Estando no leito de morte, perguntaram a Martim Francisco Ribeiro de Andrada III se queria um padre para confessar-se. Recusou: “Jamais pratiquei uma ação feia. Nunca roubei, nunca matei, nunca caluniei e nunca li o Correio Paulistano.”
É possível que ele – neto do primeiro Martim Francisco, que, com seus irmãos José Bonifácio e Antônio Carlos, foi um dos artífices da Independência – nunca houvesse roubado, matado ou sequer caluniado. Mas é improvável que, como político, advogado, jornalista e historiador, nunca tivesse lido o Correio Paulistano. Conhecido por seu bom humor, Martim Francisco, um político liberal, deve ter querido manifestar sua opinião a respeito de um jornal que era o porta-voz da oligarquia paulista do Partido Republicano Paulista (PRP). Um jornal em que, ao longo de sua história, a sobrevivência tinha prioridade sobre a coerência.
Em pouco mais de um século de existência, o Correio Paulistano enfrentou uma infindável série de percalços. Durante longo período, problemas econômicos o levaram a circular apenas uma ou duas vezes por semana; chegou a parar por falta de papel; em outra ocasião, o jornal não foi impresso quando, por vingança das autoridades, o pessoal das oficinas foi mandado como “voluntário” à Guerra do Paraguai; folha de ideias liberais e contrário à escravidão, alugou sua opinião a liberais e conservadores, foi republicano na monarquia, para depois virar escravagista e monarquista e, de novo abolicionista e republicano; viveu durante muito tempo à sombra do poder, como porta-voz da oligarquia paulista. Foi o único jornal que deu apoio à Semana de Arte Moderna em 1922.
O Constitucional, o antecessor
Foi, também, palco de um dos mais insólitos episódios da imprensa brasileira. O redator-chefe escreveu artigos violentos contra o diretor-presidente da empresa, por divergências políticas e, quando este foi pedir explicações, começou um tiroteio na redação, do qual resultaram dois feridos. Teve um fim triste: antes de morrer, já tinha sido esquecido.
O Correio Paulistano foi fundado em São Paulo, em 26 de junho de 1854, pelo tenente-coronel Joaquim Roberto de Azevedo Marques. Circulava diariamente à tarde, com 4 páginas e formato de 37 x 28 centímetros; a assinatura custava 8 mil réis por ano na capital e 10 mil no interior. Era impresso na Typographia Imparcial, cujos proprietários eram Joaquim Roberto e seu irmão, num “prelo de pau movido à mão”, com capacidade alegada para 25 exemplares por hora. Essa informação sobre a velocidade de impressão, embora conste de várias fontes, parece duvidosa, por ser excessivamente baixa, muito inferior à dos prelos da época.
Não foi o primeiro Correio Paulistano publicado em São Paulo. Em 1831, tinha sido lançada uma folha com esse nome, propriedade do comerciante José Gomes Segurado, sogro e tio de Azevedo Marques, e redigida por Luís de Toledo Piza. De pequeno formato, 21 x 30 cm, impresso na tipografia do Farol Paulistano, circulava duas vezes por semana e funcionava como um órgão semioficial. Era liberal e defendia o governo da província e o do império contra os ataques dos “caramurus” e de seu órgão, O Observador Constitucional, que queriam o retorno de d. Pedro ao Brasil. Circulou durante apenas um ano.
O Correio Paulistano não foi, também, o primeiro jornal diário de São Paulo. Um ano antes, em 1853, fora fundado O Constitucional, com preço de 120 réis – muito elevado, em comparação com os jornais da Corte, que custavam 80 réis, e assinatura semestral de 5 mil réis. Há poucas informações sobre ele, mas é certo que saíram poucos números e tinha parado de circular quando o Correio Paulistano foi lançado.
Sérios problemas econômicos
Joaquim Roberto de Azevedo Marques, diretor e proprietário do jornal e da tipografia, era sobrinho de Antonio Mariano de Azevedo Marques, o Mestrinho, que tinha escrito à mão o jornal O Paulista, o primeiro jornal publicado na província. Joaquim Roberto começou a trabalhar como aprendiz de tipógrafo aos 12 anos de idade, foi gerente e depois proprietário da Typografia Imparcial e de O Ypiranga, jornal do Partido Liberal. Fundou também a Gazeta de Campinas, cedendo a metade desta empresa a seu genro, Francisco Quirino dos Santos, e O Commercio, em Santos.
O propósito do Correio era oferecer “uma tribuna livre, aberta a todas as aspirações e a todas as queixas, sem restrições na esfera do pensamento religioso ou partidário”. Numa das primeiras edições, informou que a administração do jornal não interferia na redação. No mesmo ano em que foi fundado o Correio, começava a política de Conciliação no Império, em que se tentou fazer um governo formado pelos dois partidos e em que as disputas doutrinárias ficaram relegadas a um segundo plano. Numa época em que a imprensa era eminentemente política, essa falta de polêmicas e debates afetou a leitura dos jornais.
Seu primeiro redator foi Pedro Taques de Almeida Alvim, de tradicional família paulista, irreverente e boêmio, que foi durante muito tempo correspondente na província do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro. Ele era conservador e fez um jornal sem vinculações com nenhum partido, sóbrio, com atas e notícias, mas poucos artigos opinativos. Sem muitos atrativos, o jornal imprimia apenas 450 exemplares por dia, mas suficientes para os escassos leitores.
Essa fase durou pouco tempo. Pedro Taques deixou o Correio no ano seguinte, talvez por sentir-se pouco à vontade num ambiente editorial tão sisudo e cinzento, e o jornal enfrentou sérios problemas econômicos. Na verdade, o Correio tinha despertado pouco interesse entre a população. É possível que São Paulo não comportasse a presença de um jornal diário; disso seria prova a experiência fracassada de O Constitucional. A população era pequena, com reduzido número de pessoas que soubessem ler e escrever e número ainda menor de pessoas dispostas a comprar um jornal.
Jornal era conhecido por “Botica”
Além disso, o custo da impressão em São Paulo era demasiado alto e a publicidade, praticamente inexistente. Azevedo Marques visitava de porta em porta os comerciantes da cidade, oferecendo publicar anúncios de graça e ainda assim poucos deles aceitaram. O formato do jornal aumentou de tamanho nas edições em que publicava alguns atos do governo, mas essa fonte secou rapidamente e foi necessário reduzir as dimensões da página para um tamanho inferior ao original.
A etapa do Correio como jornal independente foi muito curta. Azevedo Marques era liberal e, sempre que podia, defendia suas ideias. Mas quando a situação econômica apertava, alugava a opinião do jornal, que, para sobreviver, mudou repetidamente de orientação política e ficou à mercê das subvenções dos partidos e dos governos. Também trocou de dono ocasionalmente, mas, sempre que podia, Azevedo Marques o comprava de volta. Esses contínuos zigue-zagues descaracterizaram sua personalidade. Passou a ser visto como órgão de algum partido ou como uma folha oficial. Houve alguns intervalos em que tentou recuperar a independência prometida no seu lançamento, mas foram de curta duração.
Em 1855, para diminuir os custos, o jornal passou a circular apenas duas vezes por semana. No ano seguinte, aumentou o formato. Três anos mais tarde, Azevedo Marques fez um acordo com o Partido Conservador e passou a publicar, mediante pagamento, os atos oficiais do governo de São Paulo. Recebia 10 mil contos de réis ao ano, pagos em prestações mensais e um adiantamento a ser reembolsado em cinco anos. O jornal parou de circular durante uma semana e voltou como diário. Em 1860, aumentou o formato para 56 x 37 cm.
Em 1863, a tipografia do Correio trocou o velho e cansado prelo de madeira, que ainda estampava 450 jornais por dia, por uma impressora Alauzet tipo A, a primeiro da imprensa paulista, também movida a braço, mas que lhe permitia tirar 700 cópias. Também foi aumentado o número e variedade de tipos para compor. Em 1869, o equipamento já era acionado a vapor, tornando-se objeto de visita e de atração para os habitantes da pacata cidade, que visitavam a oficina para ver como funcionava a impressora. Era tal a curiosidade que as pessoas se apertavam e acotovelavam, dando lugar a “alguns esmagamentos e cenas de pugilato”. O jornal, que já imprimia 850 exemplares, era conhecido pelo apelido de “Botica”.
“Voluntários de pau e corda”
Um artigo do Correio, criticando a polícia por não intervir quando o jornal O Cabrião, de Américo de Campos, e a residência de um redator foram atacados por acadêmicos, publicado na seção livre, levou o presidente da província, o alagoano José Tavares Bastos, que governou São Paulo durante um ano, a intimar por escrito o proprietário do jornal, Azevedo Marques. Conforme escreve Affonso A. de Freitas, naquela época, o Correio era um “órgão imparcial, porém devedor de deferências ao governo pelo contrato que este mantinha para a publicação dos atos oficiais”.
Tavares Bastos, primo do chefe de polícia, ameaçou rescindir o contrato para a publicação dos atos da Assembleia Legislativa, “se continuasse a agasalhar na Seção Livre quaisquer artigos ou reclamações contra a polícia”. Azevedo Marques, que até então tinha apoiado o presidente, considerou-se ofendido e alegou que não tinha compromissos partidários. Foi apoiado pelo Diário de S. Paulo, um jornal conservador. Tavares Bastos rescindiu o contrato com o Correio e o passou para O Ypiranga, jornal fundado com essa finalidade. Para aumentar a punição, ele mandou recrutar os empregados do jornal para a Guarda Nacional e os mandou à Guerra do Paraguai. Por falta de mão de obra para fazer a composição, o Correio deixou de circular alguns dias ou era publicado com apenas duas páginas, mas fez uma persistente campanha, “todos os dias e em todos os tons”, contra o “presidente prepotente”. O genro de Azevedo Marques foi demitido da promotoria da Justiça em Santos e foi transferido para lá, também como punição, o diretor do Diário de S. Paulo.
A Assembleia Legislativa de Alagoas comemorou em 2009 os 170 anos do nascimento de seu patrono, Tavares Bastos. Mas é improvável que ele seja homenageado em São Paulo, onde não deixou boa lembrança como presidente da província no curto período em que ocupou o cargo, entre 1866 e 1867. O Cabrião disse dele que tinha “ânimo de rinoceronte em corpo de sardinha”. Para recrutar voluntários, que não apareciam, para a Guerra do Paraguai, ele mandou convocar a população para uma solenidade no quartel da Guarda Nacional. Quando algumas centenas de pessoas tinham entrado, mandou fechar as portas, escolheu os homens que lhe pareciam mais aptos, em número de 400, e os recrutou como “voluntários de pau e corda”, na expressão da época. No quartel, ficaram dois dias sem comer e houve tentativas de revolta. A população ficou indignada e o episódio teve repercussão nacional, levando as pessoas a dizer que os “voluntários da pátria” para a guerra com o Paraguai nem sempre o eram por vontade própria.
Oferta de 26 contos de réis
O Correio continuou fazendo contorções ideológicas. Com a troca do presidente da província, o jornal tornou-se mais moderado e liberal. Mas apoiou o Partido Conservador quando este ocupou novamente o governo da província. Depois do fim da política de Conciliação, um grupo de liberais adotou uma posição radical, com crescentes matizes abolicionistas, e fundou em 1870 o Partido Republicano. Azevedo Marques esteve na Convenção de Itu, em 1873, e participou da formação do partido. Numa nova guinada, o Correio publicou vários artigos de Américo de Campos, defendendo a implantação da República. Pararam quando ele, em 1874, deixa o jornal para participar do lançamento de A Província de S. Paulo.
Antes de lançar A Província, em janeiro de 1875, os republicanos tentaram comprar o Correio Paulistano. Manuel Ferraz de Campos Salles (futuro presidente da República) e Francisco Rangel Pestana ficaram encarregados da negociação. Os primeiros contatos pareciam positivos, segundo se depreende de uma carta de Campos Salles a Américo Braziliense:
“Américo
Acabo de ter uma conferência muito alta com o Joaquim Roberto [Azevedo Marques] sobre a nossa empresa e ele manifesta-se bem disposto a entrar em negócios. Vá para São Paulo e depois me envia a resposta, creio que faremos negócio. Parece-me que por 30 contos, o Correio será nosso e então (…) que corra o marfim…”
Mas depois as relações se deterioraram. Rangel Pestana mandou a Azevedo Marques uma carta que não escondia um tom ameaçador. Informava sobre a intenção do grupo de lançar um jornal e que a empresa, em regime de comandita, já tinha levantado quase todo o capital, e o consultou se não queria vender. Disse que os companheiros tinham achado “muito exagerado o preço do seu estabelecimento e jornal” e o aconselhou “a ser cordato” para “prevenirmos desgostos futuros”, uma vez que o jornal iria aparecer de uma ou outra forma, e insinuou que a empresa tinha dinheiro para gastar durante dois anos, tempo necessário para ganhar circulação e obter lucros. Alertava que “São Paulo não comportava mais de um jornal republicano”. Concluiu: “Assim, se o amigo quiser diga-me por quanto está disposto a vender o Correio Paulistano e o estabelecimento para eu poder me haver a respeito com os comanditários” e anexou uma minuta do contrato de compra e venda, oferecendo 26 contos de réis pelo negócio, sem responsabilizar-se pelas dívidas da empresa. Era uma proposta pior que os 30 contos mencionados por Campos Salles.
Ora monarquista, ora republicano
Azevedo Marques respondeu, magoado, dizendo que o Correio lhe deixava um lucro de seis contos de réis por ano e que não podia vender se não por um preço que lhe desse aquele rendimento. “E conquanto alguém possa enxergar em alguns tópicos de sua carta uma verdadeira ameaça, eu morrerei em meu posto, ficando à grande e rica comandita a glória de haver morto a empresa do Correio Paulistano.”
Campos Salles escreveu a Américo Brasiliense: “O Pestana teve ontem carta do José Roberto dizendo que não vende o Correio, e está disposto a esperar para ser esmagado sob o peso da empresa colossal.” E, vendo na resposta um desafio, acrescentou: “Convida-nos para uma partida: cumpre ganhá-la ainda que nos custe o diabo.”
A “empresa colossal” não conseguiu comprar o jornal, mas levou o seu redator principal, Américo de Campos, e o gerente de muitos anos do Correio e da Gazeta de Campinas, José Maria Lisboa, para lançar A Província de S. Paulo.
Certamente, o lucro alegado de seis contos por ano parece exagerado. Se Azevedo Marques não quis vender o Correio aos republicanos, talvez por uma questão de orgulho, o vendeu, ainda em 1874, a Leôncio de Carvalho, que lhe deu uma orientação monarquista. Cinco meses mais tarde, porém, houve outra virada. Azevedo Marques voltou a ser o proprietário e o jornal voltou a defender a República e a abolição.
Divorciado da opinião pública
A nova concorrência afetou severamente a posição do Correio. A Província disse, em junho de 1876, a respeito de seu rival: “O ilustre patriarca da imprensa paulistana, arguciosa Penélope, [era] avezada em tecer e desfazer a interminável teia de promessas políticas”, mas surgiu “outro órgão liberal, e com ele a necessidade [para o Correio] de reconquistar a todo transe, a primazia de órgão do partido (…) e declara-se pronto a cumprir todas as determinações da diretoria liberal.” Dois meses depois, A Província volta a atacar seu concorrente. Diz que, excetuando a correspondência da corte e os “A pedidos”, não vê nesse jornal mais do que transcrições, notícias tiradas de outros jornais e comunicados eleitorais.
O Correio disse que era perseguido, por sua orientação política. “Sabemos que a luta pela República e a Abolição nos traz prejuízos monetários e perseguições. Fazendeiros nos devolvem assinaturas; negociantes e industriais nos negam anúncios; o governo nos ameaça e hostiliza.” O diretor do Correio, que era funcionário da Secretaria da Fazenda, foi convocado pelo presidente da província, que o informou que o chefe de seu partido tinha pedido sua demissão e disse estar certo de que o jornal mudaria de orientação. Azevedo Marques respondeu que, como funcionário, cumpria seus deveres burocráticos e que, como cidadão brasileiro, era republicano e abolicionista. O governo poderia demiti-lo, “mas não pode destruir o meu ideal democrático e mudar a feição do Correio Paulistano”.
Quando a situação do Correio piorou, Azevedo Marques teve que fazer um novo acordo em dezembro de 1877 com o Partido Conservador e alugou a opinião do jornal. Não foi vendido, apesar da insistência dos conservadores em comprar, mas o Correio se comprometeu a ser o seu porta-voz e a defender os seus princípios; entre eles, o regime de escravidão. “Declaro que por contrato que nesta data fiz com vários cavalheiros pertencentes ao Partido Conservador, cedi aos mesmos as colunas editoriais do Correio Paulistano, continuando, porém, com a propriedade e gerência do jornal”, escreveu Azevedo Marques. Teve que vender a alma para conservar o corpo. Ou, como explicou: “Eu não vendi a palavra, a pena ou a inteligência. (…) Aceitei a posição que me ofereceram alguns cavalheiros do Partido Conservador, que era a de fazer voltar o Correio Paulistano à sua primitiva fase – a de empresa comercial.” Mas seu jornal passou a combater alguns dos princípios que antes considerava sagrados. O Correio ficou divorciado da opinião pública e o acordo não trouxe a prosperidade esperada.
Em busca de recursos
Para reforçar seu parque gráfico, o Correio comprou em 1878 o equipamento do Diário de S. Paulo, que tinha fechado. Fora fundado em 1865 por Pedro Taques, o primeiro redator do Correio, Ulhoa Cintra Jr. e Henrique Schroeder, proprietário da Typographia Alemã, que imprimia o jornal. Tinha o equipamento mais moderno da Província, movido a vapor e capaz de imprimir jornais de grande formato; foi o primeiro jornal a publicar gravuras e desenhos.
O jornal, depois de ter apoiado os liberais, que ocupavam o governo da província e de ser o seu porta-voz, passou a combatê-los persistentemente. Em represália, Azevedo Marques perdeu seu emprego de secretário da Academia de Direito. Em 1880, o formato do jornal foi reduzido pela metade. Também diminuiu o preço da assinatura. Dois anos mais tarde, nova mudança. Desta vez, o controle acionário foi comprado por Antônio da Silva Prado, presidente da União Conservadora. Finalmente, os conservadores eram donos do Correio, mas Azevedo Marques continuou sendo o administrador. Entra a subvenção do governo para publicar os atos oficiais e o jornal se recupera economicamente. São feitos investimentos. A velha impressora Marinoni foi substituída por um prelo mais moderno e melhora a qualidade dos colaboradores e do noticiário. O jornal A Redempção comentou em maio de 1887: “Sabemos que um jornal do formato do Correio Paulistano não pode sustentar-se com assinaturas porque os políticos entendem que devem ter jornal de graça e os negociantes que os jornais políticos não são próprios para anúncios. (…) Logo o Correio precisa de não poucos recursos que são todos obtidos pelo Dr. Antônio Prado.” Estevam Leão Bourroul assume a redação.
Vira-casaca
A tiragem, que era de 1,8 mil exemplares em 1886, sobe para 2.500 exemplares diários, em comparação com os 3.300 de A Província e os 3.000 do Diário Mercantil. Quatro anos mais tarde, alegava imprimir 8,5 mil exemplares.
Ante a pressão da sociedade, e sentindo a mudança dos tempos, no fim de 1887, o Correio, que vinha defendendo a escravidão, tornou-se de novo abolicionista, pouco antes do decreto da emancipação, em maio do ano seguinte. Com a chegada da República, o jornal considerou que a mudança do regime não tinha volta e aderiu. Como escreveu Lilia Moritz Schwarzc em Retrato em Branco e Negro, “o Correio, como `num passe de mágica´, passa de monarquista conservador e escravocrata, até 1887, a abolicionista e republicano em 1889, ganhando louvores e principalmente postos destacados na nova configuração política que se montava.(…) Dessa maneira, como bom camaleão, na edição de 17 de novembro de 1889, o Correio hasteava novamente a bandeira da República, convertendo-se aos poucos, por mais estranho que pareça, em órgão oficial do Partido Republicano, agora partido único no poder”.
Por desentendimento com os novos proprietários, em dezembro de 1889 Azevedo Marques foi demitido por Antônio Prado do jornal que fundara 35 anos antes. Escreveu ao público uma carta aberta, dizendo que saía “por divergência com o atual gerente”, e que não era sem profundo desgosto que se via desligado do Correio Paulistano. Morreu em 1893. O jornal ainda viveu mais 60 anos.