“Esses aí que, contemplando o mar,/ só têm palavras para o enjoo!” (Louis Pauwells)
Em comentário anterior, falamos da notória dicotomia existente entre o modo de pensar do cidadão comum e o de alguns analistas, comentaristas e cientistas políticos renomados, que se valem de privilegiados espaços na grande mídia para sovadas observações derrotistas a respeito dos acontecimentos que rolam na cena brasileira. A esses últimos, pelas reações que comumente adotam, parece pouco importar se os episódios analisados se revestem, por inteiro ou parcialmente, de algum mérito. Os registros dos episódios são quase sempre negativos. Escorados, ao que tudo indica, naquele manjado preconceito elitista de que o brasileiro passa por ser um povo menos aquinhoado de dons. Reflexo daquela historinha imbecil, de conotação colonialista, que fala da existência ao sul do Equador de um vastíssimo território, dadivosamente contemplado (como nenhum outro) no projeto da Criação, mas povoado por um tipo de gente desafeiçoada ao trabalho, irremediavelmente desligada das grandes empreitadas que conduzem ao progresso.
Não adianta nada, em seu invejável esforço no dia-a-dia, a sociedade brasileira documentar, altiva, ruidosa e festivamente, com espírito de independência e apego à liberdade, sensatez, inteligência e criatividade, sua capacidade de construção humana. Os plantonistas do desalento continuarão, imperturbáveis, a trilhar caminhos suspeitosos, entoando seus cânticos pessimistas, contrariando o sentimento das ruas.
Privatizar a Petrobrás?
Não é difícil levantar amostras dessa discordância fundamental. Peguemos como exemplo, colocando-os sob o foco das atenções, acontecimentos recentes ligados à bem-sucedida história da Petrobrás. Como é mesmo que costumam ser, de parte a parte, as reações suscitadas por tais acontecimentos? No que toca à opinião pública, ocorrerão compreensíveis celebrações ao redor das realizações vitoriosas da empresa. Haverá louvações ao célere avanço que vem efetuando com vistas a se tornar a maior de todas no setor energético. Aos feitos tecnológicos atingidos com a exploração das jazidas em águas profundas. Às fabulosas descobertas do pré-sal. Essa mesma opinião pública não vacilará, ainda, em manifestar seu desagrado em relação a coisas que carecem ser alteradas nas atividades da estatal. Por exemplo, o indigesto corporativismo burocrático, que implica custos exorbitantes; a política de preços dominante no abastecimento. No entendimento popular, essa política poderia ser perfeitamente alterada com o barateamento dos produtos em benefício dos consumidores. Bastaria que a Petrobrás resolvesse exercitar seu poder de regulação de mercado, reforçando os vínculos sociais que tem com a nação.
Com relação à Petrobrás, seguindo o raciocínio, o que se recolhe de boa parte da mídia, habitualmente, são opiniões radicalmente inversas. Além de carregarem pesado nos aspectos passíveis de críticas da estatal, tais comentaristas comportam-se como se não vissem significado algum nos feitos por ela acumulados. Quando o país, como resultado de um trabalho altamente elogiável de muitos anos, chegou à almejada autossuficiência na produção de petróleo, as palavras dedicadas ao fato por parte dessa “turma do contra” não estiveram, definitivamente, à altura do marco histórico conquistado. A exploração das reservas do pré-sal sob a coordenação (óbvia) da Petrobrás é vista com severas restrições nesses setores. A impressão que deixam não poucos comentaristas é de que, em seu estrábico modo de enxergar o Brasil, o melhor seria traçar para a Petrobrás o mesmo destino dado à Vale do Rio Doce. Transferi-la, porteira fechada, para a iniciativa privada, “bem mais competente, com toda certeza”…
Nossa economia e a do Haiti
Nosso país viu o PIB crescer, ano passado, em 7.5%. O ritmo da expansão econômica nos últimos sete anos alcançou média de 5%. Vários setores produtivos, com destaque para o imobiliário, o agronegócio e o automotivo, crescem numa cadencia costuma-se dizer chinesa. As vendas de carros aumentaram, de 2003 pra cá, quase 150%, num índice médio de crescimento de quase 14%. A italiana FIAT tem hoje no Brasil seu melhor mercado. Isso está prestes a se repetir com outras montadoras, como a GM e a Volks. A explosão na área da construção civil talvez só encontre paralelo na China. E por aí vai…
Nada disso, nada das conquistas do passado, do presente e das já antevistas consegue, no entanto, sensibilizar os céticos. Arrefecer a disposição autofágica dos profetas do derrotismo. Uma turma, pra fazer uso de expressão muito de seu próprio agrado pessoal, que vive perdendo o bonde da história. Enquanto o povo nas ruas acha que as coisas vão razoavelmente bem e poderiam ir, percalços à parte, um pouco melhor, eles consideram que tudo vai de mal a pior inexoravelmente. Raciocinam como aquele candidato a presidente (felizmente derrotado) que, nos idos de 2006, não se enrubescia nem um tiquinho em comparar nossa economia com a do Haiti. Deus nos proteja desse tipo de gente, como lembra Louis Pauwells, que ao contemplar o mar só encontra palavras para o enjoo.