Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Reflexões sobre jornalismo ambiental

O dia do meio ambiente é comemorado em todo o planeta no dia 5 de junho. A data foi escolhida pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 1972, na abertura da Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano. Celebrada desde então, ela oferece uma boa oportunidade para refletir sobre o jornalismo ambiental. Relaciono, abaixo, alguns aspectos que considero essenciais para nortear qualquer cobertura da imprensa sobre o assunto.

1. Espaço adequado – A sociedade contemporânea apresenta novas demandas e, por isso, precisa de um novo jornalismo. As pessoas querem viver em um planeta melhor e mais limpo. Querem progresso e prosperidade, mas exigem que isso se faça de maneira sustentável. E buscam informações claras e precisas sobre como fazê-lo. Para dar conta de tal tarefa, os órgãos de comunicação devem compor equipe própria para dedicar-se exclusivamente ao meio ambiente. Isso não é excentricidade nem luxo, muito menos supérfluo. A criação de uma editoria específica para o assunto, dotada de quadros e recursos, seria o ideal. O tema conquistou uma relevância e uma centralidade que a mídia ainda não aceitou, talvez porque conduza a uma reflexão sobre estilos de vida, hábitos de consumo e modelos de produção da vida material, algo que incomoda e ameaça. Afinal, não é fácil conciliar os interesses de certos anunciantes e algumas pautas ambientais.

2. Cobertura permanente – As questões ambientais são complexas demais para merecerem atenção parcial, secundária, fragmentada ou episódica. O impacto que são capazes de gerar na vida de todos nós é impressionante, e é produzido todo santo dia, a cada hora, a cada minuto. Por isso, o meio ambiente exige um olhar que ultrapasse as sensações e os choques causados pelos desastres naturais que, de vez em quando, o mundo testemunha. O meio ambiente deve ser coberto de modo diário, ininterrupto, para que possa integrar-se, de vez, ao rol das preocupações cotidianas das pessoas.

3. Cobertura transversal – A editoria de Meio Ambiente deve agir de forma sempre integrada às demais. Não pode isolar-se, atuar com gueto. O tema ambiental atravessa todos os campos da vida em sociedade. Supõe uma análise profunda do modelo de desenvolvimento econômico e do modo de organização e funcionamento das cidades. Requer uma compreensão de como é feita a legislação a respeito e de como são tomadas as decisões políticas a ele relacionadas. Pede, ainda, uma leitura arguta de como o jogo de forças internacional é decisivo para o tratamento das questões ecológicas.

4. Formação profissional – É preciso investir no preparo intelectual dos comunicadores dispostos a dedicar-se ao jornalismo ambiental. O tema, muitas vezes, é técnico demais, de difícil compreensão, e exige profissionais que encarem o desafio de traduzi-lo para o grande público. Algumas universidades já tomaram iniciativas nesse sentido e começam a oferecer cursos na área. As empresas de comunicação também poderiam sensibilizar-se a respeito, dando a seus funcionários as condições adequadas para aperfeiçoar-se e, sobretudo, tempo para apurar e publicar matérias consistentes.

5. Coragem – Este aspecto da questão talvez seja o mais valioso. Sem ele, os anteriores dificilmente têm como viabilizar-se. É impossível cobrir a relação degradante que o ser humano tem hoje com a natureza sem promover as denúncias necessárias. Sem indignar-se. É impossível reportar os crimes praticados contra o meio ambiente de modo neutro ou imparcial. E isso supõe elevar-se contra um estado de coisas estabelecido há muito tempo, o que quase nunca é fácil.