulo Siqueira, pivô da crise, foi avisado que deixa a emissora no sábado, 30/4. A dispensa foi confirmada após reunião dos acionistas, realizada no domingo (17/4), e já foi devidamente comunicada à direção-geral da Rede Globo. A saída de Siqueira era a reivindicação principal dos funcionários e dos sindicatos para que a crise na emissora fosse superada.
Com o anúncio de sua saída oficializado, alguns trabalhadores chegaram a soltar fogos na porta da emissora. Nos corredores, poucos escondiam que a permanência de Siqueira travava a volta à normalidade dos trabalhos na afiliada global. O mal-estar era geral. Com data certa para a sua demissão, funcionários e os sindicatos deram um crédito aos acionistas e vão esperar o capítulo final da queda de braço com o gestor, tido como de linha dura e pouco afeito a respeitar direitos adquiridos pelos trabalhadores em convenção coletiva.
A interrupção na transmissão do Bom Dia Sergipe, em protesto contra a gestão de Paulo Siqueira, foi um marco na história da TV Sergipe e mesmo da Rede Globo, tendo repercussão em todo o país. O fato gerou grande desgaste para os acionistas majoritários da afiliada sergipana, entre os quais figura o empresário e ex-deputado federal tucano Albano Franco. Jornalistas, radialistas e demais trabalhadores do Canal 4, juntamente com seus sindicatos, denunciavam há muito o constante assédio moral patrocinado pelo gestor, além de demissões em massa, corte de gratificações, não pagamento de diárias de viagem, imposição de banco de horas, perseguição a dirigentes sindicais e até interferência na programação, com o pedido de extinção de programas locais voltados para a cultura sergipana.
Volta dos direitos retirados
A permanência de Siqueira tornou-se insustentável. Ou era ele ou a emissora iria a pique porque muitos funcionários, principalmente os mais antigos e experientes, se recusavam a continuar sob sua gestão. Dos que não foram demitidos pelo plano de enxugamento gestado pelo diretor-presidente, alguns pediram demissão por não aguentarem a pressão e não aceitarem a retirada de direitos e gratificações.
A política de cortes de Siqueira revoltava trabalhadores e sindicalistas. Ao mesmo tempo em que mandava cortar diárias e horas extras de funcionários, autorizava reformas extravagantes, a custos altíssimos, em sua sala e na sala de reuniões da diretoria, além das regalias comuns em cargos de alto escalão.
Desde meados do ano passado que os sindicatos dos jornalistas e dos radialistas do estado vinham alertando para a política de perseguição e massacre aos trabalhadores da TV Sergipe implementada por Paulo Siqueira. Os avisos foram sempre ignorados pelos acionistas da empresa, que alegavam que a matriz tinha dado ‘carta branca’ ao gestor para tocar as reformas na afiliada sergipana. Precisou um ato mais contundente para que trabalhadores e sindicalistas fossem ouvidos. Após a paralisação e o ato do dia 4 de abril, quando foi transmitido o Bom Dia Pernambuco aos sergipanos, com repercussão nacional a partir das redes sociais, foram abertas as negociações para restabelecer a ordem e retomar a rotina no Canal 4.
Em audiência de intermediação realizada na Superintendência Regional do Trabalho em Sergipe, no dia 12/4, sindicatos e emissora fecharam acordo com relação ao retorno de todos os direitos dos trabalhadores retirados por ordem de Siqueira. O acordo abriu o caminho para a pacificação da relação dos trabalhadores com a empresa. Faltava a saída do diretor-presidente. Os acionistas da empresa pediram de 30 a 45 dias para a sua substituição. Nem precisou tanto.
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Jornalista, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de Sergipe e secretário de Comunicação da CUT/SE