Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A repórter condenada

‘A condenação essa semana do repórter da tevê árabe Al Jazira, Taysir Alony, lança um precedente perigoso no que diz respeito à liberdade de imprensa no mundo pós-11/9. É a primeira vez, na nova configuração global, que um jornalista pára atrás das grades por terrorismo. O sírio de cidadania espanhola, famoso por entrevistar o líder da rede terrorista Al Qaeda, Osama bin Laden, cinco semanas após os ataques a Nova York e Washington em 2001, recebeu na segunda-feira, do juiz Baltasar Garzon, a pena de sete anos de prisão por colaborar com extremistas islâmicos envolvidos na elaboração dos atentados em troca de favores profissionais.


O episódio traz à tona uma renovada discussão sobre a relação do jornalista com suas fontes. Alony, de 50 anos e pai de cinco filhos espanhóis, diz ter usado o contato privilegiado com membros do ex-governo talibã no Afeganistão de forma legítima, como ‘fonte de informação’ para seu trabalho.



Em depoimento no tribunal espanhol que o condenou, afirmou que aproveitava a aproximação para ‘obter dados sobre os talibãs, a Al Qaeda e outras organizações’. O crime, nesse caso, trata-se de uma suposta amizade com terroristas que o ajudou a conseguir o furo de sua carreira. A entrevista com Bin Laden pontua toda a sentença.


– Alony foi condenado por suas atividades profissionais. A promotoria chegou a dizer que ele parecia estar falando com o seu ‘chefe’ durante a conversa. É inacreditável – afirmou ao JB a assessora de relações internacionais da Al Jazira, Lamis Andoni. – Esse é um caso político sustentado pela guerra ao terror, no qual jornalistas islâmicos se tornam suspeitos por fazer o que outros profissionais fazem – completou.


– A sentença constitui um atentado contra a liberdade de imprensa. O juiz deixa claro que o motivo da acusação é a entrevista, quando esta ocupa a maior parte do interrogatório – observou, de Madri, o advogado de Alony, Jose Luis Galan. A façanha do repórter é atribuída pela Corte, no entanto, à ‘colaboração’ à Al Qaeda. Alony foi acusado de hospedar em sua casa, em Granada (Espanha), anos antes dos atentados, alguns dos muçulmanos condenados no julgamento que interrogou islâmicos supostamente terroristas na Europa, logo após o 11/9. Além disso, o transporte de US$ 4 mil para uma família síria, segundo a Justiça, o coloca em situação delicada. Para a promotoria, a quantia seria um pagamento pelo encontro com o homem mais procurado do mundo ou, ainda, um meio de fazer chegar o dinheiro à organização.


O islâmico, por sua vez, alega tratar-se apenas de um favor que fazia a conhecidos, por sinal sem provas de que eram membros da rede. ‘Taysir os ajudou não por favores que todo bom muçulmano deve dispensar a seus semelhantes, mas para obter informações exclusivas sobre a Al Qaeda’, diz um trecho da sentença. ‘A verdade da informação não pode ser obtida a qualquer preço. (…) Cometeu o delito de colaboração com organização terrorista pelo qual terá de responder’, continua o texto.


– Essa não é uma descrição precisa do que Alony fez – contestou Lamis. – A questão é que a partir das novas legislações antiterror qualquer um é culpado até que se prove o contrário. – O que está em jogo é a liberdade de expressão. É impossível negar a relação da sentença com o trabalho do réu como jornalista – disse Pascale Bonnamour, coordenadora do escritório europeu da ONG Repórteres Sem Fronteiras. O repórter já havia sido condenado em setembro de 2003, considerado, por Garzon, um ‘membro eminente’ da Al Qaeda. Com problemas cardíacos, foi libertado um mês depois. Cumpria prisão domiciliar até a atual sentença, da qual seu advogado irá recorrer, se preciso, na Corte Européia de Direitos Humanos.’