Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Greve de notícias

Acabo de ler na internet o seguinte http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/economia/mat/2011/06/10/termina-greve-na-volks-do-parana-924659246.asp. Este fato remete a outro importante, noticiado anteriormente http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/05/30/greve-na-volks-do-parana-da-prejuizo-de-r-583-milhoes-em-27-dias.jhtm.

Sou do tempo em que greve em indústria automobilística acarretava crise de governo e era intensamente coberta pelos telejornais. As imagens das paralisações na Scania, Ford e VW na segunda metade da década de 1970 ainda estão frescas na minha memória. Estes fatos, que desde então têm sido intensamente debatidos http://www.youtube.com/watch?v=DhEMSrL2hwA, podem ser consideradas os atestados de nascimento do novo sindicalismo que daria origem ao PT, à CUT e ao fenômeno Lula.

Há quase uma década o PT chegou ao poder. Deste então, ocorreu um esfriamento do movimento sindical, cuja gênese ainda não foi muito bem estudada. Costumo creditar este esfriamento a dois fatores: uma quantidade imensa de líderes sindicais terem sido levados a ocupar postos eletivos e de confiança no Estado; as relações entre a CUT e o PT parecem ter acarretado uma espécie de moratória sindical informal após a posse de Lula (o tão sonhado e discutido pacto social foi de fato celebrado por aqueles que o recusavam na década de 1980/1990, durante os governos Sarney, Collor, Itamar e FHC).

A omissão parece imperdoável

Nos últimos tempos, as únicas greves noticiadas na TV são as realizadas por servidores públicos (policiais, professores, bombeiros etc…). As greves de condutores de ônibus, trens e metrô também são notícia porque produzem um imenso mal-estar nas cidades afetadas ao dificultar a circulação das pessoas e, por consequência, afetarem a vida de trabalhadores e empregadores. As outras greves não têm sido consideradas notícia televisiva, apesar de serem incomuns.

Nesse sentido, causa-me estranhamento os telejornais não terem se interessado por esta greve na Volks do Paraná. Primeiro porque, sendo um fato incomum, se ajusta ao conceito de notícia. Como bem salientou Leão Serva no seu livro Jornalismo e Desinformação, o “… jornalismo tem como matéria-prima o fato novo, desconhecido, que pode causar surpresa. E que por isso é confuso, incompreensível, caótico…” Segundo, porque esta greve na Volks ocorre durante um governo que, de certa maneira, pode ser considerado tributário de greves semelhantes. Terceiro, porque esta foi uma greve longa e produziu grande estrago econômico, a sugerir questionamentos do tipo “uma nova onda sindical e histórica está nascendo?” ou “o pacto social informal celebrado durante o governo Lula foi desfeito com a posse de Dilma?” ou ainda “o sindicalismo está renascendo porque o pacto social firmado sob Lula causou prejuízos aos trabalhadores?” Estes são questionamentos relevantes pois, tal como a greve e seu fim foram noticiados (links no início) “… as notícias não deixam ver a história. Ao contrário, o sistema das notícias encobre a lógica profunda que está por trás da cortina de novidade…”, conforme Leão Serva (obra citada).

De qualquer maneira, o fato é que não consigo entender por que a imprensa televisiva não se interessou pela greve. A omissão me parece imperdoável. É verdade que a greve ocorreu durante o curso da crise palaciana envolvendo um ministro que já perdeu o cargo. Mas também é verdade que a realidade brasileira não precisava ter sido tão mutilada. Afinal, se os telejornais insistentemente discutiram os rumos ou descaminhos do governo Dilma por causa de um ministro, não vejo por que não pudessem fazer isto por causa da referida greve.